Gildo 12/09/2015
Entre o business e o show
Para quem tiver sede de detalhes sobre a criação dos heróis mais lendários do planeta, talvez essa 'história secreta' da Marvel deixe a desejar. O leitor vai ficar sabendo o que houve nos bastidores do mercado, fofocas da prancheta, inúmeras desavenças, lutas sindicais, negociatas milionárias. E um pouco - bem pouco - de como as tramas que encantam gerações nasceram de criadores incríveis e pensadores modernos.
E os bastidores do negócio interessam? Sim, claro. Ajudam a desmitificar conceitos que pareciam incompreensíveis nas obras. Era, afinal, puramente questão comercial. Provavelmente, o livro geraria uma série de debates sobre a arte dos quadrinhos. Muitas graphic novels tornaram-se ícones modernos da cultura pop, com linguagens inovadoras, reflexos contemporâneos, ditaram e espelharam comportamentos, gírias, moda, estética. No entanto, a mão pesada do business altera signficativamente o resultado disso tudo e, talvez, desvirtue a arte. Afinal, a arte questiona o público ou apenas, como o marketing deseja, atende a desejos de consumo?
Em 'A História Secreta", o autor revela as frustrações de Stan Lee, de Jack Kirby, e as discussões monumentais dos funcionários da Marvel, mais em torno do negócio do que da criação em si. Ao retratar o universo da editora como esse amontoado de egos rebelados contra executivos interesseiros, acaba um pouco o encanto pelas histórias que conquistaram tantos fãs. No entanto, o bom do desencantamento é imaginar que, apesar de tudo, ainda sobram bons enredos e as lendas criadas. Capitão América, Homem de Ferro, Quarteto Fantástico, X-Men são parte da cultura. E é tudo para ser lido nos quadrinhos. Melhor que nos bastidores.