Resenhas - As Veias Abertas da América Latina

Bruno.Andreoli 28/10/2022

Muito mais do que Cult
Todo trabalho é ridículo.

Eu sempre procurei eleger um estabelecimento favorito para ficar sentado olhando para rua, sempre bebendo alguma coisa. Eu parava para pensar, sofria de algum arrependimento qualquer, e aproveitava e revisava minha trajetória sempre na certeza de ser igual a eles. E eu, de fato era e sou. Rara sensação de pertencimento, gostoso pertencimento. As pastas baratas e maltratadas balançando ao lado do corpo, caminhando até a estação, e os sapatos de mal gosto e essa coisa toda. E também aquelas mulheres pelas quais seria necessário escavar e escavar, e retirar toda uma camada de qualquer coisa vulgar que se havia depositado pela vida dura e vazia e ultraprocessados até encontrar algo que interessasse. Elas também, eu era igual a elas.

Com ou sem Universidade, com ou sem os museus e as viagens e a música de primeira que eu procurava cultivar nas estantes.
Escutei essa beleza, essa garota de faculdade que ainda mora com os pais, um metro e sessenta, morena clara, olhos azuis, linda. E boina; e uma conversa de América Latina. Era isso, ela estava sempre pronta para responder, quase mantendo a mão levantada como garota do ginásio louca para ganhar a palavra. Ela estava ali e para o comentário de alguém sobre uma certa condição imposta para os trabalhadores de Minas que mal tinha chegado ao fim já lançou o nome de Galeano. Eu tinha o livro do Galeano em casa, e aquela presença espectral no boteco da classe C me fez nascer o interesse e ler a coisa inteira. É claro que é psicanálise, bicho: o que que um batom no tom certo de vermelho não faz?

   

Luana 23/10/2022

Difícil porém necessário
O livro fala muito sobre a história da América Latina pelo olhar de um latino e por isso, é uma leitura muito importante. Mas como literatura em si, é uma leitura demorada, difícil e cansativa de se fazer.

tóri =D 14/10/2022

Mais de 50 anos depois, e nada mudou
Apesar do livro ser bastante denso, a tese dele é bem clara: o ininterrupto saque da América Latina (tal qual África e Ásia) foi essencial para o desenvolvimento dos países que hoje são o centro do capitalismo. A construção desse sistema, que nada tem a beneficiar a maior parte da população, apoiou-se na morte de centenas, milhares, milhões de pessoas: desde a escravidão e genocídio indígena coloniais, até os operários moribundos da 2ª revolução industrial; da 1ª guerra mundial travada pela disputa de terras na África e a subsequente 2ª guerra mundial, que trouxe o surgimento do fenômeno fascista; das ditaduras latino-americanas, apoiadas pelo imperialismo estadunidense, e suas incontáveis vítimas; da atual crise do meio-ambiente no mundo, e da gradativa destruição de nosso único planeta. O que o capitalismo nos trouxe, além de cadáveres e uma perspectiva cada vez mais próxima de extinção?

Embora tenha sido publicado na década de 70, a sensação que prevalece ao ler As veias abertas da América Latina é de que, no cerne de tudo, nada mudou. Ver o agronegócio e o mercado acionista aumentando seus lucros enquanto 61 milhões de brasileiros sofrem com a fome mostra que nosso sistema simplesmente não é pensado para o bem estar da sociedade e dos indivíduos, e sim, para uma minúscula parcela de pessoas que acumulam a maior parte da riqueza e poder político do país. Como é possível ter qualquer perspectiva de mudança diante disso? Cada vez mais, sinto há apenas duas alternativas: romper com o sistema capitalista, ou viver de migalhas e perecer junto de nosso planeta.

Filippini 09/10/2022

"O passado é mudo? Ou continuamos sendo surdos?"
"Nestas terras, não assistimos à infância selvagem do capitalismo, mas sua decrepitude. O subdesenvolvimento não é uma etapa do desenvolvimento. É a sua consequência. O subdesenvolvimento da América Latina provém do desenvolvimento alheio e continua alimentando-o. Impotente pela sua função de servidão internacional, moribundo desde que nasceu, o sistema tem pés de barro."

Vanessa 06/10/2022

?Todo latino americano deveria ler este livro?. Simon
Um amigo italiano me disse isso e, desde então, nunca mais me saiu das veias, desculpa, quis dizer da mente, essa auto cobrança de que algo de muito importante teria neste livro para um estrangeiro, casado com uma cearense me dizer isso. Um estrangeiro brasileiro, cheio de amor pela nossa terra e que fez dela sua terra também.

Então, antes de qualquer coisa, gratidão eterna a Simon, que em 2019 me abriu a possibilidade de conhecer o que as ditaduras do mundo tiraram de nós o direito de saber.

Gratidão eterna a Eduardo Galeano e todos os corajosos e compromissados com a verdade, autores de tantas obras que têm por objetivo responder as centenas de perguntas sobre o porquê de um continente tão rico, que tinha tudo pra ser próspero vive, constantemente, na miséria, fome e marginalização do seu povo.

As Veias, como Galeano chama, mostra as tramas, maquinações planejadas e arquitetadas pelo imperialismo americano e europeu para dominar, saquear e usurpar a possibilidade dos países do sul do globo serem donos de si mesmos.

Mostra de perto, quase dá pra estar na mesma época (como se fosse diferente de agora?) em que às privatizações mais absurdas aconteceram e arrancaram dos países latinos bilhões de dólares como se fossem chagas, que eles estavam fazendo o favor de carregar.

As guerras antigas das quais os países esquecem de contar nas escolas, quando o Norte e a Europa jogaram-nos uns contra os outros e, ignorantemente, lutamos, matamos nossos irmãos e ajudamos esses sangue-sugas a destruir pra sempre a possibilidade de uma vida digna pra os seus cidadãos e a prosperidade que hoje eles continuam arrancando das sempre ricas terras latinas.

Sem mais demora, sim, é revoltante. Parei de ler por duas vezes porque me doía perceber que sou um único ser humano e incapaz de mudar essa realidade, mas me neguei continuar ignorante por mais anos.

Eduardo Galeano, Josué de Castro, Audálio Dantas e tantos outros que escreveram pela prosperidade do nosso continente, dos exilados da industrialização imperialista e pelas injustiças cometidas por entidades, governos e guerras deveriam ser leitura obrigatória das escolas.

A ignorância é o chicote que, sim distinção de cor, joga toda a América Latina na mesma senzala.

Lucikelly.Oliveira 29/09/2022

Deveria ser leitura obrigatória nas escolas.
Apesar do livro abordar um tema pesado ele apresenta uma linguagem leve e não tem muitas expressões que o deixem cansativo e tedioso.

"A chuva que irriga os centros de poder imperialista afogas os vastos subúrbios do sistema. Do mesmo modo, e simetricamente, o bem-estar de nossas classes dominantes ? dominantes para dentro, dominadas para fora ? é a maldição de nossas multidões, condenadas a uma vida de bestas de carga."

Lumm 13/09/2022

é tarefa de todos os latinos lutar contra o imperialismo
Galeano é simplesmente genial, ele descreve a espoliação contínua dos países da América Latina de forma maestral, nos convidando a refletir sobre o - dito - sucesso do sistema capitalista, porque, ele funcionou, para quem o interessa, para o norte global e para a burguesia, que não se importam em destruir florestas e povos inteiros quando se trata do lucro e da exploração de tudo o que se pode ver.
Por mim todo o continente já explorado pelo monstro das experiências coloniais e imperialistas merecem um livro como este, adoraria ver um "As veias abertas da Ásia", um "As veias abertas da África".
Livro extremamente necessário.

"Não pode existir movimento revolucionário, sem teoria revolucionária."

- Lenin

Salino 05/09/2022

Obra-Prima
Sem palavras, ou melhor, há muito o que dizer após ler Galeano. O livro é uma denúncia do começo ao fim. O equívoco de acharmos que a culpa pelo empobrecimento da América Latina vem de governantes mal preparados, quando na verdade há todo um sistema dominador e colonialista por trás. Mais uma vez, não conseguirei dormir direito refletindo acerca dessa obra - uma bíblia sociopolítica!

Dirlene Rezende 17/08/2022

Nada mudou
Sabe aquele livro que te faz pensar que te joga a verdade na cara? Então. Eu senti muita ira quando li determinadas partes, poxa como somos jogados manipulados e torturados em nome do desenvolvimento dos outros.

Camis 10/08/2022

?O passado é mudo? Ou continuamos surdos?? (p. 7)
O livro trata sobre a formação e o (sub)desenvolvimento da América Latina, região que foi explorada ao extremo em benefício dos países Europeus. Tal exploração, motor da acumulação primitiva de capital, justifica o atraso no qual os países latino-americanos se encontram na atualidade, já que o exploradores se desenvolveram a custo do subdesenvolvimento dos explorados.

?A dupla tragédia dos países em desenvolvimento consiste em que não só foram vítimas desse processo de concentração internacional, como também foram posteriormente obrigados a compensar seu grande atraso industrial, isto é, realizar a acumulação originária de capital industrial num mundo inundado de artigos manufaturados por uma indústria ja madura, a ocidental?.? (P. 50)

gab 09/08/2022

Completamente necessário. Apesar de ser massante em alguns momentos, o livro não falhou em me relembrar o quanto eu odeio os Estados Unidos e a Europa. Incrível!!

Duna 31/07/2022

Meu deus??
Demorou tanto tempo para eu terminar esse livro q eu me apeguei a ele. Não acho que vocês possam confiar cegamente no que direi aqui pois tem muita emoção envolta no término dessa leitura, então, para evitar "partidarismo", segue a copilação de alguns trechos que me impactaram e que eu espero que os impacte tanto a ponto de os motivarem a ler.

"Alguém escreve para tratar de responder as perguntas que lhes zumbem na cabeça, moscas tenazes que perturbam o sono, e o que alguém escreve logra um sentido coletivo quando de algum modo coincide com a necessidade social da resposta.(...) A América Latina é uma região do mundo condenada à humilhação e à pobreza? Condenada por quem? Culpa de Deus, culpa da natureza? Um clima opressivo, as raças inferiores? A religião, os costumes? Não será a desgraça um produto da história, feita pelos homens e que pelos homens, portanto, pode ser desfeita?" "A causa nacional latino-americana é, antes de tudo, uma causa social: para que a América Latina possa nascer de novo, será preciso derrubar seus donos, país por país. Abrem-se tempos de rebelião e de mudança. Há quem acredite que o destino descansa nos joelhos dos deuses, mas a verdade é que trabalha, como um desafio cadente, sobre a consciência dos homens."

kelly.brekker 21/07/2022

"temos observado um silêncio muito parecido com a estupidez"
que LIVROOO, li pra faculdade e se tornou um fav, simplesmente amo a escrita debochada e direta do Galeano. e as últimas páginas são absolutamente tudo.

Alyne.Queiroz 21/07/2022

Bom
É um bom livro que te dá uma perspectiva dos problemas existentes na América Latina só não funcionou tanto pra mim porque às vezes o assunto é muito esmiuçado com muitos números e nomes de empresas estrangeiras e tornou a leitura monótona, mas o autor parece ser extremamente inteligente, como a obra foi publicada em 1970 tem muitos acontecimentos mais atuais que eu fiquei curiosa de saber como seriam retratados

Thiaguinho547 17/07/2022

50 anos e ainda atual
Leitura essencial para quem quer entender um pouco sobre a América e sua formação econômica e social.

O autor cita vários outros autores da época o que desperta ainda mais a curiosidade sobre o tema!


Super recomendo!

17/07/2022