Davi Busquet 24/04/2021
Imaginação das trevas
A busca pelo impensável, uma jornada em direção ao inominável e o encontro com o assustador e inexplicável. Pode a mente, por si só, construir medos e incertezas baseada única e exclusivamente na obscuridade daquilo que ela é incapaz de definir? O cérebro humano, dotado de conhecimento e esclarecimento, quando confrontado com algo que nem crenças ou ciência são capazes de definir, assume, por si só, a postura mais irracional possível: o medo. O livro "Coração das Trevas", de Joseph Conrad, é um clássico paradigma dessa situação.
Numa jornada em direção ao coração da África, esta praticamente selvagem e intocada, um capitão, sua tripulação e navio enfrentam não um monstro real, palpável e definido, mas algo que existe apenas dentro de cada ser humano apavorado. Mortes são reais, contratempos, danos e imprevistos, assim como ataques e casualidades, também. Porém, o lugar onde isso tudo assume uma dimensão indeterminada e incapacitante é tão somente a mente desesperada de seres humanos.
Cada curva do rio que adentra terras selvagens, as sombras que predominam por trás de árvores ancestrais, e os sons da floresta, atiçados por nativos, animais e o imaginário — toda a incivilidade que apenas um homem civilizado é capaz de perceber, enquanto afunda nos medos e na loucura.
Tudo isso nos faz pensar que, mais do que o extremo desconhecido de terras inexploradas, os primeiros desbravadores do mundo tiveram que enfrentar, principalmente, a si mesmos e seus mais profundos receios.
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