spoiler visualizarlilibet 01/11/2021
Tô sem reação até agora.
Estou com este livro marcado como “quero ler” há tanto tempo que parece estranho dizer que o li. Honestamente, não tenho certeza se com uma leitura você consiga absorver tudo, mas não vou me aventurar em reler esta obra por um tempo. Quando passei das 100 páginas, foi quando eu peguei o ritmo. A leitura é diferente, o jeito como o tempo passa, a maneira como os acontecimentos são descritos, me perdi algumas vezes e me vi desassociando diversas vezes; não sei ao certo se foi à minha maneira de me proteger indiretamente da leitura, mas sim, reli alguns parágrafos diversas vezes, de novo e de novo.
A primeira vez que eu chorei foi em um momento simples, comparado com os acontecimentos pesados da história. Eu, pra ser sincera, tinha passado da metade do livro sem um pingo de lágrima cair e fui inocente pensando que não ia rolar. Foi em uma conversa do Willem e do Jude, uma como tantas as outras. E então eu parei, olhei pro teto, respirei fundo e comecei a chorar. No livro, tem um momento em que o Jude diz que choros silenciosos são os que mais doem porque você ao mesmo tempo que você sente e as lágrimas caem, você também tem que ficar concentrado, pra que os soluços não sejam altos e as inspirações continuem calmas. Elas caem como se fossem seda escorregando na mão, rápido e suavemente. Essa foi a sensação do primeiro choro. Como eu disse, eram só os dois caminhando lado a lado, conversando levemente. A cena piorou, mas eu continuei naquele ritmo. Parecia o choro certo, de alguma forma.
Estou acostumada a ler livros que recorrem a eventos traumáticos e que marcam uma pessoa para vida toda, porém nesses livros, os personagens são jovens. Da minha idade, alguns anos mais velhos. Neste livro, eu os conheço quando eles já são mais de 5 anos mais velhos que eu e os acompanho até quase 3 vezes a minha idade. O livro é pesado, nunca recomendaria para ninguém. Mas uma coisa que ele faz bem, que Hanya soube escrever, foi isso: mostrar como traumas, problemas mentais são pra vida toda. Não uma necessária sentença de morte, não é isso que quero dizer, mas que é impossível que você cresça e eles te deixem para trás. E como se isso não bastasse, vemos como é ser essa pessoa que passou por tanta coisa, tanta dor, assim como também vemos as pessoas que o amam e passam por situações junto com ele. Essas partes, onde Harold, Julia, Willem, Andy, o viam, vezes sem saber exatamente pelo que ele passou, mas vendo o que ele fazia consigo mesmo, como ele acreditava ser tudo que lhe foi dito, tudo que as pessoas associavam a coisas ruins, me afetaram bastante. Durante essas partes, eu não parei. Não chorei também.
Quando cheguei no x=x, mal conseguia me concentrar. Em qualquer coisa que fazia, lá estavam eles. Entendo porque dizem que este livro é torturante, ele é. Ele é dilacerante, as cenas são feitas, descritas pra chocar e talvez seja por isso que nas partes horrendas, eu achava mais difícil chorar. Depois da tentativa, me senti fraca. As partes que mais me machucaram, talvez, nem fossem as partes grandes, as que todos falam, mas em pequenas frases, pequenas conversas, em pequenos momentos em que em um parágrafo, horrivelmente, você consegue entender. Me vi com medo desses momentos, como se fosse ver um fantasma, uma parte minha e ela iria me perseguir. Muito como Jude, corri bastante durante a leitura.
Algumas partes me irritaram, claro. Todo a parte do JB, me vi muito no Willem nesses momentos. Passei a admirar o Willem muito mais depois daquilo, a sua lealdade, seu senso de amizade. Depois que passou, JB ainda assim me deixou inquieta, assim como deixou o Jude, como se a qualquer momento ele fosse fazer algo ruim de novo.
Willem. O desenvolvimento da relação dele com o Jude, o jeito como eles amadureceram juntos e com isso, também a relação deles. O jeito como eles agiam um com o outro sempre foi diferente, sempre foi deles, especial e único. Eu acho que o fato deles nunca serem descritos como “namorados” me agradou muito, parece pouco. Assim como “amigos” parecia pouco. Gostei como eles são descritos como “juntos”, era natural. Ah, aqueles são Jude e Willem, juntos. Frog and Toad, juntos. Eles estavam juntos desde que eles se conheceram. Não tinha Jude sem Willem. Depois que o Willem voltou a morar com ele, depois da tentativa, e ele passou a pensar em seus sentimentos, eu me apeguei muito ao que o Andy disse pra ele: Se você ir pra frente com isso, precisa ter certeza. E o Willem diz algo como: Em outras palavras, você está me dizendo que se eu resolver fazer algo sobre isso, tenho que ter em mente que será pra sempre. E o Andy assente e eles sorriem. Acho que um dos únicos momentos em que eles falam de amor, ao invés de amizade, é quando o Willem ganha um prêmio e ele agradece o Jude, o chamando de o amor da vida dele. O Jude não estava lá com ele, Julia tinha o acompanhado na premiação e o Jude assistiu o discurso dele online no apartamento deles em Londres. Eu vi o Jude transbordar ali, assim como em todos os momentos em que ele estava com o Willem.
Um dia, eles estão pensando sobre o que teria acontecido se o Willem nunca tivesse conseguido ser ator e eles não saíssem daquele apartamento que o Harold odiava. Eles riem. O Jude indaga se o Willem está perguntando por que ele quer saber se eles estariam juntos, e o Willem olha pra ele e diz: É claro que nós estaríamos juntos. E eles dizem que teriam que acabar com o quarto improvisado que tinha sido do Willem, já que agora eles dormem na mesma cama, e finalmente teriam uma sala de verdade. E o Willem diz que a segunda coisa que eles fariam seria processar pelo elevador que sempre dava pau. São nesses momentos em que eles sorriam, um pro outro, assim como em todos os outros momentos, que eu me sentia tão leve quanto uma pessoa poderia ficar lendo a little life.
Todas as vezes em que o Jude olhava em volta, via todas as coisas lindas, os amigos, a família, o apartamento dele, o jeito como ele realmente gostava do trabalho, e então pensava: nunca pensei que chegaria aqui. Nunca pensei que chegaria aos meus 30 anos, e então aos meus 40 anos... Em todos eles, também naqueles momentos em que ele pedia desculpa por algo e esperava punição, em que ele dizia ser uma coisa nojenta, em que ele se sentia na obrigação de fazer certas coisas, em que ele acreditava não merecer aquilo, em que ele não entendia por quê: uma parte de mim simplesmente se fechava pra tentar passar pelas palavras e então pelas frases e então pelo parágrafo.
O livro todo, eu fiquei constantemente com medo. Quando The Happy Years começou, eu já sabia o que ia acontecer. E então eu aproveitei as pequenas coisinhas, e entendi porque aqueles realmente haviam sido os anos felizes. Não quer dizer que quando a última parte começou eu não senti. As últimas 100 páginas foram doídas e quando eu terminei fui tomar banho pra tentar parar, raciocinar, só parar de chorar.
O fim. Eu estava esperando aquilo. E quando o livro terminou de fato eu fiquei, de certa forma, aliviada. Acabou. Ponto final. Você passa mais de 200 se apegando aos personagens para depois os traumas, as dores, acabarem com você assim como acaba com eles. É tortura mesmo. Gostaria de ter visto mais da relação dos quatro na faculdade. Found family trope. A relação do Harold e da Julia com o Jude, dos meninos com o Jude, o Andy, o Richard, todos na verdade. Os mais próximos, claro, me deixaram mais sentimental. Este livro foi feito pra você terminar emocionalmente acabada, e ele faz um bom trabalho nisso.
Bom, enfim, não leia sem ver os gatilhos. Se você acha que não vai conseguir ler, não leia. Ele é um livro pesado e tá tudo bem se você não conseguir ler. Ele é difícil mesmo. Não, este livro não é uma história LGBT+, muitas coisas não são bem representadas, por favor, não leia pensando que você vai ver casais aquileanos, sáficos, sendo felizes porque o, bom, casal que realmente importa vem com uma grande carga emocional e muito muito trauma. Em alguns momentos, sendo bem sincera, eu fiquei entre amar o os dois e ficar com raiva porque era cruel. Quer dizer, eu amo os dois. De verdade. Mas as vezes parecia que tudo aquilo estava sendo posto ali, descrito ali puramente para que depois seja ainda mais tortuoso, mais difícil. Para que doa mais e isso me incomodou um pouco. Acho que é isso.