Primavera de cão

Primavera de cão Patrick Modiano




Resenhas - Primavera de Cão


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Ster 24/04/2022

"Certas coincidências correm o risco de serem ignoradas por nós; certas pessoas aparecem em nossas vidas diversas vezes e nem sequer reparamos".

Primavera de Cão, terceiro livro da Triologia Essencial, de Patrick Modiano.

Após um segundo volume horrendo, haha, Patrick nos arrebata novamente, focando em um único momento de sua vida, os meses de convivência com o fotógrafo Francis Jansen.

Não é propriamente um relato de amizade profunda, mas como a proximidade (forçada, ao meu ver) com o fotógrafo marcou a juventude de Patrick de tal modo que é merecido falar sobre.

As reflexões que encerram a leitura nos fazem pensar sobre como uma figura, que tanto surge quanto desaparece repentinamente, é capaz de mudar ou dar sentido a um momento de nossas vidas.
DANILÃO1505 06/06/2022minha estante
Parabéns, ótimo livro

Livro de Artista

Resenha de Artista!




anoca 24/01/2021

¿
se encerra a trilogia conhecendo o autor tanto quanto antes de iniciá-la. a quantidade de informações dadas pela metade me estressou e frustrou. decepcionante.
só dei 1,5 estrela pq fiquei c dó do protagonista no final do livro
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ricardo_22 20/05/2015

Resenha para o blog Over Shock
Primavera de Cão, Patrick Modiano, tradução de Maria de Fátima Oliva do Coutto, 1ª edição, Rio de Janeiro-RJ: Record, 2015, 112 páginas.

Escrever sobre o livro Primavera de Cão apenas algumas horas depois de concluir a sua leitura pode ser um dos meus maiores pecados literários nos últimos tempos. Embora seja um livro simples, a ponto de ter lido em menos de duas horas, a obra do francês Patrick Modiano, ganhador do Nobel de Literatura em 2014, causa a necessidade de uma reflexão que ainda pode durar um bom tempo.

Primavera de Cão faz parte da trilogia essencial da obra de Modiano e, assim como outros trabalhos de sua autoria, tem a óbvia intenção de resgatar sentimentos e memórias de um passado que não apenas o transformou como também o perturba mesmo depois de tanto tempo. Mas antes de refletir sobre os acontecimentos descritos com o decorrer das páginas, é impossível não se perguntar se realmente existe algo que separa a ficção da realidade. A primeira conclusão é que isso não acontece.

No entanto, essa dúvida se deve muito ao estilo narrativo de Modiano. Como um bom livro de memórias, a narrativa é totalmente em primeira pessoa, porém não é o único detalhe. Muito se deve também a própria escolha das palavras. Ao menos no meu caso, as palavras foram responsáveis por me aproximar do narrador a ponto de em dado momento sentir que aquelas memórias, tão significativas para ele, se transformaram em minhas próprias memórias. O que pode ser muito maluco para se pensar.

As memórias em Primavera de Cão giram em torno da amizade entre o narrador e o misterioso fotógrafo Francis Jansen. Assim como acontece com o narrador, o passado também perturba essa personagem e talvez tenha sido o fator mais envolvente durante toda a leitura. Mais do que isso, Jansen é uma personagem da qual podemos esperar tudo e nada ao mesmo tempo, em especial por sabermos desde o início que ele viajou e nunca mais deu notícias.

Para mostrar essa relação de amizade, Patrick Modiano explora o que de melhor existe no cenário utilizado, ou seja, a cidade de Paris na década de 60, porém os sentimentos tomam uma proporção muito maior do que o próprio cenário. Isso acontece conforme se nota a importância e principalmente a necessidade de se contar essa história, por mais simples que possa parecer.

site: http://www.overshockblog.com.br/2015/05/resenha-326-primavera-de-cao.html
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Higor 04/06/2016

O valor da amizade
Depois do fabuloso 'Remissão da pena' e do frustrante 'Flores da ruína', eu não sabia o que esperar de 'Primavera de cão', a conclusão da trilogia essencial/autobiográfica do autor, apesar de todos os que leram afirmarem sem medo que, dentre os três, é o melhor.

Diferente nos outros dois, que abordaram a infância e adolescência, respectivamente, neste temos o nosso Modiano aos 19 anos, conhecendo Francis Jensen, um fotógrafo, daí nasce uma amizade peculiar, e 30 anos depois, o autor/protagonista se lembra dos tempos estranhos em que conviveram, até o homem desaparecer do mapa.

Surpreendentemente, temos aqui um plot mais leve, como o próprio título sugere, mais primaveril. Eu particularmente não imaginava os dias nebulosos de todos os outros livros, nem a chuva citada em determinado trecho, mas um sol um sol agradável para quem caminhasse por Paris.

O mistério da vez é saber para onde Francis foi, e sua participação na vida de Nicole, uma moça casada com um mímico que a violenta em casa. Como estamos acostumados com Modiano, sabemos como encarar tais assuntos. O frescor do livro se dá por conta da amizade entre os dois, e o leitor certamente vai se perguntar sobre aqueles a quem amamos mas, por motivos variados, não estão mais conosco.

Embora não de maneira sensacional, Modiano nos conta em pouco mais de 100 páginas o valor de uma amizade. O valor de sua amizade com Jensen que, apesar de não ter sido a melhor, a mais incrível, ou a fabulosa, teve seu valor e importância na vida do autor. É um livro que facilmente nos identificamos. pois tivemos amigos que perdemos e não samos o motivo, ou que não nos interessamos em recuperar...

Enfim, um livro de amizades que se foram, e que, por um motivo ou outro, não voltarão. Simples, redondinho, mas singelo.

Este livro faz parte do projeto 'Lendo Nobel'. Mais em:

site: leiturasedesafios.blogspot.com
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Manu 11/02/2020

Sensível
"De fato, escreve-se com palavras, e ele buscava o silêncio."

Quis vir aqui antes de ler qualquer outra opinião, com o intuito de fazer este comentário o mais sincero possível, com medo de que a memória dessas palavras se misturem na paisagem como tantas outras. Pessoas vão e vem, histórias se perdem, se confundem...
E é com muita sensibilidade e leveza que Patrick Modiano conta e registra, ao juntar informações espaçadas e as suas próprias memórias, sobre o fotógrafo Francis Jansen. Homem que, hora o causa admiração, hora o intriga, hora simplesmente o reflete como um futuro certo; confundindo a percepção da própria existência. E desta forma tenta, por meio de palavras, traduzir o silêncio provocado pela vida e obra de Jansen.
É um livro que tanto pode ser degustado ou ser tomado de uma vez como uma boa dose de bebida forte. Tudo se vai, tudo se consome com o tempo. Ficam as memórias turvas e de vez em quando, a gente acaba caindo sem querer em um "buraco negro".
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Candace 10/07/2020

Um livro da vida real
Um belo livro sobre a vida como ela é. Com reflexões a respeito do silêncio, da solidão e do fim. Todas as coisas naturalmente chegam a um fim. A história em si não é importante, a intenção do livro é nos levar a refletir. Subjetivo, profundo e melancólico.
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Fla 13/04/2021

Leve e envolvente
Se você procura um livro de leitura rápida, porém profunda e envolvente, Primavera de Cão do renomado Nobel de Literatura Patrick Modiano é uma opção que deve ser considerada. A narrativa é envolvente e rica em detalhes que retratam uma primavera já longínqua.
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Ana.Isabel 18/08/2021

Primavera de Cão - Patrick Modiano
?Aos 19 anos, na primavera de 1964, conheci Francis Jansen, e até hoje quero contar o pouco que sei dele.?

Um livro que fala da ausência, fala de memórias... e faz a comunicação do silêncio: fotos de desconhecidos, fotos de objetos, de lugares. Fotos: o estático, o sem som, que tanto fala!
????
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Café & Espadas 27/05/2015

Resenha Primavera de Cão
A "sobreimpressão" de primaveras é guia e ponto de referência nesta obra de Patrick Modiano. Aqui há o mesmo elemento fundamental da narrativa utilizado nos outros dois romances: o prescrutamento do passado - uma busca por elos significantes que façam com que autor compreenda sua própria vida, e veja com mais nitidez os fatos, agora que os rememora, do que nos momentos mesmos em que foram vividos.

"Tenho a impressão de que são outras pessoas, quer por causa do tempo transcorrido, quer pelo que Jansen captou com sua objetiva e que nós, naquela época, não teríamos visto mesmo se nos olhássemos no espelho: dois adolescentes anônimos em Paris."

De modo análogo à "busca do tempo perdido" proustiano - análogo, não idêntico! -, estas três obras de Modiano - Remissão da pena, Flores da ruína, e a obra em questão, Primavera de cão - possuem o mesmo modo narrativo: a meditação tanto e fatos incomuns quanto em triviais, tentando encontrar a linha mestra que rege seu destino.

É interessante o elemento paradoxal que o autor põe como comparativo: ele conhece o fotógrafo Francis Jansen por acaso e acaba ficando "próximo" dele - se é que se pode ser "próximo" de alguém ensimesmado. Jansen é um tipo melancólico e reservado; evita companhias; tem a casa quase vazia - uma cama, um sofá, duas poltronas, tudo distante uns dos outros para provocar uma sensação de vazio, e a cozinha. Na parede, duas fotografias: uma mulher, que cruzara a vida do narrador na infância, e uma foto do próprio Jansen ao lado de seu mestre Robert Capa. Aquelas duas pessoas já haviam morrido, e o autor atribui a isso o progressivo ostracismo do fotógrafo - embora na própria fotografia com Capa, Jansen já apresentasse um "sorriso tímido e melancólico..."

"Na foto, Jansen aparecia como uma espécie de duplo de Capa, ou, melhor, um irmão caçula que o outro tivesse tomado sob seus cuidados. Enquanto Capa, com os cabelos castanho-escuros, o olhar sombrio e o cigarro pendente no canto da boca, exalava ousadia e alegria de viver, Jansen, louro, magro, olhos claros, sorriso tímido e melancólico, não parecia nada à vontade. E o braço de Capa, descansando no ombro de Jansen, não era apenas amistoso. Dava a impressão de sustentar o jovem fotógrafo."

O belo contraste metafórico - e, não sei se intencionalmente, mas também filosófico - entre a imagem e a reflexão foi o que mais me chamou a atenção:

"Os anos se passaram e, longe de borrar a imagem de Jansen e Capa, tiveram o efeito contrário: agora a tal imagem é bem mais nítida na minha memória que naquela primavera."

Aqui passo a finalizar esta resenha com uma sentença pessoal, sem ser a conclusão mesma desta obra: clareando, dando nitidez ao passado, estamos aptos a enxergar também o presente com maior clareza, e, consequentemente, fundar com mais segurança nossos pés na realidade: e assim, concretamente, caminhar com passos sólidos para o nosso futuro - o qual já não mais será algo evanescente como um sonho incerto.


site: http://cafeespadas.com/?p=3074
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Aline T.K.M. | @aline_tkm 01/10/2015

Livro de sutilezas e nuances, de solidão e melancolias
Primavera de cão conclui a Trilogia Essencial do francês Patrick Modiano, laureado com o Nobel de Literatura em 2014. Mais uma vez realidade e ficção se fundem, resultando num romance habitado por personagens – ou pessoas reais – evasivos e, por isso mesmo, intrigantes. Em minha opinião, o melhor da trilogia, que é composta por volumes independentes entre si.

As recordações do narrador têm início na primavera ensolarada de 1964; ele tinha então dezenove anos. Está com a namorada num café na place Denfert-Rochereau quando por acaso conhece o fotógrafo Francis Jansen, que aproveita para clicar o casal para uma reportagem de uma revista americana.

Jansen e ele logo se tornam amigos, e o jovem se oferece para organizar e catalogar em cadernos vermelhos Clairefontaine todas as fotos do fotógrafo, largadas dentro de maletas em seu ateliê. Reservado e um tanto recluso, Jansen evita o contato com pessoas que um dia lhe foram próximas e não fala abertamente de sua vida. Prefere o silêncio e as reticências; é só a partir de poucas palavras e duas fotos penduradas na parede de seu ateliê que tomamos conhecimento de duas peças importantes de seu passado: Robert Capa e Colette Laurent. O primeiro foi um grande amigo e fotógrafo, e a segunda, uma antiga namorada.

Em um verdadeiro resgate das memórias daquela primavera, o narrador percorre ruas e bairros do passado, busca pessoas não mais vistas e de quem pouco sabe, e tenta juntar os pedaços de uma figura chamada Francis Jansen. Sua passagem é efêmera: no fim daquela mesma estação o fotógrafo partiria para longe e definitivamente, de forma repentina e sem jamais mandar notícias. Ficam apenas as lembranças.

Pois o narrador, ao evocar Jansen e a amizade entre eles, trata de registrar o quanto pode daquele tempo, das pessoas e lugares, numa tentativa de evitar seu iminente desaparecimento e deixando pistas que comprovem que um dia existiram. Que é o que fazia ao catalogar as fotos do amigo naquele ano de 1964, quando era um jovem aspirante a escritor. O mesmo que fazia também Jansen, fixando em imagens coisas, pessoas e locais, e nomeando-os no verso de cada fotografia.

Entre espaços vazios e a melancolia daquela primavera longínqua, é com doçura e tristeza que o narrador vai passando por situações que marcaram a breve mas intensa convivência com Jansen. Uma ex-amante e seu marido mímico de quem tentaram, o jovem e o fotógrafo, se esquivar; a silenciosa reunião de despedida com os poucos amigos que lhe restavam; uma última caminhada por Paris na véspera de sua partida; o ateliê vazio, a constatação de que Jansen havia ido embora e que já não valia a pena esperá-lo.

Sem as tantas dispersões presentes nos outros dois livros da trilogia, aqui a figura de Jansen é o ponto central do início ao fim; talvez por isso Primavera de cão ganhe um brilho ainda mais especial. Embora continuemos sabendo pouco mesmo no desfecho, passamos a nos interessar por esse cara tão vago e ausente, mas tão único, que é Jansen.

No fim, pouco importa saber aonde exatamente ele foi parar ou o que foi feito de todas aquelas fotos. No fim compreendemos, os leitores e também o narrador, que tudo consiste – como dizia o próprio Francis Jansen a respeito da função do fotógrafo – em fundir-se à paisagem, tornar-se invisível. E assim captar a luz natural. De todas as coisas.

LEIA PORQUE...
Primavera de cão é um livro de sutilezas e nuances, de solidão e melancolias.

DA EXPERIÊNCIA...
Tão simples e, ao mesmo tempo, complexo. Como disse logo no primeiro parágrafo, este foi o que mais gostei dos três livros que compõem a trilogia.

FEZ PENSAR EM...
...todas as coisas que já não existem mais.


site: http://livrolab.blogspot.com
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Willyane.Bruna 22/08/2017

Foi meu primeiro contato com o autor e , sinceramente, esperava mais. Apesar de bem curto- pouco mais de 100 páginas- demorei para concluir a leitura. O autor relembra passagens da infância durante todo o livro, mas.. não me tocou! achei muito enfadonho e ruim.
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Arthur 03/01/2018

Primavera de cão: uma tentativa (e um questionamento) da representação do vazio, da ausência
"Primavera de cão" corresponde a um relato simples, límpido, nostálgico e objetivo, apesar de lacunar, acerca da primavera de 1964, quando o narrador conheceu uma figura marcante em sua vida: o fotógrafo Francis Jansen ("Aos 19 anos, na primavera de 1964, conheci Francis Jansen, e hoje quero contar o pouco que sei dele.").

Recolhendo reminiscências e mesmo materiais documentais, o narrador procura escrever uma espécie de biografia dessa figura enigmática e nebulosa, mesmo tendo consciência de que pouco sabe acerca de quem ele realmente era ("Jansen continuará sendo alguém que não tive tempo de conhecer"). Para tal, revisita a época em que o conheceu e com ele esteve em contato (a primavera de 1964), desde o encontro em um café na place Denfert-Rochereau até o seu último encontro com Jansen, na véspera da partida repentina deste para o México, além de momentos posteriores, nos quais a figura do fotógrafo, ainda que distante (e, por que não, ausente) fez-se presente.

Com um discurso claro e natural, Patrick Modiano nos narra acontecimentos como se estivéssemos diante dele, tendo uma conversa com uma pessoa que busca reconstituir a história de alguém que, embora quisesse o esquecimento, ele acha digna de ser contada. Com isso, promove um esforço de transformar as reticências em algo mais palpável. Enfrenta a vagueza e a distância típicas do seu relacionamento com Jansen (modos de o fotógrafo manter-se fechado em si) a fim de delinear mais nitidamente a sua imagem. Entretanto, o que produz é uma narrativa turva e imprecisa, carregada de uma aura nostálgica e cinzenta.

A edição nacional da editora Record é primorosa. A capa captura e exprime a essência da obra, com uma fotografia bela e cinzenta, repleta de um sentimento de nostalgia e abandono. Tanto a qualidade do papel (sua gramatura e cor) quanto a diagramação do texto (com fonte e espaçamento grandes) são ótimas, permitindo uma leitura muito mais fluida e agradável (o que a própria narrativa já permite).

Assim, "Primavera de cão" traduz o empenho no processo de registro de uma figura apagada como um fotografia em polaroide, que, na verdade, sempre buscou esse estado de apagamento. Corresponde a um embate entre memória e esquecimento, entre palavra e silêncio ("Um dia, talvez, eu consiga romper essa camada de silêncio e esquecimento"). É uma tentativa (e, inclusive, um questionamento) da representação do vazio, da ausência.
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Leila de Carvalho e Gonçalves 12/07/2018

O Papel Da Memória
Essa é a última novela da trilogia essencial de Patrick Modiano em que ele reúne elementos autobiográficos e ficção para narrar uma história p. Quem quiser realmente conhecer o passado do escritor, essencial para a compreensão de sua obra, sugiro seu livro "Pedigree", infelizmente, ainda indisponível em português.

Publicado em 1993, "Primavera de Cão" gira em torno da breve amizade entre o narrador adolescente e Francis Jansen, um fotógrafo que está prestes a deixar Paris para recomeçar a vida no México. Jansen é um homem amargurado que perdeu o melhor amigo e a única mulher que amou, portanto, a ideia de romper com o passado não só lhe parece plausível como tentadora.

Trinta anos depois esse assunto volta à baila, quando o narrador sente o mesmo desejo, aliás, esse é o principal assunto ao longo da leitura, o papel da memória na condução de nossas vidas.

Vale atentar que enquanto Jansen é uma criação literária de Modiano, Robert Capa (1913-1954) foi um dos mais eminentes fotógrafos do século XX. Colette Laurent, a grande paixão de Jansen, também existiu, foi uma aspirante a atriz e modelo de Capa. Essa fusão entre personagens reais e imaginários é sustentada por uma descrição minuciosa de Paris na década de sessenta, logo, enquanto Modiano constrói uma tênue linha entre o real e o irreal, ele também lança uma névoa entre o passado e o presente, trazendo à luz alguns fatos e ocultando o que bem quer, criando histórias que apontam para a incompletude e instigam a reflexão do leitor.

Para finalizar, Jansen possui aspectos em comum com o pai do narrador. Ambos eram judeus, conseguiram escapar do campo de concentração de Drancy e desaparecem sem deixar vestígios. Albert, pai de Modiano, apresenta estreita semelhança com eles, exceto pelo fato que jamais sumiu, passava longos períodos ausentes, mas sempre retornava até sua morte em 1977.

Modiano é um escritor difícil, pois é preciso conhecer seu universo criativo para alcançar a dimensão do seu talento e passar a admirá-lo. Não deixe de conhecê-lo.
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Lusia.Nicolino 28/02/2021

Passear por uma Paris quase sem luz
A narrativa em reticências de Modiano encerra sua trilogia com Primavera de cão.
Nele, o fotógrafo Jasen – que trabalha para uma revista estadunidense – escolhe ao acaso um jovem casal para servir de modelo. Um misto de preguiça e de bom olho na arte de escolher o que melhor representa uma Paris de tantos ângulos.
É primavera de 1964. Nosso narrador, aos dezenove anos, se torna assistente desse fotógrafo quase misterioso. Uma admiração velada que o leva a catalogar as fotos encontradas no ateliê de Jansen. Três maletas. Sempre prontas? Fotos contam histórias, mas quem consegue preencher seus hiatos? Nosso narrador perambula por suas lembranças trinta anos depois desse período. Jansen ainda vive?
Modiano recria como ninguém a atmosfera em que vivia a juventude dos anos sessenta. E, cumprindo seu papel de encerramento da trilogia, essa obra também não deixa de lado a confusão temporal que encontramos em Remissão da pena e Flores da ruína. Há sempre uma busca através das memórias e o desejo de consolidar uma identidade através de alguém. Modiano mesmo classificou sua obra como uma autobiografia inconsciente e sem clareza. Mas, vale a pena conferir.

Quote: "Ele estava em busca de uma inocência perdida e de paisagens feitas para a alegria e a despreocupação, mas onde, de agora em diante, não era possível ser feliz."


site: https://www.facebook.com/lunicolinole
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