AleixoItalo 29/07/2021Eu me perguntava se valia a pena ler 'Chão em Chamas', e quão bom ele era em comparação com o clássico 'Pedro Páramo', a maior influência do Realismo Fantástico na América Latina.
Se 'Pedro Paramo', narrado pelos defuntos de Comala, é a obra definitiva de Juan Rulfo, 'Chão em Chamas' é seu alicerce realista. Os contos rurais de um, fornecem a dor, a miséria e os mortos que irão compor o mundo fantástico do outro.
Ė um livro sobre a relação íntima do homem com a terra. Independente da região, o mundo urbano e o mundo rural compõem universos distintos e embora um dependa do outro, a vida nos campos é muito mais árdua e distante do mundo "civilizado". 'Chão em Chamas' é sobre as angústias do povo que vive da terra, abandonado pelo estado, onde desastres naturais, miséria, violência e resiliência travam uma batalha pela existência.
Se existisse alguma conexão óbvia entre estilos literários, poderíamos dizer que 'Pedro Páramo' está (de fato) próximo ao realismo fantástico e 'Chão em Chamas' comungaria mais com o Gótico Sulista Norte Americano. O fato é que a obra de Ruan Rulfo é dotada de uma personalidade ímpar e praticamente impossível de ser igualada ou rotulada.
Marco da literatura regionalista, o denominador comum na obra é a violência! A violência como linguagem é bem difundida na literatura, seja como entretenimento (Stephen King por exemplo) ou como uma reflexão sobre o gênero humano (Cormac McCarthy talvez), em especial na literatura latino americana e regionalista, onde funciona como uma crítica ao sistema.
Ruan Rulfo é um escritor singular, possuidor de uma obra curtíssima porém amplamente estudada e 'Chão em Chamas' é um livro de contos curtos que chocam, mas são maravilhosos para serem lidos e relidos com o tempo!