Roberto
02/01/2021ImpressionadoEsta é uma obra sublime e ao mesmo tempo inquietante.
William Stoner é um filho de agricultores enviado para estudar Agricultura em uma Faculdade, mas tem seu destino inexoravelmente alterado e guiado pela descoberta da literatura e do amor pela docência nessa área.
E eis sua primeira rebeldia: abandonar a Agricultura em favor da literatura inglesa.
Stoner é sobre humanidade e sobre a Humanidade.
William Stoner é a representação da primeira. Já o ambiente em que vive, os demais personagens e o contexto histórico em que se deslinda a trama é uma amostra um tanto desesperançada da segunda.
A humanidade de Bill se mostra na lealdade a seus poucos verdadeiros amigos, a seus inimigos, a seus familiares, a seus alunos e a seus pares. Ela persiste até o fim, ainda que na ausência de alguns.
Se apresenta, ainda, na sua resignação a situações absurdas que admite se estabelecerem sem ao menos esboçar uma reação. Essa característica, no fundo, representa a compreensão que tem das fraquezas, dos medos, dos recalques, dos dramas, dos traumas que forjam a natureza humana e demonstra, ainda, o respeito extremo que dedica ao próximo.
Stoner é daqueles personagens por quem torcemos, com quem conversamos, a quem admoestamos, de quem exigimos que tome alguma atitude, a quem xingamos diante de sua resignação e suposta fraqueza. É que não somos tão humanos: pertencemos à Humanidade.
Bill, como todo humano, é capaz de amar e ser amado. No entanto, se permite abdicar de ambas as coisas a favor de sua verdadeira e irrenunciável paixão ou em respeito a sentimentos alheios nem sempre nobres, não raro pérfidos.
Contra mais uma questão Stoner se insurge e isso – a segunda rebeldia, a primeira foi a que o tinha trazido até ali e ambas têm o mesmo objeto - o acompanhará e influenciar seus caminhos, sua vida e a daqueles que o cercam, até o deslinde da história.
Acho impressionante como John Willians, de quem eu nada conhecia até essa leitura, consegue amalgamar nesse livro a capacidade humana para ser cruel e vil, mas também o quão compassivo e digno é possível que alguém seja.
Nas duas noites que separaram o início e a conclusão da leitura, fui me deitar revoltado com Bill, refletindo sobre seu comportamento subserviente, até que o sono me dominasse.
Quando voltava à leitura, o fazia com esperanças renovadas na mudança de atitude dele.
É necessário ter muita força para ser como William Stoner.
Talvez a Humanidade fosse melhor se houvesse mais humanos como ele.
Por certo, há outros personagens que exerceram forte influência sobre Stoner e que mereciam ser citados. É o caso de Archer Sloane, David Masters e Katherine Driscoll, mas falar sobre eles sem dar spoilers me parece difícil.
Assim, paro aqui.