Ana Elisa Dotta Maddalozzo 04/03/2021Resenha O Castelo de OtrantoO Castelo de Otranto é mundialmente conhecido por ser um dos primeiros romances góticos do qual se tem notícias. A história é contada de uma maneira que se assemelha a das fábulas e o enredo é repleto de passagens secretas, calabouços, fantasmas, aparições, quadros assombrados e castelos macabros. Nosso protagonista é Manfred, príncipe de Otranto que resolve divorciar-se da esposa Hipólita quando o único filho do casal morre misteriosamente. A fim de ter a oportunidade de gerar um novo herdeiro para sua dinastia, o mesmo manipula a família e a igreja a fim de romper o casamento atual e contrair matrimônio com outra mulher. Há uma maldição que assola sua geração e que faz com que uma série de desentendimentos e novas relações sejam decorrentes ao longo da narrativa.
Não é difícil observar que esse livro traz inúmeras questões políticas e sociais da época em que foi escrito (1764). As mulheres deveriam obedecer seus maridos e pais sem pestanejar, abrindo mão de sua liberdade e de seus próprios desejos. O comportamento vil e tirânico dos homens com as suas consortes era aceitável, e a submissão das mesmas era praticamente uma regra. Aquelas que se diferenciassem desse hábito e impusessem seus objetivos eram imediatamente vistas como escandalosas e desonradas.
Além disso, essa obra é uma clara crítica ao sistema vigente na época da dinastia Tudor. Manfred é uma escancarada alusão ao monarca Henrique VIII e seu rompimento com a igreja católica para desposar Ana Bolena. O surgimento da igreja Anglicana mostrou como o clero e a monarquia se enfrentavam e se opunham, uma tentando controlar e influenciar a outra da melhor maneira possível. A forma pomposa e dramática em excesso com a qual os nobres se comunicam no livro faz com que pareçam ridículos em comparação aos serviçais do palácio. De certa maneira, o autor Walpole caracteriza os membros da realeza como sendo supérfluos e fora da realidade, motivo pelo qual sua história possa ter feito tanto sucesso entre as massas.
Em minha opinião, os elementos sobrenaturais da obra deixam a desejar, principalmente se compararmos essa escrita com a de Edgar Allan Poe, por exemplo. Contudo, as reprimendas que o escritor desenvolve, bem como a exemplificação de costumes da época, fazem com que essa leitura seja bastante interessante. Ademais, sempre é bom conhecer o percursores de nossos gêneros literários favoritos!