spoiler visualizarmonalu_ 22/05/2023
Resenha pra facul então tbm to salvando aqui ?
Richard C. Francis, jornalista científico e doutor em neurobiologia e comportamento pela Stony Brook University, compilou seus conhecimentos na área para nos oferecer a obra Epigenética: Como a ciência está revolucionando o que sabemos sobre hereditariedade, em que descreve o que é a epigenética, como ela nos influencia e quais são suas implicações.
O livro inicia com uma introdução da genética e da biologia molecular, permitindo ter uma noção dos conceitos tratados no texto. O autor utiliza um vocabulário simplificado tornando a leitura mais fluida e acessível para o público.
A seguir, o capítulo ?O efeito avó?, menciona os efeitos tardios da Segunda Guerra Mundial e faz uma analogia entre a desnutrição e o desenvolvimento fetal. Ele explica que muitas vítimas do holocausto tiveram consequências inesperadas por terem experenciado racionamento de comida. Registros médicos mostraram que o peso e a saúde dos recém nascidos variava de acordo com o período de fome que a mãe passava, assim, se a mãe passava fome durante o segundo e terceiro trimestre, por exemplo, os jovens apresentaram um aumento significativo nos níveis de obesidade. Esses fatores também estavam associados aos transtornos mentais como esquizofrenia e depressão, além de transtorno de personalidade antissocial em homens, assim como outros problemas de saúde.
O próximo capítulo é ?Diretores, atores e contrarregras?, o qual faz uma menção aos pesquisadores ganhadores do Prêmio Nobel: Thomas Hunt Morgan, geneticista que, através de estudos feitos em moscas, descobriu as mutações cromossômicas, e Gregor Mendel, biólogo que, através de estudos feitos em ervilhas, descreveu que as características genéticas são adquiridas por meio da hereditariedade.
Em ?Os esteroides e seus efeitos?, Francis comenta sobre o uso de esteróides anabólicos entre jogadores e seus efeitos no corpo. Poucas pessoas têm conhecimento do princípio de ação desses suplementos, mas a testosterona presente neles não aumenta somente os músculos. Quando há um aumento superficial desse hormônio o nosso organismo para de produzi-lo naturalmente e esse excesso pode gerar estresse, falta de líbido e outros sintomas.
Para o autor, a reação ao estresse, é vital para o funcionamento do corpo humano, já que seria um processo adaptativo pelo qual o nosso organismo passa para ajudar na manutenção do equilíbrio fisiológico diante de obstáculos do dia-a-dia. Essa reação é iniciada no cérebro e, através do eixo hipotálamo-hipófise, os hormônios liberadores de corticotrofina (CRH) liberam essas corticotrofinas (CT) que, por sua vez, estimulam a glândula suprarrenal a liberar o cortisol, que é um hormônio glicocorticoide causador do estresse.
Nossa alimentação também está relacionada à epigenética, influenciando no estresse e também nos níveis de obesidade. Como observado em ?O efeito avó?, a obesidade é uma das consequências do baixo peso do recém nascido ao nascer, o que ocorre devido a uma condição chamada ?fenótipo econômico?. Essa condição parte da hipótese de que o desenvolvimento fetal é sensível ao ambiente nutricional.
No capítulo ?Kentucky Fried Chicken em Bangkok?, o autor afirma que os padrões de metilação variam com os hábitos alimentares, ou seja, os genes que codificam os DNAs metiltransferases (Dnmt), enzimas relacionadas à disponibilidade de nutrientes no útero materno, são os responsáveis pela regulação epigenética.
Em ?Sobre brotos, árvores e frutos?, Francis comenta sobre sua visita ao zoológico de Toronto e faz observações sobre a criação dos filhotes presentes no ambiente. Aparentemente, o local, a idade e o criador são fundamentais para o comportamento dos animais. Isso também se aplica a nós, seres humanos, e como esses fatores podem definir as nossas interações sociais e nosso jeito de ser. Estudos feitos por Michael Meaney apontam que o estresse é um ponto chave da criação de um indivíduo, ou seja, uma mãe estressada cria uma criança negligenciada.
?A herança de Wright? correlaciona as cores aos genes, por exemplo, os camundongos amarelos não fazem metilação de genes. Uma curiosidade neste capítulo, é a menção da proteína agouti, um neuropeptídeo antagonista dos receptores de melanocortina. Assim como as demais características passadas de mãe para filho, essa capacidade de alteração também é um caso de herança epigenética.
Já o capítulo ?O X da questão? envolve a infância de Richard e suas preferências por atividades físicas a jogos de tabuleiros. Ele explica que ao se divertir com os amigos correndo e quebrar uma perna, ele descobriu um novo hobbie, um jogo chamado Caroms. Essa brincadeira lhe permitiu observar as habilidades motoras e visuais de seus companheiros de jogo.
Retomando aos genes hereditários, existem algumas doenças que são herdadas e algumas delas são especificamente herdadas pelo pai ou pela mãe. Diversas dessas síndromes podem afetar nosso desenvolvimento cognitivo, causar obesidade e outros sintomas. Um exemplo citado no texto é a síndrome de Prader-Willi (PWS), causada por uma deleção no cromossomo 15 herdado pelo pai. Uma curiosidade é que caso a mesma deleção seja herdada pela mãe, o resultado é completamente diferente: síndrome de Angelman (AS).
Quem já assistiu ao filme Crepúsculo conhece bem o termo ?imprinting?, mas o que seria isso na vida real? O imprinting gênico ocorre durante a gametogênese, ou seja, um dos dois cromossomos parentais é induzido pela expressão gênica a passar pela metilação de DNA. O imprinting está diretamente ligado às síndromes PWS e AS.
O capítulo final é ?Reze pelo diabo?, em que se discute a respeito de um tumor nomeado doença do tumor facial do diabo-da-tasmânia, ou DFTD, e é uma doença considerada feia e de crescimento rápido podendo ser passada de um animal para outro. Ainda bem que não existe câncer humano capaz de nos infectar por meio de contato ou então certamente seríamos erradicados. No caso dos animais, segundo Francis, somente sobreviveram aqueles com maior variedade genética.
O livro finaliza com algumas ideias que o autor teve ao longo de sua escrita e, de forma geral, Richard C. Francis faz um excelente trabalho em explicar como a epigenética está mudando a maneira como pensamos free sobre a hereditariedade e as doenças genéticas.