Marcos Pinto 11/08/2015Uma boa aventuraAo ler a imensa sinopse do Vango – Entre o Céu e a Terra, imaginei que fosse gostar da escrita de Timothée de Fombelle e o enredo criado por ele, visto que eu tenho uma grande afeição pela literatura francesa. Contudo, não imaginava que eu fosse me surpreender tanto. Vango, sem dúvidas, entrou na lista daquelas surpresas literárias que levaremos para sempre.
A minha grande descoberta em relação ao livro foi no sentido de seu gênero literário. Como ele foi catalogado como um infantojuvenil, não esperava uma obra tão profunda. Contudo, o que encontrei foi um enredo muito elaborado, com diversas referências históricas, algumas críticas político-sociais e personagens para lá de instigantes. Além disso, fica claro que o autor possui uma extensa bagagem tanto literária quanto de pesquisa, o que enriquece demais o livro.
Não obstante, a escrita do autor me desarmou completamente. Apesar de ser acessível e fluída, possui uma beleza própria, uma aura que só encontramos nas palavras de quem escreve com propriedade. Fombelle consegue embalar o leitor sem dificuldade, seja em suas descrições, nas aventuras ou nas muitas passagens repletas de suspense que tornam a obra muito mais interessante.
“Ela não era mais a melancólica gata molhada que se vira antes. Era uma leoa avançando e esbarrando em tudo pelo caminho” (p. 16).
Aliás, Vango, o protagonista da obra, é um enigma encarnado. Sem passado, sem nacionalidade, sem uma língua natural – ao contrário, ele é poliglota –, toda sua existência está envolta em mistério. Mais enigmático ainda se torna quando determinados fatos começam a acontecer por sua volta e ele se vê imerso em um uma situação quase tão inexplicável quanto si mesmo.
Além de Vango, ainda é possível encontrar uma gama de personagens incríveis e também misteriosos. Naquela categoria, destaco Hugo Eckner. Ele é um homem forte e de ideias perigosas para a sua época – ele é contra o regime nazista, por exemplo – que ganha a simpatia do leitor sem qualquer dificuldade. Dentre os que fazem do mistério a sua morada, destaco a Mademoiselle. Também sem passado, assim como Vango, ela é uma mulher definitivamente à frente do seu tempo. Além disso, é muito corajosa.
Para completar o pacote da obra, que já estava muito bom, a Melhoramentos mostrou o porquê é uma das editoras mais respeitadas do país. A capa é muito bonita e expressa bem o conteúdo da obra. A diagramação é um espetáculo! Temos folhas amareladas, uma fonte grande, com espaçamento ótimo e uma cor avermelhada. Não apenas, o livro ainda conta com mapas, diagramas, fotos, índice explicativo dos personagens históricos inseridos na obra... Não há do que reclamar. Para fechar, o livro ainda foi muito bem revisado e traduzido.
“Hugo Ekener caiu na gargalhada. Gostava dos imbecis. Eles o haviam divertido por muito tempo” (p. 78).
Apesar de ser um livro juvenil, Vango é uma daquelas obras que indico para crianças, adolescentes, jovens, adultos, idosos... Não importa a idade, o livro é fonte de divertimento, suspense e até conhecimento. Leitura mais do que indicada!
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