Submissão

Submissão Michel Houellebecq




Resenhas - Submissão


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Lucas Ed. 11/09/2015

Uma completa falta de vergonha de marketing
É impressionante como se faz de qualquer coisa para se vender algo hoje em dia. A premissa com o qual se vende "Submissão", e as comparações que fazem a ele ("uma sátira comparável a Huxley e Orwell") só podem ser entendidas como a mais pura falta de vergonha.

Veja bem: "Submissão" é vendido (pela comparação e pelas sinopses) como uma espécie de "ficção científica social", em que Houellebecq faria um exercício de imaginação no plano das Ciências Sociais - "o que seria da França de um partido muçulmano chegasse, democraticamente, ao poder?". O que se espera, a exemplo do que Huxley em "Admirável Mundo Novo" e Orwell em "1984", é que Houellebecq parta dessa premissa fantástica para discutir as relações contemporâneas, sociais e políticas.
Ao contrário, "Submissão" é um livro chatíssimo sobre um professor universitário antissocial misógino em crise de meia-idade. Ah, num pano de fundo muito distante e superficial, a chegada de um partido muçulmano à presidência da França. É constrangedor o momento em que o autor descreve uma relação sexual do protagonista, em detalhes mas sem qualquer serventia ao resto da trama. É um recurso rasteiro que demonstra a real intenção da publicação: chamar atenção pela polêmica (estampada na capa "O livro mais polêmico do ano!"). "Submissão" causar, não fazer refletir. Nisso é tão relevante quanto a biografia de Andressa Urach, a ex-vice-miss-bumbum.
Tudo na trama é tão superficial que não gera qualquer efeito prático que não seja exagerado: Ben Abbes, o político eleito, parece ser o conciliador universal, que não enfrenta protestos de nenhuma espécie, nem represálias violentas, e que dispõe a seu favor de um capital infinito para comprar colaboradores e silêncios. Toda a população francesa não-islâmica aparentemente entrou em sono profundo com a eleição da Fraternidade Muçulmana, porque tudo jaz na paz (e conformismo) universais, porque Houellebecq simplesmente não é capaz de dirigir duas linhas que sejam ao assunto - a eleição de um governo islâmico tornou a França automaticamente um país totalmente islâmico. Tenha a santa paciência...

Enfim, uma obra pobre, que tem o grande mérito de, em sua primeira metade, conseguir entreter e produzir uma ou outra frase mais contundente para ser impressa ou compartilhada nas redes sociais. Na segunda metade, fica evidente que tudo que o autor quis foi nos enganar, o entretenimento torna-se enfado e, em seguida, irritação.
Rafo 21/09/2015minha estante
Concordo que os marketeiros foram picaretas - e isso não me surpreende nem um pouco. No entanto, não podemos acusar de oportunismo o autor, visto que ele não escreveu o livro pensando em toda a tragédia que aconteceria...

Falemos primeiro dos méritos: realmente gostei da prosa do Houllebecq. Conseguiu escrever sobre um ser humano desprezível - e pra mim é meio claro desde o início que nosso "herói" é alguém absolutamente desprezível, um acadêmico limitado e pedante, um ser humano frustrado - e mesmo assim fez com que eu me interessasse por seu desfecho. Palmas para o autor.

Além disso, tem o mérito de fazer alguns questionamentos interessantes, principalmente sobre a dificuldade de se abordar o radicalismo islâmico (de uma pequena parcela, sim, mas existente) com um olhar multicultural. Realmente é um desafio para as esquerdas modernas fazerem com que o islã se abra para uma prática mais igualitária sem para isso lançar mão das armas do imperialismo. Porém, as respostas que o autor oferece para tal dúvida...

Uma velha máxima do cinema diz que a Ficção Científica fala mais do presente em que ela é produzida do que do futuro que ela quer retratar, e isso é bastante claro em "Submissão". Porém, esse futuro - que na sinopse parece distópico - é apresentado com alguma simpatia pelo narrador. Breve digressão - Há alguns anos, um amigo, que viveu um tempo na França, me falou sobre a preferência dos franceses pelas brasileiras: "As brasileiras são mais dóceis", me recordo "a francesa é cheia de vontades, de opiniões. A brasileira, principalmente as mais simples [homem-legenda: pobres], se submetem ao homem francês, e eles adoram isso". Segundo o autor, esse seria o grande trunfo do Islã para a conquista da França: o re-estabelecimento do Patriarcado, com toda força. Sinceramente, nessa lógica, tenho que concordar com o Houllebecq (mas não como ele gostaria): Qualquer civilização que sucumba dessa maneira é porque já estava morta faz tempo. Teriam os franceses se imbecilizado ao ponto de abandonar as conquistas sociais dos últimos séculos em troca de esposas de 15 anos?

O pano de fundo ( que infelizmente é vendido como plot principal) é risível. O contexto apresentado para a subida do partido islâmico é totalmente inverossímil. Pior, como disse o Lucas, ele é incapaz de problematizar a eleição do líder muçulmano, "convertendo" a França por força das eleições.

Enfim, não é um livro ruim de ler. Gostei de ler sobre o patético narrador com sua vida miserável. Mas nem de longe merece o barulho que foi feito. Pra mim, nota 5,5...


lucas.chiovetto 20/10/2015minha estante
Realmente, o livro não cumpre o que promete! Não acrescento mais nada nessa resenha! Muito boa!


Nanda Lisbôa 17/01/2016minha estante
Ainda estou na página 145, mas só pelo que já li do livro concordo muito com a sua resenha!


Paulo.Nunes 30/08/2016minha estante
Lucas, sua crítica é consistente e perspicaz, e confesso que a ideia sequer havia me ocorrido. Eu mesmo, ao discutir o livro com amigos, referi-me a ele como uma ficção política, o que já não faria mais agora. Concordo contigo, o livro é uma longa e, talvez para muitos, enfadonha crônica sobre a vida vazia de um intelectual introvertido que têm extremas dificuldades em estabelecer relações humanas, com apenas um pano de fundo político mostrando um futuro distópico. Concordo também que as reviravoltas políticas que acontecem na trama, apesar de temperadas com um falso suspense pré-apocalíptico (discussões políticas sobre a iminência de uma guerra civil que, dadas enfim as condições propícias, sequer se esboça; uma fuga de Paris num dia de eleições aparentemente catastrófico que no fim das contas se transforma num agradável passeio turístico, etc.), tanto falham em cumprir os desenvolvimentos dramáticos prometidos como mostram um desenrolar ridiculamente inverossímil, com uma universidade de grande tradição sendo convertida completamente ao islamismo em apenas um mês, uma máquina social secular e laica cedendo de seu modo de vida e liberdade duramente conquistados como quem passivamente entrega uma casa que estava há várias gerações da mesma família a um novo e sedutor dono por uma bagatela.

A obra só tem méritos à medida que a descrição do autor sobre o seu modo de vida pode ser aplicado ao povo francês e europeu como um todo. A apatia e incapacidade de fazer florecer os relacionamentos humanos, a degradação da família e da vontade de viver, o fracasso nas relações amorosas, no entanto, parecem ser um mal do autor, projetado com detalhes bastante convincentes no protagonista. Vendo a aparência grotesca com a qual Houellebecq aparece para as câmeras, imagino que tenha retratado a si mesmo no professor Loiseleur, de cabelo longo, desgrenhado e sujo, que inacreditavelmente (sob a perspectiva do protagonista) arranja um casamento por ter-se convertido ao islamismo, no fim do livro. Não há dúvida de que o tal futuro distópico seria o ideal para a personagem principal, onde uma conversão da Europa inteira ao islamismo pudesse se dar sem maiores convulsões sociais, sem mudanças sensíveis no modo de vida, e com um renovado interesse em sua própria pessoa, que mereceria um lugar social de destaque e até três mulheres jovens, escolhidas a dedo para ele. Subitamente, um sujeito misantropo e incapaz de desenvolver uma conexão afetiva com alguém ganha uma relevância social e esposas submissas, jovens e belas, que o serviriam como criadas domésticas e sexuais. Sua vida de solteiro desorganizado agora ganharia uma dignidade e seu salário seria no mínimo triplicado, e tudo isso graças ao islamismo, que, desesperado para ter nomes de peso na universidade que lutou para converter, oferecia o paraíso para ter de volta professores renomados.

A pergunta que fica é a seguinte: estaria a França mergulhada numa espécie de intelectualismo sem vida, afastada de qualquer conexão humana com o sagrado ou o natural e fadada à depressão social e ao subsequente suicídio, ou tudo isso não passa de uma projeção coletiva da realidade psíquica do próprio autor?


Maragato 20/09/2016minha estante
Perfeito, Lucas. Importante frisar a questão de ser misógino, além de tudo.


Matheus 27/02/2017minha estante
Aprenda que o mundo não é obrigado a ser feminista, globalista e pós-moderno como você. Sim, pois foi com base nestas premissas que você criticou o livro. Desonestidade intelectual no seu máximo.


Hildeberto 15/04/2017minha estante
Concordo que a estratégia de marketing pode ter gerado alguma frustração. Mas o livro tem muita qualidade sim. Muito das críticas ao autor são feitas ao seu estilo, talvez por uma falta de tentativa em compreende-lo.


trcosta84 12/10/2021minha estante
Concordo integralmente com vc. Até mesmo como aborda o islã é de forma pobre? livro é chato pra caramba?


Joana L. N Rocha 23/07/2022minha estante
Eu até ia ler esse livro, mas depois dessa resenha, decidi ler algo melhor kkkk


Lucas Corrêa 27/12/2022minha estante
Melhor resenha possível, foi cirúrgico. Marketing horroroso, o livro é um porre e uma ode ao reacionarismo mais tacanho. Difícil é ver tantas resenhas aqui com "autor mais incrível do nossol tempo" e "declínio da sociedade ocidental". Meu Deus!


Wellington Tejo 04/02/2023minha estante
Hehehe
Se tem uma galerinha "do bem" reclamando deve ser bom. Vou colocar no topo da lista.


Lucas Ed. 04/02/2023minha estante
Deve ter algum estudo sobre baixa autoestima, falta de amor materno e necessidade de ser do contra pra se senti cool. Certeza.


Fabiana.Amorim 24/02/2023minha estante
AHAHAHAHHAHA! Já estava achando muito aleatória as oassagens sexuais e a misoginia travestidas de charme para quem quiser engolir.


Nikolas.Macedo 25/11/2023minha estante
As críticas são superficiais, o protagonista é um porre. Mistura bem o estereótipo do francês blasé com uma abordagem sobre mulheres realmente sem pé nem cabeça. Enfim, acho que foi um livro que "oportunamente" foi lançado ali pela volta da crise dos atentados do Estado Islâmico e que teve muito investimento em marketing mesmo.


Brunofds 29/02/2024minha estante
Trucidou!




joaoggur 20/02/2024

Nossas submissões cotidianas.
?Persona non grata? para muitos, ?enfant terrible? para outros, Michel Houellebecq é uma das figuras mais controversas e polêmicas da literatura contemporânea; podemos dizer que seu estilo de texto passa longe das normas morais do politicamente correto, sendo um prato cheio para a tenebrosa cultura do cancelamento.

Acompanhar François (um frustrado professor universitário, especialista em Joris-Karl Huysmans) & sua vida sexual (também frustrada) é apenas um pretexto para imaginarmos como seria uma França governada pela Irmandade Muçulmana, ganhando a eleição (e, neste ínterim, vermos como a burocracia da vida acadêmica seria impactada por esta mudança).

A leitura oscila em vários pontos (estaria mentindo se dissesse que as grandes descrições das obras de Huysmans me agradaram), mas entendo a dispersão do protagonista-narrador (em relação ao ponto central do livro); sendo uma grande sátira (um ponto em que muitas resenhas parecem fechar os olhos), creio que é incorreto pensar que o livro é um delírio de um conspirador, o relato de alguém imerso em ideologia. É o exato oposto; temos aqui uma ferrenha crítica a alienação do homem ocidental, que pouco se interessa pelos dilemas sociais do tempo presente (vide o momento em que, diante de revoluções sociais, o protagonista não para de pensar em uma antiga amante, Myriam).

A polêmica, posta inteiramente sobre a questão islâmica, tem certa hipérbole; o autor não escancara as mudanças impostas por um regime islâmico, e sim as usa como pretexto para criticar a submissão humana, que bastando um salário alto e uma pluralidade de esposas, abaixa a cabeça para aqueles que estão no poder.

Recomendo.
Alê | @alexandrejjr 20/02/2024minha estante
Texto excelente! Parabéns!!


lulu 20/02/2024minha estante
vc faria ótimas reviews no letterboxd, eu pelo menos com minhas humildes críticas e opiniões curtiria todas!!


joaoggur 20/02/2024minha estante
Obrigado, @Ale. Li algumas de suas resenhas, - esplêndidas.


joaoggur 20/02/2024minha estante
@lulu, - sou um cinéfilo incurável. A sétima arte é um ópio, no bom sentido da palavra. Tenho Letterboxd, mas nunca resenhei. Um dia, irei.


lulu 21/02/2024minha estante
me passa seu letterboxd pra eu te seguir la!! o meu é lu_hadd


joaoggur 21/02/2024minha estante
te segui lá




Ladyce 29/07/2015

Um alerta a tempo?
Há livros que se lê pelo prazer da prosa, da trama, do suspense. “Submissão” de Michel Houellebecq não é nenhum desses. É um livro que força uma reflexão sobre o momento atual da Europa, da França, especificamente. É uma fantasia tão plausível, tão próxima da realidade, que o leitor se vê forçado a considerar possibilidades improváveis como quase certas, e o impensável torna-se realidade. É chocante. O romance, passado por volta de 2022, ou seja meros 7 anos no futuro, de maneira racional, considera a possibilidade da eleição de um governo muçulmano na França.

Talvez o que seja mais desconcertante nessa narrativa é a lógica. Por exemplo, quando Houellebecq menciona as forças armadas francesas necessitando de milhares de novos recrutas a cada ano e simultaneamente considera que a população tradicional francesa cada vez tem menos filhos, enquanto a muçulmana tem muitos, a lógica nos leva a admitir que em futuro próximo as forças armadas francesas serão em sua maioria muçulmanas. Esse é um aspecto da realidade francesa que nunca havia cruzado os meus pensamentos.

Isso é complexo? Estranho? Desagradável? É. Por que? Porque teocracias como as defendidas pelos regimes islâmicos estão diametralmente opostas à herança cultural do oeste. Temos que considerar se é esse é o futuro que se quer ter. É essa a guinada que queremos dar no nosso presente? O que ganhamos com ela? Como mulher criada no ocidente, com valores de autoconfiança, de respeito próprio, com dedicação a uma profissão, que vota, dirige, se veste como quer, que se acha no direito de escolher o parceiro de vida, não acredito que venha a me adaptar às limitações de qualquer uma das variações das teocracias islâmicas. E não estou exagerando. Basta lermos relatos que aparecem diariamente nos jornais, livros como Infiel de Ayaan Hirsi Ali, entre outros para saber que o conflito cultural seria ou será gigantesco.

“Submissão” não é uma obra para ser julgada pelos seus méritos literários. Em geral, romances que defendem uma causa têm a tendência a serem enjoados, porque explicações são necessárias e rapidamente diálogos se tornam solilóquios didáticos. Ainda que Houellebecq flerte com esse pecado, sua habilidade em fazer paralelos entre o escritor Huysmans e a própria vida do professor universitário que narra o romance esvazia um tanto o dogmatismo inerente desse tipo de criação. Mas há passagens bastante aborrecidas, principalmente para leitores não familiarizados com a obra do escritor, ensaísta, crítico de arte francês Joris-Karl Huysmans.

Apesar dessa reserva recomendo a leitura como uma obra que ajuda a compreender parte do dilema europeu deste século. Que haverá um embate entre essas crenças e filosofias de vida parece inevitável. Resta saber quando.
Marta Skoober 30/07/2015minha estante
Muito boa a resenha, Ladyce!


Ladyce 31/07/2015minha estante
Obrigada, Marta.


Jossi 12/09/2015minha estante
Já está acontecendo! A invasão - não vou usar aqui de nenhum eufemismo - islâmica está acontecendo. Parece (Deus queira) que os franceses estão abrindo os olhos para esse perigo. Não vou dourar a pílula e digo com todas as letras: Sou contra esse 'lindo e politicamente correto' multiculturalismo. Tudo se pode contra os cristãos (ou ocidentais), contra os radicais islâmicos... aff, é um mimimi de dar nos nervos! Vou ler o livro e espero que as mulheres ocidentais 'se toquem', se alertem e digam um sonoro 'não' ao islamismo que chega, lento e discreto, para se infiltrar em nosso mundo.




Jônatas Iwata 09/01/2022

Quem espera anti-islamismo puro pode se surpreender ou até se incomodar com o livro. É uma análise bem mais sutil de como as ideologias cegam nossas visões, de uma geopolítica técnica cada vez mais irrelevante e, principalmente, da crise de meia-idade masculina, um tema com o qual Houellebecq com este livro e Extensão do Domínio da Luta demonstra uma familiaridade quase cômica.
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Dani 06/02/2023

Excelente.
O livro fala sobre a islamização do ocidente por meio da subversão dos valores civilizacionais ocidentais.
A história de como um professor universitário reage à imposição da cultura islâmica é o fio condutor da obra.
Michel Houellebecq é um dos escritores franceses contemporâneos mais conceituados e traduzidos. Também é um dos mais polêmicos, pois suas obras tratam de forma genial de temas polêmicos, sem o verniz do politicamente correto.
Altamente recomendado!
Rodrigo 06/02/2023minha estante
Excelente resenha ???




Lucas.Hagemann 19/04/2021

Idéias ótimas e desenvolvimento fraco
O livro Submissão de Michel Houellebecq tem premissas interessantíssimas, porém o desenvolvimento deixa a desejar.
A sensação é de um livro feito para homens jovens de classe média.
Conta a história de um personagem, ao meu ver fraco, chato e misógino. Apesar de ter ideias bem interessantes de como um partido mulçumano consegue a vitória em eleições democráticas em um país como a França. Essas idéias acabam pouco exploradas e o tema acaba sendo a crise de meia idade do protagonista.
Existe uma tentativa de uma discussão intelectual/filosofica sobre escritores lado B da França do séc IX, mas sem as devidas referências o discussão perde a importância.

Achei forçado comparar essa obra as obras de Orwell e Huxley.
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Juca Fardin 11/09/2020

Autor antenado em questões políticas e sociais. Com prosa filosófica, lemos o livro como visualizamos a mudança do tempo da janela de casa.
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Letícia 15/02/2021

Para onde caminha a poderosa França, bastião da civilização ocidental, se não para o próprio túmulo?
Não longe no tempo, a distopia narra as eleições de 2022, que se mostraram diferente do dominante padrão de debate centro-esquerda e centro-direita das últimas décadas com a ascensão de um partido declaradamente islâmico. Os velhos partidos são incapazes de abandonar seus moldes e suas frases feitas para um debate mais profundo e o partido nacionalista não vê esperanças se não em uma guerra civil.
A escrita é genial, mas o personagem principal, François, é apenas um ordinário professor universitário, não muito inteligente, e bastante frustrado sexualmente. A abordagem é simples: a maioria das pessoas não tem uma vida interessante, e é neste mundo de pessoas desinteressantes que emerge o caos político que pode ser, se levarmos em conta os padrões cada vez mais baixos de indignação - o padrão do próprio François - um cenário absolutamente comum, mas que nada tem relacionado com o Velho Mundo.
Nesse ambiente político e social asqueroso, uma massa anticristã e islâmica se expande, e a transformação da sociedade, de maneira gradual, não encontra grandes resistências. O modo de viver e, por fim, pensar, não é colocado como temível, mas, pior que isso, como profeticamente inevitável.
Pedro Henrique 15/02/2021minha estante
Interessante...




Eduardo 08/06/2020

Domínio islâmico?
Uma distopia contemporânea inquietantemente plausível, escrita por esse ótimo escritor do nosso tempo, inteligente e bem informado.
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Michele Boroh 17/05/2022

O que interessa e repugna
Já na segunda página Houellebecq prepara o que é a base da trama e da boa literatura:

"Só a literatura pode dar essa sensação de contato com outro espírito humano, com a integralidade desse espírito, suas fraquezas e grandezas, suas limitações, suas mesquinharias, suas ideias fixas, suas crenças."

Figuras odiosas não são exclusividade fictícia da mente criativa do escritor. Transformações sociais não são saltos temporais, fenômenos instantâneos.

Rechaçar esses enredos como simples mau gosto ou incompetência do autor é admitir cegueira diante da natureza humana.

Romantizar a realidade pode até proporcionar alívios momentâneos, mas em médio e longo prazo é a fantasia que engorda os engodos.
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Fabio.Madeira 21/10/2022

Pessoas doentes, sociedades doentes...
Michel Houellebecq é um dos grandes autores contemporâneos, um exímio pensador de nosso mundo. Ele fala sobre a França e, sem dúvida, critica as classes intelectuais do seu país. Mas não é somente na França que ele está mirando...

Há muitas semelhanças com o que vivemos em nosso país, o que mostra que vivenciamos um momento único, histórico e bastante perigoso em todo o mundo. Os extremismos políticos, as relações danosas entre religião e estado, o papel nem sempre ético da imprensa (seja na ação ou na omissão), as interferências de interesses financeiros e ideológicos sobre a educação e sobre a formação de valores, tudo isso é abordado nesse livro.

E, ao fundo, uma profunda apatia em grande parte da população, que facilmente se deixa levar por discursos e ideias construídas para iludir. O autor propõe essa reflexão, de como estamos frágeis em nossos valores, de que estamos perdendo nossa capacidade de agir politicamente, de defender o que realmente é válido, e de ter a clareza de que sim, há o certo e o errado.

E, como protagonista, uma pessoa cheia de preconceitos, perdida no mundo, insensível, e sem nenhuma relação verdadeira com qualquer ser humano. Uma pessoa sem pátria, sem ligação com a nossa espécie. Quantos mais estão assim, neste exato momento? A resposta pode ser assustadora.

Submissão é o título perfeito para esse livro. Quando nada fazemos frente ao absurdo, estamos abdicando de muitas coisas, dentre elas, o nosso direito e, por que não, nosso dever de pensar livremente, e agir pelo melhor para este mundo.
Cleane 22/10/2022minha estante
Excelente resenha!!


Fabio.Madeira 23/10/2022minha estante
Obrigado :)




José Vitorino 08/03/2020

Antes de tudo, quero ressaltar a belíssima tradução de Rosa Freire d'Aguiar; sua competência é notável.

Quanto ao texto, há alguns aspectos que saltam aos olhos já nas primeiras páginas. Gosto da narração em primeira pessoa quando o meio é privilegiado sob algumas peculiaridades, e a ascensão do Islã no cenário político francês não escapa desses termos. Neste sentido, é imprescindível que o protagonista/narrador tenha dimensão própria, seja inefável, tenha autonomia em relação ao enredo, e Houellebecq é, inevitavelmente, assertivo quanto ao seu.

Por outro lado, não consegui me aproximar do estado imaginário que Orwell, por exemplo, construiu em 1984, comparação levantada pela própria edição de Submissão. Houellebecq traz muito mais sátira e dedo na ferida do que especulação social, antropológica ou filosófica, propriamente dita.

Muito mais que a unidade do texto, o estilo do autor é que vira objeto. E dos mais interessantes.
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Felipe 24/07/2020

Já havia tentado ler esse livro durante a época da Universidade, e deixei de lado pela metade. Não tinha me agradado muito o enredo em si e retomei a leitura nesse ano. Porém, meu julgamento continua o mesmo, senão pior. Eu esperava uma distopia, não aos moldes do Orwell e Huxley (os que li e considero os melhores até agora - falta o Zamiatin), mas algo que fosse ao menos legal de ler. Que nada! Pra mim foi decepcionante e monótono. O François, que é o narrador e professor da Sorbonne de Paris, vai relatar a vida dele na academia, e seus estudos de Huysmans (que eu não conheço nenhuma obra) e em muitos momentos ele faz um comparativo da vida desse autor naturalista, com a sua própria.

Ao mesmo tempo em que ocorrem eleições na França, onde o candidato muçulmano vence. Confesso que nessa hora eu achei que o livro fosse engrenar pra mim. Mas, não deu. Não achei que essa questão da eleição e mudança de governo foi tão impactante assim, sem contar que o título do livro, depois que você chega ao fim, tem muito do machismo do François, também representado nessas mudanças na sociedade francesa pós eleição. Infelizmente, livro enfadonho, apesar de que o autor escreve bem, mas a construção dos acontecimentos em si, não me cativaram nem um pouco.
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Alexandra 30/07/2015

Ótimo para levantar debates
Em “Submissão”, o personagem principal, François, é um professor da universidade de Paris IV-Sorbonne obcecado pelo escritor Huysman (curiosamente, o literato era um homem que, após uma vida desregrada, se converteu ao catolicismo, fazendo uma analogia à história contada nessa obra).

François pouco sabe sobre política e todas as explicações sobre esse tema são feitas a ele por meio de amigos ou conhecidos, não tem uma opinião própria e é facilmente influenciável. Na vida amorosa também encontra problemas (talvez por ser um tanto misógino), chega a se apaixonar por uma mulher, mas o caso não vai muito longe. Ou seja, mesmo sendo um professor respeitável e entendido em vários assuntos, em outras matérias se mostra completamente ignorante.

Nessa distopia, a França passa por eleições em 2022 onde o candidato da Fraternidade Muçulmana é eleito o presidente. No clima das eleições, o personagem principal se mostra assustado com o que pode acontecer com o futuro do país, mas após o início do governo, as mudanças que ocorrem o agradam. As ideias de rejeição ao humanismo, submissão da mulher, poligamia e retorno do patriarcado o satisfazem, e percebe que ele tem muito em comum com os islâmicos.

Na literatura é difícil poder afirmar o que o autor queria dizer com sua obra, mas é possível o leitor dizer a sua visão do livro, o que ele entendeu e o sentimento que a leitura o causou. Por isso, não posso dizer com certeza as intenções de Michel Houellebeq, mas eu consegui enxergar semelhanças entre o personagem principal e várias pessoas que conheço. Quem nunca encontrou alguém que critica o islamismo por seu radicalismo, mas ao mesmo tempo têm casos com várias mulheres e gostaria de restringir certos direitos femininos? Nessa distopia, seria muito provável que as mesmas pessoas que criticam essa religião hoje, acabassem aderindo a ela futuramente.

Até aí, o livro possui uma ideia interessante, ao falar de pessoas facilmente influenciáveis que possam aderir a um regime opressor. O problema se encontra justamente em escolher o islamismo para falar disso, afinal, se trata de uma religião que, na Europa, é mais oprimida que opressora. Enquanto “Admirável Mundo Novo” imagina um futuro onde as pessoas são controladas pelo prazer (muito parecido com o nosso) e “1984” prevê um futuro exagerado para fazer uma crítica aos regimes totalitários da época, “Submissão” faz uma mistura dos dois, o que pode ser algo muito bem vindo, mas peca por fazer generalizações sobre um tema polêmico em uma época e lugar inadequados. Afinal, supor que todo muçulmano é um radical só gera mais motivo para preconceitos na Europa atual. E nem acho que o livro seja islamofóbico, a ideia dele é maior que essa, mas assim como eu posso fazer uma interpretação própria, algumas outras pessoas podem utilizar a obra como uma ferramenta para aumentar a xenofobia.

É um pouco difícil eu ler um livro cujo personagem principal sempre me soe detestável, mas é importante ressaltar que não tive a impressão de que o autor concorde inteiramente com seus atos, pois existe um olhar satírico sobre François, como se ele fosse uma caricatura.

Para quem não é muito familiarizado com a literatura francesa e com alguns filósofos, talvez seja interessante pesquisar um pouco sobre algumas figuras citadas no livro, a fim de entender com maior profundidade a ideia a ser transmitida pelo autor.

Para concluir, posso dizer que o livro gera debate para várias discussões, seja sobre o ser humano, o islamismo, o futuro da Europa, política ou até mesmo sobre a influência que uma obra pode ter sobre a sociedade. É, talvez, como diz a capa, “o livro mais polêmico do ano”e uma leitura essencial para as pessoas que gostam de discutir sobre as questões atuais.
Érica 17/11/2015minha estante
Excelente resenha!


Antonio 13/01/2016minha estante
Concordo, uma ótima resenha.




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