Amós 09/03/2020Um épico cruel Foram meses de leitura dos dois volumes e nessa resenha pretendo falar do texto como um todo. Antes de iniciar a resenha devo deixar claro a quem se interessar a leitura de que eu pessoalmente não gosto da figura de Winston Churchill. Tendo a História por profissão vejo nessa figura, que por muitos é exaltada como grande estadista, alguém muito controverso e que demonstra em sua carreira e em alguns pontos de sua obra literária seu racismo. Repetindo aquele velho chavão de que a História é escrita pelos vencedores, o primeiro ministro britânico representa isso perfeitamente. Estou fazendo uma defesa do 3º Reich? Definitivamente não. Porém cabe lembrar que Churchil promoveu holocaustos terríveis em suas atuações na Índia, África do Sul; apoiou o fascismo italiano de Mussolini e em Galipolli mediou a norte de milhares de "súditos da coroa" .
Enfim, deixado claro o ponto de vista que tenho posso iniciar a resenha. Winston Churchill foi um político britânico que iniciou sua carreira dentro do Exército, combatendo pela Coroa por muitas regiões do Globo, inclusive dentro do contexto da 1º Guerra Mundial participou ativamente na liderança na Marinha Real Inglesa. Ao fim do Conflito abandona as forças armadas e passa a atuar no Parlamento Inglês.
Sua obra se inicia a tratar sobre o período do Entre Guerras, dando ao leitor uma boa narrativa da Europa e de sua política. Crises econômicas e velhas rivalidades pavimentaram o caminho para o conflito que iria se iniciar. Churchill também tece críticas a Charberlaim, primeiro ministro que o antecedeu e em sua política externa não conseguiu barrar o avanço do nazi-fascimo pelo globo apesar das claras intenções de Hitler. Junto a isso temos a constante desconfiança em relação aos soviéticos que pela escrita de Churchill são pintados como verdadeiros rufiões diabólicos que não merecem confiança alguma e isso persiste por toda obra.
Ao início do conflito o autor assume como primeiro-ministro conseguindo construir no parlamento inglês uma frente unificada de todos partidos que tornaram o governo interno nos anos de guerra possíveis. A partir desse ponto percebi uma clara mudança no tom do livro, entendendo que agora o autor se via na posição de cabeça da Inglaterra em guerra. A rápida rendição francesa deixa os ingleses numa situação agoniante que marca algumas centenas de páginas da narrativa. Destaque para a detalhada descrição da situação em Dunkirk e dos planos ingleses para a correta execução da operação e da guerra no Atlântico pelo controle das rotas comerciais que mantinham a Inglaterra. Nessas páginas o sentimento que se tem é que cada vitória aliada representa um novo desafio a frente e cada derrota um passo alemão em direção às praias inglesas. Essa luta desesperada pela sobrevivência é muito bem retratada e quando as marés mudam de lado é como se um peso saísse de nossos ombros.
Costurando alianças pela Europa e com os E.U.A. o jogo começa a mudar a partir da invasão nazista à URSS e ao ataque japonês a Pearl Harbor quando o Reich é forçado a dividir forças para manter suas conquistas e amplia-las. É curiosa as analises do autor a partir de documentos adquiridos após o fim da segunda-guerra, mostrando o que se pensava dentro do comando nazista e como várias vezes as leituras feitas pelos ingleses foram precisamente acertadas e da mesma forma mostra os planos nazis que por vezes também alcançavam seu objetivo.
Pouco se fala sobre a guerra americana contra o Japão apesar de ter tido participação inglesa em vários momentos mas cabe destacar a situação da batalha de Midway, pouco lembrada mas que é fundamental para entender o destino do Império nipônico na guerra. Uma armadilha muito bem pensada pelos americanos atrai os japoneses para a ruína da sua marinha.
Conforme o fim do conflito se aproxima se vê a desconfiança em relação aos soviéticos crescer e tomar forma nas situações da Iuguslávia e da Grécia. Pelos anos de 1944 e 1945 já se há claramente a demonstração do que iria ser o mundo da Guerra Fria. Mas apesar disso, a Aliança para combater o Eixo consegue manter a coesão mesmo com os claros sinais que aquilo não iria durar para além do conflito.
É nesse clima que a obra se encerra: invasão soviética à capital alemã, bombas nucleares caindo no Japão e um novo mundo bipolar claramente delimitado pelos resultados dessa que foi a maior guerra da história da humanidade. Os livros são uma verdadeira obra prima da literatura mundial e mesmo com as ressalvas feitas no início desta resenha, merecem a leitura. Uma leitura que deve ser feita de forma atenta e crítica mas que sem sombra de dúvida possibilita ao leitor uma visão impar do que foi esse conflito.
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