Jordana Martins(Jô) 08/01/2016A Guerra da Rainha Vermelha - Prince of FoolsAssim somos apresentados ao novo personagem da cativante nova trilogia escrita por Mark Lawrence, o mesmo autor da aclamada e belíssima Trilogia dos Espinhos. A DarkSide Books mais uma vez nos presenteando com mais uma obra que envolve terror, aventura e humor sarcástico, é claro.
Nessa nova trilogia intitulada Prince of Fools tem como primeiro volume A Guerra da Rainha Vermelha e nesta obra somos apresentados ao galante, espirituoso, trapaceiro e completamente covarde Príncipe Jalan Kendenth de Marcha Vermelha. Um príncipe que adora se meter nas piores falcatruas para se conseguir dinheiro e claro, mulheres. Já no primeiro capítulo vemos Jal correndo para salvar sua vida (vamos ver muito isso no decorrer do livro). Alguns têm quedas por mulheres, Jal tem um tombo feio por elas. Totalmente hedonista (sempre com o prazer como objeto de vida).
“Sou um bom corredor normalmente, mas quando me borro de medo sou de outro nível.”
Mal ele chega todo maltrapilho no palácio já recebe uma convocação de sua vovó, a Rainha Vermelha, todos tem que se reunir na sala do trono, onde estão todos os descendentes da rainha. Todos os filhos e netos. Jal é o décimo na linha de sucessão, mas por não ser o favorito isso pode fazê-lo andar um pouco mais para trás na fila. Na sala do trono além da família e da corte também estão presentes alguns escravos, não que em Vermilion isso seja aceito.
“Vovó devia está caçando essas histórias a torto e a direito – Marcha Vermelha não tinha tradição de escravidão e eu sabia que ela não aprovava o tráfico.”
A velha rainha está à procura de alguém que possa falar sobre o Rei Morto e seu exercito de mortos vivos e natimortos. E assim conhecemos o futuro companheiro de aventuras de Jal, o nórdico Snorri ver Snagason (Snorri para os íntimos). Assim que Jal o vê já pensa em usá-lo nas rinhas para obter dinheiro para pagar suas dívidas, antes que seus credores o matem. Snorri está para ser liberto, e isso atrapalharia os planos do príncipe dos tolos. Com uma manobra aqui, uma mentira ali, Jal consegue seu homem para lutar nas gaiolas. O que é uma das partes bem interessantes. O Snorri é de meter medo por seu tamanho e força, mas tem um coração puro como de uma criança.
Nem tudo sai como o planejado, o nórdico foge e Jal, obviamente também. Como um príncipe, mesmo sendo um de quinta categoria Jalan tem seus “deveres” a cumprir na corte, desde a ir a batalhas (das quais ele prefere muito evitar) e eventos sociais (esses ele até gosta, menos as óperas). E é justamente numa dessas óperas que o destino de Jal muda completamente. Quando o pobre covarde se vê perseguido no teatro por um irmão ciumento (até porque pegar as três irmãs do mesmo cara é motivo pra querer matar o infeliz). Mais para o azar de Jalan, a conselheira de sua avó a Irmã Silenciosa, uma velha horrenda, decide colocar um feitiço no prédio que impede de quem está dentro de sair e de quem está fora de entrar. E Jal anseia e precisa sair antes que Alain DeVeer e seus capangas o peguem. Mais o feitiço da velha não quer que ele saia do prédio. Um feitiço que prende todos e em seguida queima tudo.
“O Rei Morto e essa Irmã Silenciosa, eles são mãos ocultas, que fazem um jogo com o Império, eles e mais outros, empurrando reis e lordes em seu tabuleiro.”
Não sem esforço Jal foge caindo num monte de dejetos (o que é bem cômico), mas não morre queimado. Mesmo assim depois de gritos extremamente afeminados ele corre do feitiço da velha, que insiste em persegui-lo. Porém ele dá de cara com o nórdico e a magia que deveria explodi-lo acaba se dividindo. Deixando Jal jurado pela luz e o nórdico jurado pelas trevas, cada um adquire uma espécie de consciência. Snorri tem a filha de Loki (deus da trapaça e mentira) Aslaug e Jal tem um anjo Baraqel (cheio de virtudes como um anjo deve ser).
“Então você recebeu uma beldade com a mente suja enquanto eu ganhei um devoto estraga-prazeres. Cadê a justiça aí?”
E a jornada desses dois tem inicio. Pois um não pode ficar longe do outro, pois a magia causa enfraquecimento. Snorri almeja ir ao norte para acabar com o homem que destruiu sua vila e levou seus filhos e esposa o Sven Quebra-Remo e isso não é nada vantajoso para Jal. Durante a jornada descobrimos mais sobre a história de Snorri e de Jal, que no fim pode até ter um coração, mas que sempre prefere se importar mais consigo mesmo que com os outros.
“Sou um mentiroso, trapaceiro e covarde, mas nunca, nunquinha, vou deixar um amigo na mão. A não ser é claro, que para isso seja preciso sinceridade, jogar limpo ou coragem.”
Quando Jal bate papo com seu anjo ele nunca fica feliz, pois Baraqel adora recriminar a obras de Jal. Surgindo enfim uma consciência às vezes bem pesada em Jal. O que o deixa completamente descontente, pois suas ações começam a mudar por conta dela. Sem que o mesmo as vezes nem perceba.
“Por nunca ter sido incomodado por uma consciência antes, eu estava longe de saber o que esperar dela. Então quando uma voz começou a sussurrar todos os dias, por um minuto ou dois, para eu ser um homem melhor, decidi que o choque dos acontecimentos recentes havia finalmente despertado a minha consciência. Ela tinha nome – Baraqel. Eu não gostava muito dele.”
Jal é um exímio mentiroso e acreditar nas suas mentiras é essencial como ele mesmo diz e para nós fica mais que provado que ele é realmente tão bom nisso, pois chegar ao ponto de ver somente o que a sua malcriada mente diz.
“Sou um bom mentiroso. Sou ótimo. E para ser ótimo mentiroso é preciso viver suas mentiras, acreditar nelas, de modo que,quando você repete muitas vezes para si mesmo,até o que está bem diante de seus olhos se dobrará à mentira.”
Por ser jurado pela luz Jal acaba desenvolvendo uma habilidade de cura, mas para seu azar ele não pode curar a si mesmo. Curar tem um preço à fraqueza. Ele é muito relutante em usá-la. O Demônio de Aral como também ficou conhecido Jal após lutar contra os Scorron é uma caixinha de surpresas. Como já dizia Sherek ele é como uma cebola “cheio de camadas”. Ambos em busca da chave que abre todas as portas e talvez até a da morte.
Além dos personagens novos e cativantes desta nova trilogia, temos também um reencontro com um velho conhecido. O jovem príncipe dos espinhos, o espinhoso Honório Jorg Ancrath, o primeiro vigarista pelo qual me apaixonei nas obras de Lawrence. Damos uma passada por Ancrath. Jal e Snorri dão de cara com os irmãos de estrada de Jorg e ainda se hóspeda no Castelo Alto. Jorg é realmente de dar medo e por isso Jalan não pensa duas vezes antes de sair do seu caminho. Não antes de tentar se engraçar com Katherine e Sareth (a puta Scorron como diria Jorg) e também uma passada no Circo do doutor Raiz-Mestre (“observem-me”). E outros segredos da trilogia dos espinhos são descritos também. O que vai me fazer ver com outros olhos um determinado personagem.
Foi um prazer inenarrável voltar aos reinos do Império quebrado, rever meus amados personagens, conhecer outros novos. Voltar ao universo onde homens mortos caminham, natimortos surgem das covas frescas e onde um povo dos pinheiros assombra florestas. Lawrence nos apresenta mais personagens maravilhosos com índoles duvidosas e ainda sim fáceis de amar. Com uma escrita magnífica que eu particularmente adoro em primeira pessoa. Com diálogos muito bem construídos e bem desempenhados.