sollnogueira 04/01/2012
O Presidente Negro - Paradigmas X Paralelos
“O Presidente Negro ou o Choque das Raças” obra de Monteiro Lobato, relata um romance e ou ficção científica referente aos Estados Unidos envolvendo as principais questões afirmativas, entre elas, feminista, racial, segregação e aculturação, nas quais permeiam conflitos que se agravaram durante a eleição presidencial de 2228 e estes, tornam-se a justificativa da obra.
Na obra supracitada, os personagens são mantidos na década de 20 do século passado, onde se encontra três personagens do “tempo presente”; o Professor Benson, sua filha Miss Jane e Ayrton Lobo, no qual, a obra é narrada. Ayrton Lobo funcionário da firma paulista Sá, Pato & Cia, desejava um carro da Ford, de acordo com essa narrativa, fica explícito a apologia pelo capitalismo. No decorrer da trama o Professor Benson cria um equipamento denominado “porviroscópio”, cujo termo, faz uma alusão a um aparelho que propõe uma compilação de dados mundiais futuristas e surrealistas, articulados com a atualidade, no caso, a vitória de Barack Obama.
Apesar de ser uma obra tendenciosa, o autor não esconde suas analogias racistas, principalmente, quando é mencionado o “Eugenismo” (Conjunto dos métodos que visam melhorar o patrimônio genético de grupos humanos; teoria que preconiza a sua aplicação).
Neste sentido, é permissível fazer um paralelo com outras obras de Lobato que envolvem idéias eugenistas, dentre elas, O Jeca Tatu, que foi segregado e estigmatizado como doente, sujo, preguiçoso e alcoólatra, onde o autor deixa claro, que para Jeca Tatu ser incluso na sociedade, deveria seguir os padrões cristalizados, destacando também a obra “O Sítio do Pica-Pau Amarelo”, cuja, é totalmente eugenista, começando pela Tia Anastácia que é uma “escrava”, na qual foi “agraciada” pela a Carta de Alforria, tal análise é permissível, pelos trabalhos e o termo que ela usa para designar-se a patroa “Sinhá”, seguindo essa linha teórica pode-se também citar o personagem Tio Barnabé da mesma obra infantil, Lobato coloca o personagem negro, onde vive sozinho em uma cabana no meio da mata, contudo percebe-se a exclusão do negro na sociedade.
Entretanto, seguindo os parâmetros ideológicos dos escritos “O Presidente Negro”, a resistência racial nos mostra um termo pejorativo da obra de exclusão e limitação, apresentando as discrepâncias de raça, cor e gênero; paradoxalmente, é perceptível que esses três conceitos funcionam como um espiral, cujo, procuramos quebrar paradigmas, porém a sociedade elitista com força majoritária bloqueia dificultando a igualdade ou a aceitação racial, ou seja, ao mesmo tempo em que apresentam políticas públicas para sanar tais problemas, impede as idealizações dessa classe oprimida e justamente por Lobato se tratar de uma obra “evoluída” a questão racial deveria ser igualitária a raça ariana e não apresentar uma competição entre as raças.
Ao analisar o tema feminismo, proposto por Lobato em sua vigente obra percebe-se também uma “guerra” entre os sexos, visando mostrar qual é o melhor, o feminino ou o masculino e qual deles devem prevalecer diante da sociedade americana, sendo que, a disputa presidencial fica entre um canditado negro e uma mulher branca e em sua ingênua obra com teorias racistas e juízo de valores torna-se claro, a afirmação pelo embranquecimento da população dos Estados Unidos, propondo que os negros perdessem sua identidade, começando pelos alisamentos dos cabelos, ressaltando que no período da publicação da obra já havia vários movimentos sociais negros com a finalidade de disponibilizar mecanismos atendendo as particularidades de cada um e dentre tais movimentos, já apresentavam políticas públicas sobre a luta pela educação, e o autor infelizmente deixa a desejar nesse parâmetro.
Contrariando a idéia de um mundo informatizado que Lobato “previu”, colocaria que essa globalização informatizada “futurista”, não era apenas idéias dele, pois no momento, vários cientistas já tinham deixado um legado de estudos sobre a “Era” tecnológica para serem desenvolvidos, no entanto, percebe-se que o autor reproduziu conhecimentos que já estavam por vir, agregando os méritos para si.
Para tanto é importante ressalvar que o autor não enfatizou aspectos que comungassem com uma aceitação de raça, gênero, mestiçagem e também sobre as discussões de políticas públicas valorativas a esse grupo, ele coloca as ações afirmativas como uma fantasia e esquecendo-se talvez de escrever a história do seu país (Brasil), para valorizar uma sociedade elitista estadunidense. Neste sentido, diante da obra, fica a dicotomia dos fatos que os negros, desde a colonização são incapazes de serem intelectuais ou desenvolverem idéias políticas, sociais e econômicas, ficando claro, que o caminho do negro é peculiar, ou seja, estão prontos para desenvolverem conhecimentos a partir da sua própria história de lutas, sofrimentos, conquistas, triunfos e derrotas, pois, na mediocridade da sociedade elitista será difícil um “verídico” conto de um grupo negro escrito por um branco, sendo enfatizado todo o mérito conseguido por essa classe exclusa.
(TRABALHO APRESENTADO AO MESTRE AUGUSTO SALLES, COMO FORMA DE AVALIAÇÃO/RESENHA CRÍTICA “O PRESIDENTE NEGRO.”)
Disciplina: O Pensamento Negro Contemporâneo/Unb