nathaliart 27/07/2022
O perfil do brasileiro
Peguei a HQ de Quintanilha sem muitas esperanças, já que esse ano estou tendo dificuldades para ler. Queria algo que fosse instigante e capturasse minha atenção, ainda que pouco, mas fosse rápido de ler e entender. Que escolha acertada!
No início, estava achando a forma como ele conduzia o texto um pouco monótona, a intensa repetição sobre a diferença entre pensar e sentir me pareceu um pouco chata, mas depois passou a fazer bastante sentido. O que o autor faz nesse quadrinho é construir a destruição de sua personagem, capturando o exato momento em que um sentimento de longa data explode dentro dela, transformando sua vida.
Por mais privilegiada que seja sua vida, por mais perfeita, Rosângela parece nunca estar feliz pelo simples fato de possuir inveja de sua prima: mais bonita, com melhor sorriso, apesar de mais pobre. É aquela velha história da disputa unilateral, em que somente uma das pessoas sabe que está disputando algo. Mesmo tendo "tudo de melhor" que a prima, Rosângela entra de cabeça na autodestruição de sua própria vida, na tentativa de superar uma pessoa que apenas luta para alcançar seus sonhos.
A HQ rende análises de muita complexidade, uma vez que Quintanilha consegue, de fato, retratar com maestria a vida do brasileiro de classe média, preso no seu próprio mundinho e incomodado com a possível ascensão do pobre. A mesquinharia, o egoísmo, a cegueira pontual, a indignação e, é claro, a inveja -- que é visivelmente estampada na feição da personagem logo na capa.
Minha única ressalva seria o final... talvez por estar muito instigada, eu esperava que a história fosse se desenvolver mais rs e ter mais desastres. Ainda assim, gostei bastante. Recomendo!