Andre.Pithon 21/09/2022
City of Stairs havia sido uma surpresa incrivelmente agradável e, mesmo sua sequência não se distanciando em nada da fórmula do primeiro, basicamente recriando o cenário anterior (em uma cidade diferente, com um Deus diferente, com uma protagonista diferente), consegue se manter igualmente agradável. As cidades divinas é uma série que brilha em seu worldbuilding, com uma era tecnológica pouco explorada na fantasia, e abordando bem as consequências da morte das divindades que regiam o mundo, e simplesmente ver mais do mundo me basta.
Mulaghesh, a nova protagonista, coadjuvante no anterior, é uma veterana de guerra, cansada da vida, tentando se aposentar, sem uma das mãos, é enviada para Voortyashtan, onde um novo metal de capacidades físicas quase milagrosas foi descoberto, e ameaça revolucionar a tecnologia vigente, ou talvez apenas represente um retorno de influências sagradas, que nunca parecem parar de ecoar. A cidade é interessante, mesmo que pareça menos desenvolvida que Bulikov, não tão alienígena em suas peculiares após a morte de sua deusa vigente. Toda a estrutura divina basicamente afundou no oceano sem muita fanfarra, e o que sobrou é uma cidade pobre, um forte militar dos colonizadores, uma tentativa de construção de porto. É um cenário funcional, mas não capta o mesmo fascínio do anterior.
Sigrud retorna, e o que menos gostei no primeiro foi o Viking OP capaz de matar tudo sem piscar, mas ele fica bem mais no plano de fundo aqui, dando espaço pra filha dele, que é uma personagem muito mais interessante e bem desenvolvida que o pai.
Mas o que impede esse livro de ser simplesmente menos interessante em todos aspectos que o primeiro é Voortya, deusa da morte, da guerra, do mar. Os deuses explorados no anterior apresentavam algumas questão interessantes, mas ao se mergulhar na natureza divina da guerra e, mais importante, da pós-vida, a obra consegue achar seu objetivo, abordar o que realmente é único em seu cenário, e pintar uma cosmologia única e que lentamente se dissolve, e como a destruição de cada parte do paraíso divino afeta o mundo ao seu redor.
As cidade divinas são obras de mistério, balanceando a clássica narrativa de detetive com um worldbuilding único, em uma ambientação quase moderna, o que as torna únicas. Há ideias boas, é uma leitura agradável, a prosa é funcional mesmo que nunca - ao mesmo pra mim - pontualmente brilhante.