PorEssasPáginas 22/05/2015
Envolvente, divertido, inteligente!
Há algumas semanas a Editora Vestígio anunciou que estava reformulando o selo e enviou um convite maravilhoso para os parceiros: a leitura de um dos seus dois lançamentos, Jack, o Estripador em Nova York ou Sherlock Holmes no Japão. Como eu adoro uma história mais sanguinária e sinistra e digamos que Holmes está bem longe de ser meu detetive favorito (presunçoso demais para meu gosto), escolhi Jack, o Estripador em Nova York, afinal o título e a bela capa me deixaram imensamente interessada. Quer dizer… é Jack, o Estripador! E minha escolha foi completamente acertada: adorei a leitura. Envolvente, divertido, inteligente, essa é uma obra repleta de personagens cativantes que certamente irá conquistá-lo.
Nesse livro acompanhamos a história de Carver Young, um órfão cheio de personalidade (e curiosidade), fascinado por romances policiais e investigações. Ele tem seu próprio mistério – o da sua origem – e só está começando a investigá-lo quando descobre nos seus registros do orfanato uma carta de seu pai, escondida há anos. O que mais gostei em Carver é que ele é um personagem cuidadosamente bem construído: no início, tive até uma certa antipatia por ele porque percebi que fazia cruéis pré-conceitos quanto a algumas pessoas. Mas logo percebi que isso só o tornava mais humano (e que nós frequentemente agimos como ele também). Na verdade, não demora muito para que o leitor esteja completamente envolvido em sua busca e se importando com Carver.
Junto com outros dois órfãos, Delia e Finn, sua melhor amiga e seu rival, Carver descobre que não poderá mais permanecer no orfanato por causa de sua idade e precisa, urgentemente, encontrar alguém que deseje adotá-lo. Após uma série de confusões, desencontros e mistérios, ele acaba sendo adotado por um detetive velho e mal-humorado, o senhor Hawking. O detetive o apresenta uma agência secreta, a Nova Pinkerton, que está em busca de um serial killer que está apavorando Nova York. Apesar disso, Carver tem a chance de sua vida: investigar o paradeiro de seu pai biológico.
Enquanto as duas investigações acontecem, o leitor vai se envolvendo mais e mais com os personagens. O meu preferido, de longe, é o detetive Hawking: todos os seus diálogos são extremamente inteligentes, ácidos e divertidos; ele tem um quê de encantador, paternal e arrepiante, um personagem excepcional. Algumas cenas de Carver com Hawking são verdadeiramente tocantes. O livro todo é conduzido num tom leve e divertido, mas não se deixe enganar: há, ao mesmo tempo, questionamentos profundos, ganchos de tirar o fôlego e mistérios envolventes.
“Contudo, apesar de toda a rabugice, enquanto coxeavam rua abaixo, pela primeira vez era Hawking quem ajudava Carver a ficar em pé.” Página 189
Mas foi nesse ponto que um livro pecou um pouco para mim: o mistério. Apesar de envolventes, eles foram ligeiramente previsíveis: logo no início do livro descobri um dos segredos do livro – e até agora não sei se o autor o colocou dessa maneira, ou seja, claramente, de propósito – porque esse realmente foi muito evidente. Mas o segundo certamente não foi proposital, e também o descobri. Mas isso não é necessariamente negativo; o livro, afinal, é um infanto-juvenil policial, e portanto não acredito que devesse ter intricados e insolúveis mistérios. Os segredos, tenho certeza, são do tom certo para que eu, aos meus treze, quatorze anos, ficasse intrigada e pudesse, ao mesmo tempo, ter a oportunidade de desvendá-los, juntamente com Carter. Talvez essa “ingenuidade” tenha sido perceptiva apenas por eu ser uma leitora mais velha que, afinal, já passou por várias outras experiências literárias.
Nada disso, porém, afetou a leitura. Ela continuou extremamente agradável, instigante e divertida. Além das personalidades envolventes e inspiradoras de Carver e Hawking, há uma série de personagens muitíssimo bem escritos que conduzem o leitor em uma torrente de aventuras e sentimentos. Delia, uma personagem feminina inspiradora e feminista, muito à frente do seu tempo; e até mesmo Finn, controverso, mas tocante sob vários aspectos, estranhamente simpatizei com ele logo nas primeiras páginas. É preciso frisar também a precisão histórica do autor, em toda sua ambientação cuidadosa e diálogos verossímeis, ao mesmo tempo em que tomou a liberdade poética de criar engenhocas futuristas na Nova York do final do século XIX extremamente interessantes e críveis – tanto que, não fosse o glossário do final, eu não saberia dizer o que, afinal, existiu e o que era imaginação do autor.
A nova roupagem da edição da Vestígio só veio para deixar a aventura ainda melhor: agora em uma edição com orelhas, uma capa muitíssimo atraente, papel amarelado e de muita qualidade, além de uma diagramação confortável e caprichosa, tudo isso combinado, bem, só pôde resultar em uma ótima leitura.
Mas e o Jack, o Estripador? Onde, afinal, ele se encaixa nessa história? Só lendo para saber, mas já posso adiantar: é brilhante.
site: http://poressaspaginas.com/resenha-jack-o-estripador-em-nova-york