Café & Espadas 11/10/2015
Resenha Demolidor: Fim dos Dias - Volume 2
Enquanto Nova York está segura nas mãos por um grande panteão de heróis, resolvendo assuntos de natureza maior e de amplitude global, um de seus bairros é corroído todos os dias pelo crime organizado e pela corrupção.
Hell’s Kitchen parece imperceptível aos olhos dos grandes. Mas não aos olhos de Matt Murdock, o Homem Sem Medo, O Demolidor.
Até mesmo os novatos neste universo dos quadrinhos com certeza devem conhecer este excelente personagem da Marvel, ainda mais agora que ele já ganhou até mesmo uma série bacana no Netflix e que introduz perfeitamente qualquer pessoa no mundo deste herói.
Mas bem antes da série, pelos meados de 2012, foram lançadas as HQs de Demolidor: Fim dos Dias – com oito edições no total – que foram publicadas este ano aqui no Brasil pela Panini Comics e compiladas em dois volumes. O encadernado conta com vários nomes já conhecidos em sua produção, como Klaus Janson (arte-finalista em Cavaleiro das Trevas de Frank Miller) solando a arte no primeiro volume, David Mack (série Kabuki), Alex Maleev (outras histórias de Demolidor) e Bill Sienkiewicz (Elektra: Assassin) na arte-final. O roteiro é de Brian Michael Bendis e David Mack.
A trama de Fim dos Dias, indo na contramão do óbvio, não tem Murdock como protagonista.
Todos acompanham uma luta violentíssima e quase interminável entre o Demolidor e o Mercenário. Tudo acontecendo ali, no meio da rua, tendo os populares de Hell’s Kitchen como espectadores e com cobertura da mídia local. Após muito sangue derramado, o Mercenário está pronto para desferir o golpe final no Demolidor, e em uma tentativa final de desestabilizar o seu oponente, Murdock cita uma palavra: mapone.
A palavra, porém, não surte o efeito esperado, e o Mercenário completa o serviço, liquidando o Demolidor, enquanto a população da Cozinha do Inferno só observa, e grava tudo com seus smartphones. É aí que entra em cena o verdadeiro protagonista da história, o jornalista Ben Urich.
Para os que já conhecem a mitologia do Demolidor sabe o quanto Urich foi importante em vários momentos da vida do herói, e mesmo após o assassinato de seu amigo, ele usará todos os seus recursos para reconstruir os últimos dias de Murdock como vigilante, e também para tentar descobrir o significado da tal palavra “mapone”.
Sendo assim, Urich parte em uma jornada pelo passado do Demolidor, para tentar decifrar todos os mistérios que permeiam a sua morte. Mas o que ele não imagina é que lidar com os antigos amores de Murdock e seus antigos inimigos pode pô-lo em perigos mortais.
Ao longo do desenrolar de toda a narrativa – primorosamente construída – grandes revelações sobre os frutos dos relacionamentos amorosos do herói surgem diante de Urich e outros eventos paralelos desencadeados por sua investigação irão transformar Hell’s Kitchen em uma nova arena de batalha entre criminosos e um novo vigilante de uniforme vermelho e bastão.
Fim dos Dias traz um ritmo narrativo bem dosado, apesar de em determinados parecer querer desacelerar bruscamente. Porém a história tem tomadas de fôlego muito bem inseridas, além de dialogar com a questão do que é ser um herói, e quão frágil é a linha que separa um protetor da ordem de um fora-da-lei.
O andamento da investigação de Urich faz os principais personagens do cânone do Demolidor – Elektra, Foggy e Justiceiro por exemplo – surgirem e enriquecerem ainda mais a narrativa com ótimos diálogos, expondo a desolação de um mundo onde os heróis não desejam mais terem esse título, ou serem lembrados como tais.
O desfecho de tudo – alvo de polêmica e divisor de opiniões – é interessante e, digamos, aceitável; porém parece ter sido feito às pressas. Ele não deixa pontas soltas, mas não coloca o devido peso de importância na principal engrenagem de todo o enredo.
O traço de Klaus Janson combinado com a arte-final de Bill Sienkiewicz traz um dos maiores atributos desse encadernado: sua expressividade. A qualidade da arte não chega a ser constante em todas as páginas da HQ, mas o detalhismo e o característico desenho sujo de Klaus e as sacadas de enquadramento – salteados com as belíssimas ilustrações dos outros artistas de apoio – fecha a obra nesse quesito de forma muito satisfatória.
Fim dos Dias se mostra uma obra digna do personagem a qual homenageia. O Homem sem Medo é um dos personagens mais admirados do universo Marvel, e quando bem aproveitado, pode render ótimas histórias como essa, que transcende sua proposta inicial e se torna uma síntese de várias memórias de vários personagens memoráveis.
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