Amanda 15/06/2015Vango - Entre o céu e a terra“Esse encontro havia mudado muita coisa em sua vida. A partir daquele dia, o mundo lhe parecera muito mais bonito e um pouco mais complicado.” Pág. 33
Essa foi a primeira vez que uma editora veio até mim e me pediu para que eu resenhasse um livro deles. Devo dizer que eu me senti MUITO lisonjeada, nunca achei que algo do tipo ia acontecer. Devo dizer também que fiquei um pouco com o pé atrás. Apesar da premissa da história parecer interessante, o livro está na categoria Juvenil da editora – uma que eu venho tentando passar longe ultimamente.
Mas fico feliz em dizer que o livro não tem nada de infantil, pelo o contrário.
De cara, no primeiro capítulo, vemos o nosso jovem Vango, com quase 20 anos, prestes a ser ordenhado padre na igreja Notre Dame em Paris em 1934. Se não fosse a polícia que o vinha prender, ele teria realizado este sonho. Com medo e sem entender o que havia feito, o seu primeiro instinto é o que ele vem confiando a vida toda: sobreviver. E, assim, escalando as paredes da grande catedral da Cidade da Luz, nosso protagonista foge, sem nem saber que o crime pelo qual acusado é: assassinar o padre Jean, o seu mentor e confessor. E o pior: não é apenas a polícia que está atrás dele.
O livro já começa a 100 km/h, sem deixar o leitor conhecer e digerir todos os personagens e o que anda acontecendo, e talvez isso fez com que eu desse uma enrolada para realmente começar a lê-lo. Mas uma noite eu sentei com ele e devorei as últimas 300 páginas diretas.
Vango é cheio de habilidades, entre elas cozinhar, escalar e fugir. Ele tem um passado misterioso. Na verdade, tão misterioso que nem ele o conhece. Tudo começa quando ele, aos 3 anos, e uma mulher que diz ser sua babá são encontrados na praia de uma ilha perto da costa da Itália. A mulher não lembra de onde eles veem ou o que aconteceu, mas fala diversas línguas enquanto os moradores tentam comunicar-se com ela semi acordada. Assim, Vango e a babá, que todos chamam de Mademoiselle, resolvem ficar na ilha com a medida que o tempo passa, já que não tem para onde ir.
“Depois de um longo tempo cruzando os braços e segurando os ombros, ela suspirou de novo. Provavelmente, aquilo era o que os livros chamavam de solidão.” Pág 161
Este livro é um thriller histórico, que se passa no período entre guerras. Vemos sempre o passado e o presente, tanto de Vango quanto os de outros personagens. Temos personagens fictícios e personagens reais, como Hitler, Stalin e Hugo Eckener – piloto do Graf Zeppelin, o primeiro dirigível a dar a volta ao mundo. Eckener é uma pessoa que existiu de verdade e que tem um importante papel na vida de Vango.
Vemos como foi a infância de Vango na ilha, onde ele vivia praticamente isolado com sua babá. Amante da natureza e de escaladas, ele acaba descobrindo um segredo no meio de suas explorações. Um segredo que o fará sair da ilha e ver o mundo, e que fará com que ele se ausente por quase cinco anos – voltando apenas após o fatídico dia em que ele quase virou padre.
O personagem é misterioso, a cada página você fica querendo saber da onde ele é, por que há pessoas estranhas atrás dele e, o mais importante: quem diabos matou o padre Jean?
E isso, para mim, foi o ponto fraco deste livro. Tudo começa com a morte do padre, mas ao decorrer da história parece que o autor ESQUECEU do assassinato. Milhares de coisas acontecem no presente enquanto Vango foge da polícia francesa e das pessoas que estão atrás dele, e há sempre os capítulos que contam o passado de Vango e dos personagens ao seu redor. A história é uma duologia, então espero sinceramente que o autor lembre e volte a esse assunto na continuação.
Fora esse pequeno deslize, eu fui completamente tomada de surpresa com esse livro. A narração é ótima e eu adoro histórias que mesclam contexto histórico e aventura. A premissa de um personagem que não sabe quem ele mesmo é, é espetacular também. Enquanto lemos queremos saber quem o Vango realmente é tanto quanto ele próprio. No final do livro há uma pista, mas você fica ‘Caralho, será que ele é.... mesmo? Tipo COMO ASSIM’. Ai fica tão absurdo ele ser essa pessoa, que eu não sei se realmente é ou não. CADÊ A CONTINUAÇÃO.
“Haviam-lhe ensinado a oferecer a face esquerda se lhe batessem na direita. Mas não fora em sua face que tinham batido. Dois corações inocentes haviam sido crivados de balas.” Pág. 279
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