Sobre A Leitura

Sobre A Leitura Marcel Proust




Resenhas - Sobre a leitura


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Luiz Lélis 02/02/2024

Um pequeno (e excelente) ensaio que foi alçado, muito justamente, do status de prefácio ao de obra separada. Conciso e preciso, Proust investiga algumas das dimensões da leitura, com ênfase em seus aspectos psicológico (interno) e social (externo), sem deixar de nos mostrar a verdadeira força da leitura e de sua, consequente e relevante, solidão.
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almeidalewis 17/08/2023

Ato de ler
A parte que eu tinha mais curiosidade era a breve entrevista com Celeste e gostei dos detalhes trazidos por ela a cerca de Proust e um pouco da sua rotina. Na primeira parte é apresentada as reflexões a cerca das suas leituras e ou / o ato de lê ! assim como alguns escritores ( Homero, Shakespeare...) lido por ele.
Wesley Rocha 17/08/2023minha estante
???


almeidalewis 17/08/2023minha estante
Obg querido Wesley ??.




Filipe 22/07/2023

Uma leitura leve e tranquila, onde o autor francês nos leva às suas memórias e ideias do que é a leitura e como ela nos afeta desde a infância.

A parte mais interessante, para mim, foi o depoimento de Celeste Albaret, governanta que conta como era Proust na intimidade. Sem querer, e sem nenhuma pista, acabei me apaixonando pelo autor somente com base no que essa fiel guerreira descreveu. Devo explorar mais.
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@leituralari 13/01/2023

Instagram @leituralari
"Sobre a leitura" de Marcel Proust, foi na verdade escrito como um prefácio da obra "Sésamo e os Lírios", mas acabou se tornando um livro a parte que traz diversas reflexões sobre o hábito da leitura.

O primeiro trecho da obra virou um os meus inícios favoritos de um livro: "Talvez não haja na nossa infância dias que tenhamos vivido tão plenamente como aqueles que pensamos ter deixado passar sem vivê-los, aqueles que passamos na companhia de um livro preferido.".

Agora eu quero saber de vocês, o que tem de mais precioso no hábito da leitura?

site: https://www.instagram.com/leituralari/
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Antonio.Junior 27/08/2022

Proust é Proust
Que dizer de Proust? Este autor que mantenho uma relação muito peculiar: um extremo respeito e admiração; ao mesmo tempo um sentimento de assombro, mas sem ter lido um único romance seu na integra! De alguma forma sinto que a minha leitura do Em Busca do Tempo Perdido vai ser uma das mais especiais da minha carreira de leitor, com se tudo o que eu já tivesse lido em minha vida fosse um preparo à obra de Proust.
Enfim, está dado o passo inicial. Pretendo ler os contos, Jean Santeuil e por fim o Em Busca do Tempo Perdido. Espero não me decepcionar!
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MFARS 24/08/2022

Uma conversa entre leitores
"Como não somos, nós os vivos, senão mortos que ainda não entraram nas suas funções"


Esse livreto, semelhante ao "como ler livro" de Adler, dispõe de um bom livro como uma conversa entre você e o autor.E sinceramente, que conversa maravilhosa essa com Proust.

Apesar das poucas páginas, é necessário paciência com alguns termos utilizados (bastante francês), tornando aquela ida até a Nota no final das páginas uma quebra recorrente do fluxo de leitura.

Um dos pontos que queria ressaltar é uma fala sobre essa espécie de fetichismo por livros como forma de engrandecer a alma, é surreal pensar no tanto de pessoas que conheci das quais perguntava se gostava de leitura e elas imediatamente respondiam "leio apenas de empreendedorismo". Só de imaginar essa morte literária na mente de alguém, pra no final ainda se intitular "leitor"

Por fim, recomendo esse livro como uma ponte entre uma leitura simples, como fantasia, para uma leitura mais complicada, como uma sociologia. É simplesmente um livro sobre a importância do silêncio entre o leitor e o autor
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Ana Magiero 11/02/2021

Lido: 06/60 📚 Seguindo nessa linha de sair da zona de conforto, resolvi assim que a @maridalchico e @blogliteraturese falaram que iriam ler Em busca do tempo perdido, cair de cabeça nessa aventura, afinal de contas, elas estão lendo no tempo delas. Por isso, decidi começar a ler por esse livro que é meio que um texto de apoio para a jornada. Aqui temos um relato de um leitor para outro leitor. A paixão que Proust descreve ao lermos um livro nos mostra toda a paixão que irá envolver sua obra. Sem contar que neste volume temos um depoimento da governanta que trabalhou com ele por dez anos, até no dia da morte do autor. É incrível o relato. Apaixonante ver a descrição do que todo leitor sente lendo um livro. Sério, essa de sair da zona de conforto está sendo uma das melhores experiências que já tive!
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Cinara... 05/08/2020

"Na leitura, a amizade é subitamente devolvida à sua pureza original. Com os livros, não há amabilidades. Se passamos a noite com esses amigos, é realmente porque temos vontade de fazê-lo. Em todo caso, muitas vezes só os deixamos a contragosto."
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Mônica 22/07/2020

Não tivesse realizado o monumento em forma de livro chamado Em Busca do Tempo Perdido, Marcel Proust poderia ter ficado marcado entre seus contemporâneos pelo trabalho como tradutor do esteta inglês John Ruskin. Escritor polivalente e crítico de arte fundamental da era vitoriana, Ruskin se tornou importante também nas discussões sobre a arte durante a Belle Époque, a despeito da proibição imposta pelo próprio autor a traduções integrais de suas obras no país. Assim, quando da sua morte, em 1900, desencadeou-se uma corrida editorial para que elas fossem enfim realizadas e publicadas.

Proust começara a traduzi-lo como um projeto pessoal em 1899, poucos anos depois dos primeiros contatos com o trabalho de Ruskin. Encontrando-se estagnado na escrita de Jean Santeuil, o francês tentava apagar a péssima impressão deixada com seu primeiro livro, O Prazer e os Dias, que lhe rendera inclusive a reputação de escritor “decadente”. Precisando se reinventar e almejando ser lido e respeitado pelos seus pares, Proust encontrou na publicação do nome da moda uma brecha para que isso pudesse acontecer.

Quis o destino que, ironicamente, o escritor avesso às traduções francesas tivesse como tradutor mais icônico na França alguém que, além de não advogar ou praticar uma tradução se apagando diante do autor, nem sequer tinha total domínio da língua inglesa — contando inclusive com a ajuda de sua mãe para realizar o trabalho. Proust, que escreveu em um dos prefácios que a tradução por si só não seria suficiente para os leitores, pesou a mão nas notas e nos textos complementares, a ponto de usá-los também como um meio de introduzir sua própria voz, alfinetando outros tradutores de Ruskin e, de certa forma, rivalizando com o próprio traduzido.

A pequena janela temporal de relevância do inglês em terras francesas foi bem aproveitada por Proust, que soube nas suas duas publicações — La Bible d’Amiens e Sésame et les Lyz, realizadas em 1904 e 1906, respectivamente — chamar a atenção para si, ao se credenciar, de forma ousada e prepotente, como tradutor, guia, intérprete e crítico de Ruskin. As obras e as traduções se encaminharam para o segundo plano na França, eclipsados por Proust, seu estilo e seus textos complementares, que ficaram grandes — em todos os sentidos — o suficiente para se descolarem de sua origem e chegarem avulsos até nós.

Dos escritos que orbitam as traduções, o mais conhecido é Sobre a Leitura (Sur la lecture), prefácio do livro Sésame et les Lyz, obra que se resume a reunir duas conferências proferidas por Ruskin em 1864: Of Kings’ Treasuries, que fala sobre a leitura e é efetivamente o foco do texto de Proust, e Of Queens’ Garden, que discursa sobre o papel da mulher na sociedade.

Sabendo-se ou não dos detalhes da empreitada de Proust, o texto assume sua emancipação de maneira natural, pois o autor acaba por apenas tangenciar a obra que se propõe introduzir — e isso somente para contrapô-la. Para discutir e comunicar seus próprios pensamentos sobre o assunto, Proust usa suas próprias memórias de leitor quando criança como ponto de partida.

“Talvez não haja, em nossa infância, dias que tenhamos vivido mais plenamente do que aqueles que acreditamos ter perdido sem vivê-los, aqueles que passamos na companhia de um livro preferido. Tudo aquilo que, parecia-nos, preenchia-os para os outros e que afastávamos como um obstáculo vulgar a um prazer divino — o jogo para o qual um amigo vinha nos buscar no trecho mais interessante, a abelha ou o raio de sol incômodos que nos forçavam a erguer os olhos da página ou a mudar de lugar, o lanche que nos haviam feito levar e que deixávamos ao nosso lado no banco, intocado, enquanto acima de nossa cabeça o sol perdia a intensidade no céu azul, o jantar para o qual era preciso voltar e durante o qual só pensávamos em subir para terminar, assim que possível, o capítulo interrompido — tudo isso, que a leitura deveria ter-nos permitido perceber apenas como uma inconveniência, ela pelo contrário gravava em nós como uma lembrança tão doce (tão mais preciosa segundo nosso julgamento atual do que aquilo que líamos então com tanto amor) que, se ainda hoje nos acontece de folhear esses livros de antigamente, fazemo-lo como os únicos registros que guardamos dos dias passados e com a esperança de vermos refletidas em suas páginas as moradas e lagunas que não existem mais.” (p. 5–6)

Assim como enxergamos muito do crítico de arte em toda a obra de Em Busca do Tempo Perdido, é possível ver uma amostra do romancista no ensaio: a exploração das memórias afetivas, desenvolvida nas exauridas sentenças que lhe são características, serve de base para as reflexões que Proust pretende fazer. A leitura aparece como um esboço de madeleine; um gatilho para a recordação e criação de memória não só da própria experiência, mas de tudo que a contorna, pois a leitura — agora revestida de memória — se ressignifica e ganha um aspecto diferente. Todos os pequenos grandes dramas do Marcelzinho leitor — a angústia da espera pela leitura, a tristeza do término do livro e do desaparecimento das personagens que lhe requisitaram tanto investimento emocional ou os requintes de crueldade do escritor ao dar o salto do epílogo — precisam compartilhar espaço com detalhes que pareciam alheios a sua experiência: a casa, o quarto, as refeições intermináveis, a catedral.

Resenha completa no medium: https://bit.ly/2WM1XEu
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Felipe 14/06/2020

Marcel Proust sobre a escrita

Marcel faz reflexões acerca do hábito da leitura e das lembranças que o ato em si, trazia pra ele. Por exemplo, quando ele carregava um livro e "fugia" num parque pra se isolar dos colegas e conseguir terminar mais um capítulo. Reflete também sobre o misto que sentimos quando um personagem nos cativa e ficamos naquela depressão pós término de leitura, querendo saber muito mais sobre determinado enredo, ou quando procuramos tudo de um autor que amamos. A reflexão que ele nos traz a respeito do modo como buscamos nossas verdades, transcritas em títulos diversos, também é incrível, afinal, cada um de nós tem suas próprias convicções e experiências de vida, e a conclusão de cada leitura é muito particular. Em suma, Proust trata a leitura e o livro em si, como um amigo no qual podemos confiar, sem medo de errar.

Depoimento de Céleste Albaret

A ex governanta de Proust, durante o período de escrita de sua monumental obra, Em busca do tempo perdido, nos presenteia com breves relatos sobre a convivência com o escritor. Relatando alguns diálogos que ele mencionava em suas breves saídas de seu apartamento em Paris, a fim de observar os tipos que seriam descritos em sua obra. Além de revelar particularidades, como o fato de Proust se alimentar muito pouco, ou de "ciscar" pouquíssimo a comida, ou sua preferência por "café com leite e dois croissants".

Livro curtinho, para ir se inserindo no mundo desse grande nome da literatura
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Paulo Sousa 10/12/2019

Sobre a leitura, de Proust
Título lido: Sobre a leitura
Título original:Sur la lecture
Autor: Henry David Thoreau
Tradução: Júlia da Rosa Simões filho
Lançamento: 1987
Esta edição: 2016
Editora: L&PM
Páginas: 96
Classificação: 3/5

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"A leitura, ao contrário da conversação, consiste para cada um de nós em tomar conhecimento de um outro pensamento, mas estando sozinho, isto é, continuando a gozar da força intelectual de que usufruímos na solidão e que a conversa dissipa imediatamente, continuando a poder ser inspirados, a permanecer em pleno trabalho fecundo do espírito sobre ele mesmo? (Posição no Kindle 213/19%).
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marcel proust, o grande escritor francês de ?em busca do tempo perdido?, nesse pequeno livro, traz reflexões sobre a leitura e o ato de ler. uma espécie de diário, ele discorre sobre a sua infância de leitor, de como se aborrecia com as coisas que atrapalhavam seus momentos de leitura, de como buscava ocasiões e lugares ideais para se entregar à suas páginas prediletas bem como suas impressões sobre a leitura dos clássicos, na sua opinião, os verdadeiros pilares da boa leitura. discorre sobre seus escritores prediletos, numa lista notável que incluem Shakespeare, Voltaire, Byron, Sófocles e Homero. ao final, um comovente depoimento dos bastidores da vida do escritor, deixado por Céleste, sua governanta e amiga.
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proust é um autor desafiante. sua pirâmide literária são águas caudalosas, repletas de turbulentos parágrafos onde mais de uma vez me afoguei. mas o frisson em ler os sete volumes de ?em busca do tempo perdido? me acompanha, e isso impede de eventualmente desistir da façanha, que, tão logo possível, cumprirei.
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neste pequeno volume fica patente a predileção de Proust por manter longos enunciados que, apesar de lindamente escritos, levam facilmente o leitor ao território da perdição, da falta de atenção e, consequentemente, de se acabar não retendo a beleza de sua prosa. mas nem por isso proust deve deixar de ser lido! ao contrário, por enquanto, abro algum livro seu ao acaso e leio até onde aguentar, experiência que tem preparado para o grande desafio de escalar sua obra principal.
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e os Livros 26/12/2018

Um pequeno grande livro de memórias
Sobre a Leitura. De Marcel Proust. (Editora L&PM, 2016)

Sou daqueles que se lembram facilmente de situações e acontecimentos, através de associações. Qualquer coisa te "transporta" de volta para o passado (o pleonasmo foi inevitável), e você fica com aquela sensação de estar vivendo tempos longínquos. Se é bom ou ruim, tem lá suas vantagens e desvantagens (se é que se pode falar sobre isso em forma de ganhos e perdas). Todas as pessoas têm essa percepção associativa com algo que as remetem ao passado: uma música, um filme, um cheiro, um objeto, uma pessoa, um animal, um sabor, uma viagem, um passeio por uma estrada, etc. Porém, alguns com uma facilidade bem maior que outros. Ser assim em um nível maior me fez apreciar e admirar melhor o trabalho do francês Marcel Proust, um mestre da memória e das lembranças, um escritor excepcional. Li trechos de seu "Os Prazeres e os Dias", e não li ainda sua obra máxima "Em Busca do Tempo Perdido", porque minhas edições (para quem não sabe, a obra foi lançada em sete volumes) são com traduções que não me agradaram muito. Não é difícil se deixar fascinar por Proust, principalmente quem gosta de narrativas que falam de lembranças. É famoso o trecho do primeiro volume, intitulado "No Caminho de Swann", onde Proust se lembra de algo de sua infância, após comer um biscoito madeleine.
Lançado recentemente pela editora L&PM em edição pocket, "Sobre a Leitura" traz um ensaio de Proust sobre a arte e o prazer da leitura, onde ele discorre sobre sua infância e a difícil tarefa de conseguir ler sem que fosse incomodado por alguém, e sobre os clássicos que o encantaram. Para Proust, os clássicos literários é que são os pilares da boa leitura; são eles que nos enriquecem e nos ensinam. Proust se mostra um apaixonado pela literatura, e demonstra que aprendeu muito lendo obras de Shakespeare, Racine e Victor Hugo, entre outros escritores essenciais da literatura mundial.
Essa edição da L&PM ainda vem com um segundo texto: uma entrevista que Céleste Albaret deu à jornalista brasileira Sonia Nolasco-Ferreira em 1983. Céleste foi governanta de Marcel Proust por quase 10 anos, cuidando dele até sua morte, em 18 novembro de 1922. Céleste relata como foi que ela, uma simples camponesa, conviveu com o maior intelectual francês de sua época; um homem culto que dominava a arte da escrita como poucos. Céleste não esconde que Proust era um patrão tirano, mas tirano no sentido de ser meticulosamente organizado, de querer tudo no horário marcado e não aceitar atrasos e interrupções quando ele estivesse escrevendo em seu quarto fechado à prova de som. As recordações de Céleste durante todo esse tempo ao lado de Proust eram as melhores possíveis, as que ela levou consigo até a sua morte, em 1984. Ela lembra com carinho das conversas que tinha com o patrão, como ele se emocionava quando falava sobre suas mães, sobre as festas que ele frequentava, sobre a vida em geral. Ela sempre o defendeu e desmentia fatos polêmicos escritos pelos biógrafos de Proust, e dizia que ninguém melhor do que ela sabia sobre a vida do escritor. Ao ler o enorme volume de "Em Busca do Tempo Perdido", anos depois da morte de Proust, Céleste via ali parte de suas conversas com seu admirado patrão, relembrando através daquelas páginas, fatos e detalhes que a enchiam de saudade. "Sobre a Leitura" é um livro pequeno (apenas 96 páginas) em tamanho, mas grande em qualidade. Uma preciosidade de (e sobre) um dos maiores escritores de todos os tempos.
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Lucas Gui 29/01/2017

"Talvez não haja na nossa infância dias que tenhamos vivido tão plenamente como aqueles que pensamos ter deixado passar sem vivê-los, aqueles que passamos na companhia de um livro preferido." (p. 9)

"Para mim, não me sinto viver e pensar senão num quarto onde tudo é a criação e a linguagem de suas vidas profundamente diferentes da minha, de um gosto oposto ao meu, onde eu não reencontre nada de meu pensamento consciente, onde minha imaginação se exalte e sinta mergulhada no seio do não-eu." (p. 18-9)

"Queríamos tanto que o livro continuasse, e, se fosse impossível, obter outras informações sobre todos os personagens, saber agora alguma coisa de suas vidas, empenhar a nossa em coisas que não fossem totalmente estranhas ao amor que eles nos haviam inspirado 3 e de cujo objeto de repente sentíamos falta, não ter amado em vão, por uma hora, seres que amanhã não seriam mais que um nome numa página esquecida, num livro sem relação com a vida e sobre cujo valor nos enganamos totalmente, pois sua sorte aqui embaixo, agora o compreendíamos e nossos pais o confirmavam numa frase cheia de desprezo, não era, como havíamos acreditado, conter o universo e o destino, mas sim ocupar um lugar estreitinho na biblioteca do notário (...) o que as leituras da infância deixam em nós é a imagem dos lugares e dos dias em que as fizemos. " (p. 24)

"(...) ao mesmo tempo essencial e limitado que a leitura pode desempenhar na nossa vida espiritual) que para o autor poderiam chamar-se "Conclusões" e para o leitor "Incitações". Sentimos muito bem que nossa sabedoria começa onde a do autor termina, e gostaríamos que ele nos desse respostas, quando tudo o que ele pode fazer é dar-nos desejos. Estes desejos, ele não pode despertar em nós senão fazendo-nos contemplar a beleza suprema à qual o último esforço de sua arte lhe permitiu chegar." (p. 30)

"(...) de sorte que é no momento em que eles nos disseram tudo que podiam nos dizer que fazem nascer em nós o sentimento de que ainda nada nos disseram." (p. 30-1)

"Há, contudo, certos casos, certos casos patológicos, por assim dizer, de depressão espiritual para os quais a leitura pode tornar-se uma espécie de disciplina curativa : e se encarregar, por incitações repetidas, de reintroduzir perpetuamente um espírito preguiçoso na vida do espírito. Os livros desempenham então um papel análogo ao dos psicoterapeutas para certos neurastênicos." (p. 33)

"Na medida em que a leitura é para nós a iniciadora cujas chaves mágicas abrem no fundo de nós mesmos a porta das moradas onde não saberíamos penetrar, seu papel na nossa vida é salutar." (p. 35)

"É que elas (as obras antigas) não têm apenas para nós, como as obras contemporâneas, a beleza que nelas soube incutir o espírito que as criou. Elas recebem uma outra beleza ainda mais emocionante do fato de que a sua própria matéria — ouço a língua em que foram escritas — é como um espelho da vida." (p. 47)

"(...) do Passado surgido familiarmente no meio do presente, com esta cor um pouco irreal das coisas e uma espécie de ilusão nos faz ver a alguns passos, : que, na verdade, estão a séculos de distância; orientando-se em todo seu aspecto um pouco diretamente demais K espírito, exaltando-o um pouco como, sem surpresa, um espectro de um tempo sepultado; no entanto, ali, no meio de nós, próximo, tangível, palpável, imóvel, ao sol." (p. 51)

PROUST, Marcel. Sobre a leitura. São Paulo: Pontes, 2003. 4ª edição.
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Tauana Mariana 14/01/2015

Sobre a “mais nobre das distrações”
Nunca tinha lido nada do Proust, mas através da Tati Feltrin eu passei a me interessar no romance Em busca do tempo perdido, e graças a alguns críticos literários, pude descobrir a importância desse autor para a área. Com essa obra pequenininha, pude ter um gostinho da escrita do autor, e de faro apreciei muito.

Sobre a leitura me fez lembrar minhas leituras de infância, assim como Proust lembra as suas. Lembro como se fosse hoje o dia que eu apenas queria ler A fada que tinha ideias e me minha mãe queria que eu estudasse para a prova do dia seguinte. Foi a primeira vez que li escondido. Tenho apenas lembranças maravilhosas das minhas leituras dessa época.

Algumas vezes, em casa, no meu leito, muito tempo depois do jantar, as últimas horas da noite, antes de adormecer, abrigavam também minha leitura, mas isso somente nos dias em que chegava aos últimos capítulos de um livro, que não faltava muito para chegar ao fim. Então, arriscando ser punido se fosse descoberto e ter insônia que, terminado o livro, se prolongava, às vezes, a noite inteira, eu reacendia a vela, assim que meus pais iam deitar. [...] Depois a última página era lida, o livro tinha acabado. Era preciso parar a corrida desvairada dos olhos e da voz que seguia sem ruído, para apenas tomar fôlego, num suspiro profundo (P. 22).

Proust também reflete sobre como a leitura e o livro podem curar um espirito doente, fortalecer a inteligência e ser mais que um amigo. Com um livro, não dissimulamos. Tudo é o mais verdadeiro possível. Não interessa-nos a história? Abandonamos o livro. Interessa-nos? Não o largamos mais.

Sem dúvida, a amizade, a amizade que diz respeito aos indivíduos, é uma coisa frívola, e a leitura é uma amizade. Mas ao menos é uma amizade sincera, e o fato de dirigir-se a um morto, a um ausente, lhe dá qualquer coisa de desinteressada, quase tocante. Além do mais, é uma amizade desembaraçada de tudo o que faz a feiura das outras. [...] Na leitura, a amizade é de repente levada à pureza primitiva. Com os livros, não há amabilidade. Esses amigos, se passamos a noite com eles, será porque realmente temos vontade de fazê-lo. Não os deixamos, pelo menos estes, senão com remorso (P. 42).

Com o autor, refletimos um pouquinho sobre esta que é a “mais nobre das distrações” – a leitura.

site: http://tauanaecoisasafins.blogspot.com.br/2015/01/sobre-leitura.html
Mauricio186 21/12/2020minha estante
Essa metáfora do "livro-amigo" não é um pouco deprimente? Muitos leitores parecem apreciar esse tipo de ilusão, mas isso me inquieta. A amizade está muito acima disso. No mais, sua resenha é belíssima.




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