spoiler visualizarDaniely.Samara 04/01/2021
Um livro narrado por Lestat, não tem como dar errado.
Cântico de Sangue
10° livro das Crônicas Vampirescas.
Antes de qualquer coisa, é importante pontuar que se você não leu a outra série da Rice “A hora das Bruxas”, saiba que neste livro vão ter muitos spoilers. Em “Cântico de Sangue” temos justamente o encontro das duas séries de livros mais famosas da autora, então todo mistério que cerca o Clã Mayfair é contado nele.
“Sou o Vampiro Lestat, o vampiro mais poderoso e adorável jamais criado, um arraso sobrenatural, com dois séculos de idade, mas eternizado na forma de um rapaz de vinte anos com um corpo e um rosto lindos de morrer, e talvez você até morra mesmo. São infinitos os recursos que tenho à minha disposição e é impossível negar que sou encantador. A morte, a doença, o tempo, a gravidade, nada significam para mim.” p.9
É muito difícil eu não gostar de algum livro da Anne Rice, ainda mais se é narrado pelo Lestat e, não foi diferente com Cântico de Sangue, eu gostei muito, não é um livro perfeito, mas está longe de ser um livro ruim, entendo as criticas a esse livro, quer dizer algumas, porque criticar até o Lestat usar a palavra “dude/cara” para mim é de uma besteira sem tamanho, tá certo que os vampiros da Rice são aristocráticos, mas se você leu as Crônicas sabe que os vampiros que correm para aurora, são aqueles que não conseguem se adaptar aos tempos modernos e, se tem um vampiro que tem mais chances de se adaptar a linguagem contemporânea, esse vampiro é Lestat, ele já foi astro de Rock. For God’s sake!
De todos os livros das Crônicas Vampirescas que li, esse com certeza é o livro menos denso, consequentemente mais fluido (na minha percepção). Livro curtinho, com menos de 300 páginas, que começa praticamente a partir dos eventos finais da “Fazendo Blackwood” que terminou com Mona Mayfarir dizendo sim para o Dom das Trevas, digo praticamente porque temos um primeiro capítulo delicioso, diga-se de passagem, no qual Lestat, discorre sobre a insatisfação de “seus leitores” com o livro Memnoch (1995), nesse capítulo temos Lestat em toda a sua glória, no auge da sua arrogância, narcisismo e humildade (sim, às vezes ele é humilde sim), acompanhado do carisma que nos faz amá-lo em toda a sua complexidade.
“Dou-lhes ali uma visão metafísica da Criação e da Eternidade, a história (mais ou menos) inteira do cristianismo, com uma fartura de meditações sobre o Cosmo, com letra maiúscula — e o que recebo em troca? “Que tipo de romance é esse?”, vocês perguntam. “Não o mandamos ir para o Céu e para o Inferno! Queremos que você seja o facínora requintado!” p.11
E deu mesmo e, eu embarquei totalmente na ideia desenvolvida por Rice no livro Memnoch, mas voltando a Cântico de Sangue. A narrativa como já falei é fluída cheia de ação e suspense, nela nos reencontramos com alguns das personagens mais emblemáticas de "A Hora das Bruxas." Logo após a transformação de Mona Mayfair, Lestat se compromete a encontrar a filha perdida dela, dando assim a conclusão do que aconteceu com os Taltos.
No meio disso tudo, temos um Lestat lutando com eternas questões filosóficas e se apaixonando por Rowan Mayfair, nada mais que a chefe do poderoso Clã Mayfair, essa paixão avassaladora vai deixar Lestat em conflito com o que ele quer e o que ele deve fazer, e nós, leitores das crônicas, sabemos que dificilmente o príncipe moleque deixa de fazer o que quer, porém Rice magistralmente foge do óbvio e nos presenteia e surpreende com um último capitulo primoroso, que me remeteu ao que senti no reencontro de Lestat e Louis em “O vampiro Lestat”.
Não é obrigatório ter lido a série “A Hora das Bruxas” para ler esse livro, no entanto, acredito que se perde muito do desenvolvimento das personagens da mesma, o que pode dar à falsa impressão que eles/as são personagens rasos ou jogados no meio da trama, principalmente a personagem Rowan, li muitos questionamentos do porque Lestat se apaixona por ela. Rowan, é uma personagem atormentada como o próprio Lestat, às vezes os vejo como o espelho um do outro, então eu particularmente não tive dificuldade em acreditar que ele se apaixonaria por ela. Ademais, Anne Rice fez em menos de 300 páginas, com a eloquência de sempre, um cossover bem amarradinho.
“Fujam de mim, ó mortais que são puros de coração. Fujam dos meus pensamentos, ó criaturas cheias de grandes sonhos. Afastem-se de mim, todos os hinos de glória. Sou o ímã dos condenados. Pelo menos por algum tempo. E então meu coração grita, meu coração não quer se calar, meu coração não desiste, meu coração não quer ceder... ...o sangue que ensina a vida não ensina mentiras e o amor volta a ser minha repreensão, meu tormento, minha canção.” p.285
Lestat, é uma personagem paradoxal, tridimensional, que ao mesmo tempo em que quer ser santo é facínora, sempre feliz e infeliz, sempre amando e odiando intensamente, sempre em movimento, nunca previsível, sem limites para satisfazer suas curiosidades, e sempre se punindo por isso, além de tudo ele é divertido. São todas essas nuances que o fazem ser uma personagem tão intensa, interessante e apaixonante, não é a toa que ele rouba a cena em "Entrevista com Vampiro", não é a toa que ele é o pilar que sustenta as Crônicas Vampirescas e não é a toa que ele é meu vampiro favorito da vida. Sorry Drácula.
Vem ai, Príncipe Lestat, FINALMENTE!