Clio0 28/04/2021
As Confissões de Santo Agostinho foi a obra escolhida para titular em Os Pensadores. Sua escolha é tanto peculiar já que se trata de uma crônica biográfica e não, propriamente, de um tratado filosófico.
Uma das primeiras coisas que deve se manter em mente ao lê-la é que o Catolicismo ao qual se refere é a religião do fim da Antiguidade, início do Feudalismo. Então, os dogmas tão conhecidos de hoje, como o Pecado Original e a Guerra Justa (que mais tarde seria a base para as Cruzadas), ainda não existiam. De fato, foram conceitos propostos posteriormente pelo autor.
A instituição que se instalava como Igreja Católica ainda encontrava dificuldades com o paganismo e as heresias. O Maniqueísmo (a religião, não o conceito) ainda ocupava lugar central na Europa, e o próprio Agostinho foi seu adepto por muito tempo.
Confissões é então um relato de como a diversidade religiosa afetou a formação do autor. A primeira parte trata da adolescência e como sua personalidade o influenciou a se afastar do catolicismo materno; a juventude é uma amostra do que seria considerado comportamento imoral - para a época e religião; o livro termina com a consideração de Tentações e Amor Divino.
Se eu tivesse que definir esse texto, eu diria que ele é uma ode à deus. Uma clara apresentação medieval da humildade, humilhação e desespero que a postura feudal trazia pela desestabilidade socioeconômica e pela postura religiosa-cultural.
Por si só é uma prosa bonita e emocionante.
Chego a conclusão que a inserção de tal na coleção se deu justamente pela representação das características que o sistema feudal assumiria.
A edição é ótima, de qualidade, com uma pequena biografia acrescida de cronologia para facilitar aqueles que podem se perder nas datas e acontecimentos. Há também uma abundância de notas e comentários dos tradutores para facilitar a interpretação.