spoiler visualizarAntonio 27/07/2019
O Touro PAZ e AMOR
A história que podemos encontrar no livro O TOURO FERDINANDO é tão simples que causa até surpresa ela ter sido transformada em um FILME recente. Mas isso aconteceu porque essa história tem um PODER em si mesma. Claro, o poder é simbólico, o poder das histórias que podem ser contadas por muitas gerações, e ser entendidas de muitas maneiras, da mesma forma que os contos de fada. Mas essa história não é um conto de fadas. Ela foi criada por dois americanos e a data da criação é 1936. E, para nossa surpresa, sobreviveu até agora.
A história: Ferdinando, desde que era um bezerro, era muito diferente dos outros. Não gostava de ficar dando cabeçadas, preferia ficar quieto, cheirando as flores. A mãe se preocupava com ele, não queria que ficasse sozinho. Mas ele dizia que preferia ficar ali, tranquilo, e ela entendeu. Ferdinando cresceu, e cinco homens vieram procurar o touro mais valente e bravo da região. Ferdinando sabia que não seria ele. Mas, ao sentar em uma abelha, teve uma reação tão forte que foi ele o escolhido para as touradas de MADRI. Mas, no dia da tourada, Ferdinando ficou quieto e não lutou, para decepção geral. Assim, foi levado de volta para casa e viveu muito feliz. Essa história mostra que não é preciso ser igual aos outros para ter uma vida equilibrada, mais feliz e até mais sábia.
O interessante desse livro é que ele pode ser lido tanto para uma criança de 4 anos, quanto para uma criança de 10. Porque a história na sua simplicidade pode ser entendida de forma mais simples, como de forma mais complexa – afinal, o que significa um personagem que não é igual aos outros? O touro que não gosta de brigar e dar cabeçadas, como os outros? Alguém que não faz parte do ‘sistema’?
Para mim, essa história passa bem longe do PATINHO FEIO, que poderia ser uma associação – afinal, Ferdinando é o diferente, o “outro”. Mas aqui não há a questão do preconceito. Existe, sim, a questão da diferença, mas acompanhando a história nós podemos chegar a outras conclusões sobre esse ser diferente: Ele não quis brigar, por isso não foi espetado e morto na arena. Ele voltou para a sua casa, para o seu sossego, e foi feliz. Então, o ser diferente (que pode provocara estranheza) pode ser aquele que é mais equilibrado, o que vê as coisas (na verdade) de uma forma mais correta. Porque dar cabeçadas e chifradas o levaria à morte na arena. Então quem estava certo? Os bezerros ‘normais’, ou Ferdinando?É uma nova visão sobre esse ser diferente, que muitas vezes é excluído: ele não é o Cisne Negro, mais belo que os outros, mas o ser que age – e pensa - de forma diferente, que pode ter a sabedoria que os outros não têm. Nessa história, ser ‘normal’ levaria à morte; mas ser ‘diferente’ levou à vida. Concluindo: os seres diferentes, especiais (às vezes excluídos) talvez tenham lições a nos dar. E são lições de vida.
A criação dessa história tem a ver com o período de guerra ( a II Guerra Mundial). Ela foi usada como um instrumento contra a guerra e a favor da paz. Mas como nós não estamos vivendo nesse contexto hoje, então deve existir outros significados para essa história, do contrário ela não estaria sendo reeditada em livro e transformada em filme.
O poder da literatura se prova dessa maneira: um livro escrito em um contexto específico transborda para outros contextos, outros significados, outras leituras. Um livro que traz uma metáfora poderosa: “O Touro Que Não Quer Brigar”, e que pode ser entendida de maneiras diferentes. Para a criança, as interpretações podem ser até mais numerosas, já que ela provavelmente vai relacionar esse personagem às situações que vive, a começar pelo fato de que o touro era “diferente” de todos os outros touros, e a criança também se julga única e especial.
Hoje estou me sentindo exatamente como o touro Ferdinando: ao invés de brigar como 90% das pessoas nas redes sociais por esse ou aquele motivo (política, por exemplo), prefiro ficar quieto e ir atrás das flores que possam existir.
site: https://www.youtube.com/watch?v=shxRdxNaxgU