Discurso Sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens

Discurso Sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens Jean-Jacques Rousseau




Resenhas - Discurso Sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens


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Igor 04/04/2014

Resumo
No ano de 1755 Jean-Jacques Rousseau publica sua obra intitulada “Discurso sobre a Origem e Fundamentos da Desigualdade Entre Homens” com o intuito de responder o que causou as desigualdades sociais. Neste livro, Rousseau já apresenta temas que farão parte da sua obra mais famosa, “Do Contrato Social”¸ de 1762. O “Discurso” é uma obra que faz uma profunda análise da natureza humana, mostrando como seu desenvolvimento levaria à inevitável desigualdade do estado civil, mas não apresenta nenhuma solução para esse problema. Apenas no “Contrato Social” Rousseau tenta mostrar uma forma de nos libertarmos dos grilhões a que nos aferroamos quando abandonamos nosso estado de natureza.

Rousseau começa por fazer uma distinção entre desigualdades naturais e desigualdades sociais, mas como seu objetivo é descobrir a causa das desigualdades sociais, ele faz apenas uma breve análise dessas desigualdade naturais a fim de saber se existe alguma ligação entre ambas, ou se destas derivam aquelas. Em partes, talvez a preocupação inicial de Rousseau fosse mostrar que não existe nenhuma razão que se possa buscar na natureza para a dominação e para a escravidão, justamente onde Aristóteles foi para tentar justificar que alguns homens nascem para dominar e outros para a escravidão. Para Rousseau, os escravos nascem na escravidão, não para a escravidão. “Se há, pois, escravos por natureza, é porque houve escravos contra a natureza”. Assim, se quisermos saber as causas da escravidão e das demais desigualdades sociais, temos que olhar para algo anterior a isso, para o estado de natureza. No entanto, não se pode confiar na conclusão que alguns filósofos como Hobbes e Locke tiraram sobre tal estado. Para Rousseau, os filósofos viram no estado de natureza um homem já civilizado, junto com todos os sentimentos que só nascem com a civilização, que apenas nela fazem algum sentido. A causa das desigualdades remonta a algo anterior, bem anterior ao que pensavam Hobbes e Locke.


Anterior aqui não é visto como algo temporal. O próprio Rousseau se questionava se houvera alguma vez na história algum estado de natureza. De acordo com o que pensavam saber no século XVIII, o mundo não tinha mais de seis mil anos, assim, não haveria tempo para todo esse processo de civilização descrita no "Discurso" ter ocorrido. Eram apenas hipóteses, criadas a fim de chegar à natureza do homem. O estado de natureza rousseauniano estava próximo de um método, de uma construção artística e criativa, baseada na história e no conhecimento que tinham sobre tribos selvagens. Se houve ou não um estado de natureza, para Rousseau, o que importava era conhecer o homem para a partir daí retirar a causa das desigualdades entre eles. E ele começa mostrando como a civilização vai, aos poucos, produzindo desigualdades físicas, que deveria apenas serem atribuídas a natureza. O selvagem não sofre das inúmeras doenças do homem civilizado, nem da sua aparente neurastenia. Não carecem de tantos cuidados nem de tantas ferramentas. À medida que vai se tornando mais civilizado, o homem começa a perder essa força e essa independência original, que culminará mais tarde na desigualdade e na escravidão.


Essas diferenças acentua o erro dos filósofos anteriores, de tentar tratar o homem em estado de natureza como se fosse um homem civilizado. Além dessas distinções, Rousseau nos apresenta uma outra: uma distinção metafísica e moral. Para ele, o que difere o homem selvagem do animal não é a racionalidade, mas a liberdade e a capacidade de aperfeiçoar-se. Essa é o que ele chama de "perfectibilidade", que consiste, basicamente, numa capacidade de aprender com os erros, de desenvolver-se, de prever, embora não com tanta precisão. Outra distinção diz respeito à moral. Mesmo não dispondo de normas de conduta, no estado de natureza os homens não sucumbiam à guerra de todos contra todos. Não conheciam a vingança, pois ainda não tinham posse daquela que seria uma das primeiras propriedades: a imagem. Nada que não fosse imediato lhes afligia. “De manhã, vendeu seu colchão de algodão e, à noite, vem chorar para recomprá-lo, por não haver previsto que careceria dele para a noite seguinte”. Nesse cenário, a eterna beligerância intercalada por estados de paranóia do estado de natureza hobbesiano não se afigura num estado de natureza que leva em consideração os homens selvagens, não os civilizados.

Rousseau observa que também o homem não poderia organizar-se em grandes grupos, uma vez que era desprovido de linguagem. Mesmo sem saber quando começou a fazer uso desse recurso, alguns argumentos são importantes para essa compreensão. A linguagem só poderia se desenvolver se fosse necessário, e nesse caso não era. Nesse “estado primitivo, não tendo nem casa, nem cabanas, nem propriedades de nenhuma espécie” o homem era extremamente solitário. Eles preferiam a solidão às guerras incessantes do estado de natureza hobbesiano. Se alguém lhe tomasse o alimento, buscaria outro, uma vez que não dispunha ainda do conforto e do apreço à imagem que são frutos da civilização. Também não dispunham de obrigações morais, mas isso de modo algum os jogava uns contra os outros. Eles dispunham apenas da piedade, sem a qual, observa Rousseau, nenhum moral faria sentido. A razão, por sua vez, é o que atrofia essa piedade, o que faz o homem olhar para si mesmo e se sentir diferente do outro que sofre, de saber que aquele não é o seu sofrimento, que faz o homem “ensimesmar-se”.

Ora, se no estado de natureza era tal, como conhecemos a injustiça? Se o homem nasce bom, e a sociedade o corrompe, quem criou essa sociedade corrupta? O motor para essas mudanças foi a própria perfectibilidade. Esse movimento parece levar o homem inevitavelmente à desigualdade e à injustiça civil. “O primeiro que, tendo cercado um terreno, atreveu-se a dizer: Isto é meu, e encontrou pessoas simples o suficiente para acreditar nele, foi o verdadeiro fundador da sociedade civil”. Essa famosa frase de Rousseau expressa bem o que ele tenta nos mostrar, mas faz parecer algo que seu deu de repente, não um processo lento e gradual, como mostra por toda a obra. Essa perfectibilidade¸que faz com que o homem se aprimore mais, fez com que, por exemplo, ele criasse armas e instrumentos, se juntasse a outros homens para caçar e desenvolvesse uma linguagem menos rudimentar. No entanto, o homem permanecia solitário. Apenas quando essas “novas luzes” fizeram com que o homem olhasse para si mesmo, tomando ciência de sua existência, ele obteve sua primeira propriedade: ele era o primeiro indivíduo. Junto com isso veio o orgulho. O orgulho de saber-se melhor que outros, e o medo de saber-se mais fraco que outros. Para abrigar-se, passou a viver em cavernas e outros abrigos. Seus filhos passaram a viver com ele e também sua companheira. Criou-se a divisão do trabalho e a primeira forma de estado: a família. Outras famílias se juntaram por inúmeros motivos, a linguagem começava a se formar, a comunidade, as artes, os ritos, etc.

Aqui também começam os males do amor-próprio. Reunidos em grupo para divertirem-se, cada um começou a olhar para o outro e tentar ser o melhor, o mais belo, o mais forte… As injúrias poderiam ser punidas, pois elas feriam a imagem, a propriedade, e a ciência do amanhã levava à vingança. Surge a comodidade oriunda dos instrumentos que inventara, com a qual o homem não pode ser feliz, mas sem a qual teria uma grande infelicidade. No entanto, para Rousseau, esse teria sido o momento mais feliz, situado entre “a indolência do estado primitivo e a petulante atividade de nosso amor-próprio”. Quando, munido de sua perfectibilidade, o homem percebeu que era mais vantajoso ter mais do que precisava, surgiu a propriedade privada, e com ela toda noção de justiça e injustiça, surgiu a riqueza, a pobreza e a escravidão. Esta última, um privilégio de todos na sociedade civil, pois todos abandonaram a liberdade do estado de natureza pela dependência mútua e a comodidade da civilização. A acumulação de bens gera a pobreza, o que gera a preocupação dos ricos em manter suas propriedades. Com isso, surge um acordo que garante a todos a posse do que lhes pertence, e os mais pobres, por conta da comodidade adquirida ao abandonar o estado de natureza, aliada à promessa de prosperidade que lhes alimente a auto-estima, aceita de bom grado que lhes ponha ferros nos tornozelos e lhes tornem escravos. Estes, em troca de maior conforto, acabam por ceder cada vez mais da sua liberdade, criando assim os governos despóticos.

Nesse quadro social desastroso, repleto de egoísmo, onde a proteção da propriedade privada é a única coisa que garante a justiça, aparentemente a volta ao estado de natureza seria a única solução. No entanto, essas expectativas são logo frustradas por Rousseau: não existe retorno. Mesmo que houvesse algum modo, a perfectibilidade poderia pôr tudo a perder novamente. O mesmo movimento poderia gerar os mesmos efeitos. Assim sendo, o que nos resta, afinal? A única alternativa que temos é aprender a conviver de forma justa, harmoniosa e livre dentro da própria civilização. Essa é a proposta do "Contrato Social", onde Rousseau propõe que todos devem unir-se em torno de um ideal comum, de uma Vontade Geral, que garanta a liberdade, a igualdade e a justiça perdida na passagem do estado de natureza para a sociedade civil. Não se trata da soma de vontades particulares, nem 50% mais um do total das opiniões de uma sociedade, mas a expressão de cada um sobre o que pensam ser o direito de todos e o dever do Estado. Não se trata, pois, de submeter-se à vontade de outros, tornando-se assim mais uma vez escravos, mas da própria vontade manifesta na Vontade Geral. Obedecer à vontade geral é obedecer à própria vontade, o que se configura como um ato plenamente livre. O Estado é a unidade da vontade geral, a força que garante que a vontade geral prevalecerá sobre as vontades particulares.
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Gustavo.Moura 27/05/2020

O texto de um gênio. Embora extremista em seu ponto de vista, dele se pode tirar valiosas lições para entender nossa sociedade e nós mesmos.
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Melancólico Relato 29/01/2024

Pontos interessantes
Neste livro tive a alegria de pegar menções a um outro que também estou lendo no momento: Leviatã.

Trata de temas diversos, já que não é completamente voltado à pergunta sobre a desigualdade entre os homens. Poderia destacar, dentre os mais memoráveis:

? A crítica ao foco excessivo no estudo das artes, que para ele eram sinais de luxo e vaidade, e como isso enfraquece moralmente a sociedade;

? A questão onde caracteriza o consumismo, ou como ele (se a minha memória não falha) apresentou: o fato de comprar jóias não é por si só ruim, mas sim quando o fazemos sem sentido algum, somente pelo luxo.

Percebe-se que o autor toca muito na questão moral (cristã) dos assuntos, o que é entendível devido à época em que é escrito.

Já na parte final do livro, chegamos no que considero mais interessante, que é a explicação para a desigualdade: ela PRECEDE às sociedades, dando-se a partir do momento em que se estabelece a PROPRIEDADE, e que, por necessidade de proteger essas propriedades, os donos se juntam e formam um pacto, um contrato entre si, uma constituição.

Um ponto importante de notar é que, com o surgimento da primeira sociedade, todos os demais povos vêem-se OBRIGADOS a formá-las também, principalmente como meio de defender suas propriedades não só de pessoas individuais, mas também de outras sociedades; com isto, inicia-se uma espécie de reação em cadeia.

Como um todo, vale a pena ler (pra quem gosta de direito, ciências políticas, sociologia e afins) e não tomará muito do seu tempo, já que é um livro curtinho.
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Raina.Carrion 17/05/2024

"Uns morrendo por necessidade e outros por excesso"
A escrita é um fluxo constante que conecta um pensamento no outro, sendo muito dinâmica e gostosa. É uma sucessão de acontecimentos desde as origens do ser humano, em que o autor desenvolve sua linha de pensamento com argumentos fortes e eloquência.
Além disso, os comentários ligeiramente ácidos e a convicção do autor tornam a leitura emocionante, fazendo o leitor mergulhar na obra. As notas são como curiosidades estendidas muito interessantes.
O que outrora pode ter sido considerado natural é fortemente questionando após a leitura. Rousseau nos leva a pensar em diversos detalhes que passavam batido.
Por fim, é incrível ler um dos filósofo que estudei na escola rebatendo outro filósofo, o Hobbes.
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Juliana 03/11/2013

Trecho do livro
"Concebo na espécie humana duas formas de desigualdade. Uma, que chamo de natural ou física, porque é estabelecida pela natureza e consiste na diferença das idades, da saúde, das forças do corpo e das qualidades do espírito e da alma. A outra, que pode ser chamada de desigualdade moral ou política, porque depende de uma espécie de convenção e que é estabelecida, ou pelo menos autorizada, pelo consentimento dos homens. Esta consiste nos diferentes privilégios de que gozam alguns em prejuízo dos outros, como ser mais ricos, mais honrados, mais poderosos do que os outros ou mesmo fazer-se obedecer por eles." pg 33
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Pavani 01/02/2024

Gostei muito da reflexão de ato e consequência abordado durante o livro, assim como o contraste do homem selvagem na natureza e o homem civilizado com suas amarras sociais, inveja e outros problemas decorrentes do convívio social.

Algumas coisas são para se ignorar como o papel que ele entende que as mulheres ficam sujeitas, mas acho que este aspecto da pra passar um pouco de pano para o "contexto histórico".

Leitura boa e curtinha, muito bom.
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Açúcar 10/02/2010

O livro é dividido em duas partes, na primeira é apresentado o homem em seu estado de natureza, ou seja, o estado hipotetico no qual o homem vive sem a sociedade. Esse é um estado caracterizado como positivo na visão de Roussea, nesse momento o homem vivia isolado e necessita de outros para suprir suas necessidades. Na segunda parte o autor demostra como surgiu a sociedade civil , que para ele significou o surgimento das mazelas humanas, os individuos não conseguiam se satisfaziam apenas com suas necessidades naturais, o homem não conseguia mais viver por si próprio, esse é um preíodo marcado por explorações de uns sobre os outros
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Gabriel Santos 21/06/2023

Excelente! !!!
Apenas um belo livro de Jean-Jacques Rousseau. Muito bem traduzido e o livro é de fato interessante para quem gosta do Rousseau e da filosofia em sí. Muitas dúvidas, respostas e até mesmos frases que nos ajudam a compreender melhor o homem e a sociedade, as formas de desigualdade e como o homem consegue se corromper apenas usando ele próprio contra sí mesmo. Recomendo ler com calma para absorver o conteúdo , independentemente do tempo que levar apenas aprecie esta obra.
Laura 24/06/2023minha estante
Amg, a leitura é fácil?


Gabriel Santos 28/06/2023minha estante
Leitura difícil não seria o certo, mas é complexa para deixar um pouco confuso.




Gabriel 20/10/2012

Um livro que ajudou a modelar em grande parte a forma como eu vejo a sociedade.
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Antonele 12/03/2023

O homem é bom por natureza, mas a sociedade o corrompe.
Essa frase nunca fez tanto sentido. Na escola, estudamos superficialmente Rousseau, não procuramos entender de onde vem essa ideologia e o por quê.
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Amanda Bento 07/06/2019

Bom livro para quem quer conhecer mais sobre a obra do autor
Não conheço muito Rousseau, mas de todos os trechos de livros que já li dele, esse livro foi o mais explicativo. Contando um pouco sobre a história das classes sociais, o filósofo faz suas conclusões sobre a desigualdade e rememora com saudosismo a república do Platão.
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Patrick 16/04/2019

O aspecto negligenciado da liberdade
Que é o conceito social, seja ele qual for, sem a consideração do componente humano, diverso e imenso?

''...a liberdade é como esses alimentos sólidos e suculentos, ou esses vinhos generosos, próprios para nutrir e fortificar os temperamentos robustos a eles habituados, mas que inutilizam, arruínam, embriagam os fracos e delicados, que a ele não estão afeitos. //Os povos, uma vez acostumados a senhores, não podem mais passar sem eles.// Se tentam sacudir o jugo, afastam-se tanto mais da liberdade quanto, tomando por ela uma licença desenfreada que lhe é oposta, suas revoluções os entregam quase sempre a sedutores que só fazem agravar as suas cadeias.''
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Marcos Antonio 27/05/2018

Desigualdade
Neste livro ele inicia falando o tipo de sociedade no qual ele gostaria de viver, esboça a sociedade que ele joga como perfeita, onde a desigualdade não exista, onde todos sejam iguais perante a lei, uma sociedade onde não acha pobres e nem ricos, onde todos os magistrados sejam honestos e fiéis as causas.
Com essa ideologia de sociedade perfeita ele começa a esboçar Onde a desigualdade começou e faz uma viagem no tempo onde o termo sociedade nem existiam, foi onde começou a desigualdade, livro muito bom. Acho que todos deveriam ler.
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Daniel.Monteiro 21/09/2017

Discurso Sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os homens
O Autor propõe uma análise das desigualdades entre as pessoas a partir da origem do desenvolvimento da espécie humana desde o início dos tempos.

Afirma que houve um "estado de natureza humana" em que o homem tinha-se por satisfeito, sobretudo pela inexistência de maiores necessidades, onde, pelas características privilegiadas da espécie, os desejos primários e únicos (comer, beber e etc) eram facilmente atendidos. Nesse estado, a satisfação imperava.

Para ele o início da civilização da forma como conhecemos ocorreu a partir da instituição da propriedade privada.
"O primeira que, ao cercar um terreno, teve a audácia de dizer isto é meu e encontrou gente bastante simples para acreditar nele foi o verdadeiro fundador da sociedade civil."

Afirma também que existe na sociedade humana dois tipos básicos de diferenças, a naturail ou física e a diferença moral ou política. Sendo está dependente de uma "espécie de convenção estabelecida entre os homens.

Com linguagem filosófica simples, a obra cativa o leitor justamente pelas expressões de fácil entendimento.
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