Mateus 03/06/2020
Valeria Montaldi e sua ótima escrita
Ultimamente tenho sido aquele leitor chato que critica o menor sinal de falha em um livro, mas digo com sinceridade que não entendo as notas negativas atribuídas à “O Monge Inglês”, de Valeria Montaldi. Ao terminar a leitura, até aquela velha sensação de tristeza por finalizá-lo apareceu, algo que não vem sendo tão comum em minhas leituras atuais.
O ponto forte do livro é, sem dúvida, a escrita de Montaldi: consistente, envolvente e com um ótimo ritmo. A história nos apresenta uma jovem mulher, Petra, que ao dar à luz uma criança, é obrigada a deixá-la para trás e se mudar para longe. O motivo? O bebê de Petra é fruto de sua relação com o patrão, o rico comerciante Birago Biraghi, e assim ela é expulsa para que Birago crie a criança como sua filha.
Dezoito anos se passam e diversos outros personagens aparecem na narrativa, todos direta ou indiretamente ligados à história de Petra: o abade Arnolfo, que empresta dinheiro à Biraghi e se vê enganado por ele; o tal monge inglês do título, Matthew, grande amigo de Arnolfo; Anselma, a filha de Petra criada por Biraghi e sua mulher, Poma; a pequena Colomba, cujos pais morreram de lepra; Juditha, uma herbolária que vive em uma cabana na floresta e tem ares de bruxa; entre diversos outros.
Cada capítulo é narrado sob o ponto de vista de um dos personagens, o que deu uma ótima dinamicidade à leitura e a tornou interessante do início ao fim. Esse artifício não é algo inovador, mas todos os personagens foram muito bem desenvolvidos e, junto à ótima história, a divisão dos capítulos tornou o livro excelente e fácil de acompanhar.
Reclamo de apenas dois pontos, nenhum deles relacionados à história: o título do livro e os comentários absurdos dos críticos. Não acho que a obra tenha um personagem principal, pois a história tem múltiplas camadas e nenhum deles conduz toda a narrativa. Portanto, não vejo motivos para o livro ser chamado de “O Monge Inglês”, dando todos os créditos a Matthew (edit: descobri que ele aparece em outros livros da autora. Está aí o motivo, embora eu continue não concordando com o título).
Falando no Matthew, é absurdo compará-lo a William de Baskerville, de O Nome da Rosa, pois a única semelhança é que ambos são monges – e termina por aí. Comentários como esse são feitos apenas para chamar a atenção e, se levados a sério, causam apenas decepção.
Mesmo que o livro tenha quase 400 páginas, a grande quantidade de personagens fez com que cada um surgisse menos do que eu gostaria. Ok, com esse comentário temos três reclamações, mas isso não é necessariamente um ponto negativo. Na verdade, Montaldi construiu uma história tão envolvente que precisaríamos de mais 400 páginas para termos nossa curiosidade sobre os personagens saciada.