Resenhas - O frágil toque dos mutilados

Ju 13/10/2016

Um livro mergulhado até o fundo em realidades individuais. Comportamento humano andando na corda bamba, um passo de cair. Magnólia e seu rastro de tensão por onde passa, uma dor e um gozo habitando lado a lado dentro do peito dela. Temas densos e melancólicos buscando superar algo que parece insuperável, anos de quem somos. O livro é escrito em forma de um diário de 28 dias e se inicia de maneira tensa no vigésimo oitavo dia, recurso que nos faz querer saber como a situação chegou naquele pé. Ao longo do livro a narrativa é envolvente e você vai adensando nos comportamentos íntimos e secretos de cada um, ora se identificando, ora com raiva, ora com pena, raramente nos alegramos juntos. Quando chega ao final os mistérios são explicados, mas embora a descoberta seja algo imprevisível na minha cabeça não fez muito sentido. A carta que explica um segredo afogado no mar me decepcionou, eu não conseguia ver veracidade nas palavras daquela que escreveu, ninguém esconde um transtorno tão aparentemente violento por tanto tempo, dividindo a cama, não passa imperceptível. Fora isso achei tbm que o soco dado pelo amante de Virgínia estava completamente fora de contexto e foi dado somente pra nos enganar. Esses dois episódios me decepcionaram no finalzinho, mas um livro não é feito só de final e achei a construção dos personagens surpreendentemente reais. Recomendo a leitura

Peterson 20/03/2016

Vinhos e loucuras
O "spoiler" é leve.

Ao ler "O frágil toque dos mutilados", as referências à música, a vinhos, à comida boa, à vida que se perde em pequenos desvãos do cotidiano, a vida se ressignifica e o leitor vê uma efervescência de inúmeros sentimentos se misturando conforme agem os personagens.

Magnólia, figura central dessa narrativa, tem uma elegância atroz e aterrorizante. É ela quem dá nós nos nós que eu, enquanto leitor, me permito com os personagens. A loucura que assumi quase transbordava a dela. E os pequenos furos que ela fazia em si fazia meu sangue também escorrer.

A trama se arranja de uma forma meio transtornada (para manter o teor semântico da obra) e o leitor fica com vontade de "quero saber mais dessas pessoas".

Ou, então, pretende-se enólogo.

O tema "transtorno de Borderline" já havia me fascinado numa peça homônima que correu o Brasil, de um autor potiguar, e revê-lo num romance tão bem escrito me faz entender um pouco mais desse universo habitado por Magnólia e seus vinhos.