Ferferferfer 30/09/2021
Uma vontade de beatnikar...
Para entender Roberto Piva, é necessário abrir-se, escancarar-se e unir-se ao seu objetivo poético. Não adianta, a visão crítica vem depois de se fundir ao mundo delirante e do gozo fervilhante que o poeta nos oferece. Tenho a certeza disso pois, me debruço (sim, no presente) sobre esse livro desde 2019 para dar continuidade à minha dissertação de mestrado e ainda não acredito que mastiguei e o engoli em toda a sua potencialidade. É regra: para ler a poesia de Roberto Piva, você precisa se despir.
Quem topar com esse livro, aviso: é preciso de coragem. As associações são construídas em um hermetismo clássico, as formas líricas são diversas e a linguagem, apesar de se aproximar do coloquial, ela vai te iludir, porque o conteúdo sempre se esconde no fundo de todos os vocábulos empregados cuidadosamente em cada verso. A verborragia é patente e característica imprescindível para entender sua poética, sabendo, também, dos duplos sentidos e claro, o duplo cinza da cidade morada nossa, não é, Piva?
E a cidade, cidade que me atravessa desde que nasci, que se confunde com a minha ideologia e é, também, uma ideia particular. Essa cidade é própria de Roberto Piva. Sua construção se dá pela sensação narcotizante, pelo álcool, por outros meios que envolvam e impulsionem o escapismo do eu. As mais variadas associações clássicas, de Dante a Mário de Andrade, criam uma cidade em que o espaço é lugar de desordem e de excitação, uma orgia literária, um rasgar desenfreado.
Além de se despir, é preciso aceitá-lo. Aceitação é fórmula básica para entender, sentir, vociferar nas avenidas, nos becos e claro, de repousar na companhia beatnikadora de Roberto Piva.