jota 19/01/2020Exilados em Paris...Neste volume temos duas histórias do argentino Copi (1939-1987), cujo verdadeiro nome era Raúl Natalio Roque Damonte Botano: a primeira que escreveu, publicada em 1972, O uruguaio, e a última, A Internacional Argentina, de 1988. Dessas duas novelas O Uruguaio é a mais curta e provavelmente seu texto mais conhecido mundo afora.
O Uruguaio foi escrito como se fosse uma longa carta endereçada a um Mestre, num parágrafo único e alucinado. Lá pelas tantas me pareceu que esse texto dialoga muito bem com duas obras de nosso Campos de Carvalho, A Lua Vem da Ásia e O Púcaro Búlgaro, pois como elas, é pleno de inventividade e nonsense, quer dizer, é surrealista ao extremo. Trata do desaparecimento, soterrado pela areia da praia e depois, do ressurgimento do país vizinho, redesenhado por Copi. Verdade que tanta criatividade cansa um pouco e mal comparando, o brasileiro parece se sair melhor do que Copi na empreitada de fazer o leitor rir um pouco...
A Internacional Argentina traz uma narrativa mais longa, mais realista, mas também com certo humor e suspense. Trata de uma associação baseada em Paris que visa promover a eleição de Copi, poeta e narrador, para presidente da Argentina. O chefe da Internacional Argentina é um tal Nicanor Sigampa, negro milionário que tem como um de seus planos a imigração maciça de negros para o país portenho. Sigampa distribui dinheiro generosamente e promove festas inesquecíveis, lambuzadas com doce de leite. A imaginação de Copi também vai longe nessa novela. Veja esse trecho (que trata de uma festa para embaixadores):
“O embaixador Zivago (primo do outro, ao que parece) nos assegurou que era tradição entre os embaixadores com posto em Paris (e isso desde o Império) adotar como bicho de estimação um exemplar de um animal entre os mais representativos de seu país; por isso possuía um urso, nosso embaixador um puma, o do Marrocos um camelo, e o dos Estados Unidos um búfalo. Quem mais incomodava, nas tais festinhas para animais, era o embaixador da Índia, que vinha com seu elefante, e o mais perigoso, o do Brasil, com sua anaconda pronta para devorar a mascote de um país vizinho.”
A Internacional Argentina tem personagens curiosos e trechos engraçados como o citado, mas O Uruguaio chama mais a atenção do leitor porque as coisas vão acontecendo freneticamente e o texto exige que sua leitura seja praticamente feita de uma só vez. Pois envolve o leitor nos [loucos] acontecimentos narrados por Copi de tal forma que é desejável não abandonar o livro nem por um minuto.
Lido entre 15 e 18/01/2020. Minha avaliação: 3,7.