Alan Ventura 10/03/2011Stephen King,estão lhe devendo um Nobel de Literatura . . .
Segundo a tradição dos videntes nativoamericanos a Grande Aranha teceu a Teia do Universo para relacionar todas as coisas.Para eles, a Aranha ao mesmo tempo é Avó e Criadora que cria novas energias dentro da existência.Ela tem o que muitos chamam de "A Medicina da Criação".
Há uma lenda dos nativos norte-americanos,de que um velho índio ao fazer uma Busca da Visão no topo de uma montanha,vislumbrou IKTOMI, a aranha, e comunicou-se em linguagem sagrada. A Aranha pegou um aro de cipó e começou a tecer uma teia com cabelo de cavalo e as oferendas recebidas.Enquanto tecia, o espírito da Aranha falou sobre os ciclos da vida, do nascimento à morte e das boas e más forças que atuam sobre nós em cada uma dessas fases.Ela dizia algo mais ou menos assim:
"Se você trabalhar com forças boas,será guiado na direção certa e entrará em harmonia com a natureza.Do contrário,irá para direção que causará dor e infortúnios"
No final a Aranha devolveu ao velho índio o aro de cipó com uma teia no centro dizendo-lhe: "No centro está a teia que representa o ciclo da vida. Use-a para ajudar seu povo a alcançar seus objetivos, fazendo bom uso de suas ideias, sonhos e visões. Eles vem de um lugar chamado Espírito do Mundo que se ocupa do ar da noite com sonhos bons e ruins. A teia quando pendurada se move livremente e consegue pegar sonhos, quando eles ainda estão no ar. Os bons sonhos sabem o caminho e deslizam suavemente pelas penas até alcançar quem está dormindo. Já os ruins ficam presos no círculo até o nascer do sol, e desaparecem com a primeira luz do novo dia"
Mas o que essa lenda indígena tem a ver com o romance de King? Tudo,pois "O Apanhador de Sonhos" é justamente esse círculo por onde os sonhos ruins ficam presos.
"O Apanhador de Sonhos" narra a história de Jonesy,Henry,Beaver e Pete,eles são amigos de infância. E todo ano marcam uma viagem para as montanhas, onde caçam em conjunto.Mas neste ano,durante o encontro,são surpreendidos por um forasteiro que surge repentinamente no acampamento,murmurando frases desconexas e repetindo insistentemente algo sobre luzes no céu.É assim que toda a trama começa,e esses quatro amigos se verão,de repente,envolvidos numa luta horripilante contra uma poderosa criatura de outro mundo...
Talvez esse seja um dos romances mais complexos de King,pois apesar de sabermos que o terror psicológico é elemento crucial em suas obras,este livro trás o terror em sua forma mais cruel,ou seja,aquele que não se pode combater sozinho,além de suscitar várias questões que muitas vezes passam despercebidas,como por exemplo:"com tanta miséria criada pelo próprio homem,guerra,fome,limpeza étnica,mortes em nome da paz,massacre de pagãos em nome de Jesus,seria um alienígena o principal vilão?".Ou seja,King aborda uma temática de horror,para mostrar-nos que alienígenas,lobisomens,vampiros,zumbis,palhaços assassinos,e toda a gama de monstros que possam surgir de uma mente criativa,nada são se comparados ao mal que há no próprio homem.
Sendo assim,o que nós seres humanos precisamos? Precisamos entender que há um sol lá fora,que há um belo domingo no parque com as pessoas que amamos,que há a chance de dizer "Eu te amo" enquanto essas pessoas ainda estão vivas,e que não adianta criar monstros no armário,ter medo do escuro e assim ditar os limites de nossa vida.Stephen King representa a Aranha Iktomi,e nós somos o velho índio,assim como a Grande Aranha deu ao índio "O Apanhador de Sonhos" King também nos deu,e que possamos seguir o conselho de Iktomi,de trabalharmos com forças boas para sermos guiados na direção certa e entrarmos em harmonia com a natureza" e que todos nós,possamos SER "Apanhadores de Sonhos" de outras pessoas,e que possamos TER nossos próprios "Apanhadores de Sonhos".