Vitor Cano 05/02/2021
Sempre há algo mais que não se percebe no primeiro olhar.
Asimov é um dos meus autores favoritos, tendo escrito livros excelentes que até hoje reverberam em obras de ficção científica. Dito isso, eu esperava mais de "Os próprios deuses", apesar de ainda assim considerar uma ótima leitura.
O livro gira em torno da descoberta de uma fonte de energia revolucionária, que permitirá que a humanidade se desenvolva sem estar limitada pela geração de energia. Além de, supostamente, ser uma fonte limpa, ilimitada e segura.
De forma resumida, a tecnologia se baseia em obter energia de outro universo (o chamado para-universo).
O livro é dividido em 3 partes.
Inicialmente acompanhamos a história dos cientistas que supostamente estão conectados ao descobrimento da fonte de energia. Nesse ponto, Asimov utiliza toda a sua bagagem acadêmica (ele era um cientista) para apresentar de forma muito verossímil a guerra de egos entre pesquisadores. Como pesquisador em uma universidade, fiquei surpreso de como o livro retrata bem a relação problemática entre academicos e o uso apurado de conceitos científicos.
A segunda parte do livro, que é minha favorita, se foca nos seres do para universo. Sem grandes spoilers, são eles quem possuem maior controle sobre a tecnologia. No entanto, o mais interessante aqui é ir aos poucos entendendo todo o sistema social e "biológico" deles, que se baseia em uma unidade composta por em uma tríade de seres com características diferentes. Sempre um "paternal", um "racional" e um "emotivo".
A terceira parte inicialmente me decepcionou, pois eu esperava que a história se conectaria com o final surpreendente da segunda parte. Porém, o autor foca em uma sociedade que se desenvolveu a partir da humanidade, mas situada na Lua. Um ponto interessante que me chamou a atenção é que os 3 personagens em conflito nessa parte do livro parecem apresentar as mesmas características marcantes da tríade do para-universo. Um cientista racional, uma intuitiva que "sente" o que está por vir, e um lunar que pensa unicamente em sua "família", suas raízes, seu lar. Eles inclusive vivem em um complexo subterrâneo, semelhante aos complexos de cavernas da tríade. Será que essa é uma dica de que os seres do para-universo um dia foram semelhantes a nós?
Uma crítica pessoal é que os saltos bruscos de núcleo de personagens em cada um dos 3 trechos me fez desconectar da a história e levou alguns capítulos para voltar a me importar com os novos personagens.
Enfim, apesar de a primeira camada do final do livro parecer decepcionante, os outros aspectos da história e uma reflexão sobre tudo que é apresentado com certeza justificam a leitura.