Minha Querida Aline

Minha Querida Aline Marcelo Vinicius




Resenhas - Minha Querida Aline


2 encontrados | exibindo 1 a 2


São Paulo 29/05/2015

Todas as formas de amor em "Minha querida Aline"
As obsessões e o amor no romance "Minha querida Aline", de Marcelo Vinicius.

Será possível fazer a crítica de uma obra de um amigo? Esta pergunta balança o imaginário de artistas e críticos que tendem para ambos os lados, do sim e do não. Eu, particularmente, não sei dizer. Isso porque, ao criticar a obra de um amigo, posso elogiar pela amizade; posso esculhambar por despeito. E a imparcialidade do crítico, ela existe? Pode até existir, mas será que existe amizade imparcial? A separação profissional da amizade é fundamental neste quesito, e será o leitor o meu crítico e dizer se fui, ou não, imparcial.

O que sei é que ser amigo de Marcelo Vinicius me ajudou bastante em meu passeio por "Minha querida Aline", seu mais novo livro. Não que seja uma obra complexa de ser lida por quem o desconhece. Não, não, muito pelo contrário. O digo porque há muito de Marcelo no protagonista-narrador da história. Assim como também há muita invenção da imaginação fértil do escritor. E este confronto entre o sujeito real, que se põe no papel como um espelho, e a sua criação fictícia concede ao personagem a sua ambiguidade. As suas confusões morais. Confusão, aliás, é uma boa palavra para definir brevemente este protagonista. Isso porque ele é um sujeito confuso que cria ideias mirabolantes, desenvolve teorias para basear suas ações em algo racional, quando seu ser prático é extremamente emotivo. Ele tende criar um mundo pessoal racionalista, mas quando as emoções falam mais alto ele abandona qualquer resquício de razão. Tudo movido por um sentimento que ele já expressa na primeira página do escrito: o amor.

O amor que ele diz ter por uma garota da universidade em que estuda – a Aline do título – é o que move a trama, move o personagem, move suas tentativas de formulações filosóficas sobre o mundo e os homens. E foi neste ponto que se deu meu primeiro desconforto com o livro: o narrador repete excessivamente que está apaixonado. Repete quase a cada página esta paixão. Repete quase que se valendo das mesmas palavras. O que poderia parecer um recurso limitado de escrita por parte do autor da obra demonstra em "Minha querida Aline" o oposto: a obsessão. É por meio da repetição que percebemos a obsessão do narrador pela tal Aline. E este sentimento ainda é temperado com um algo a mais, a impossibilidade dele de tê-la: a menina é lésbica. Ele não poderá, nunca, ter a garota como amante, mas a quer. A deseja. E deixa isso explícito em cada ação, em cada gesto, em cada ideia, em cada linha das anotações que escreve. Se num primeiro momento nosso desconforto, enquanto leitores, é com a repetição da afirmação de que o narrador está apaixonado por Aline, num segundo momento é perceptível que ficamos desconfortáveis com a atitude do jovem. Novamente: desconfortáveis com sua obsessão.

O romance nos permite invadir a mente do narrador que se desnuda emocionalmente em suas páginas, sempre imaginando escrever para alguém. Este desnudar emocional é proposital. Com frequência ele se volta ao leitor, o que o torna mais estranho ainda. Por que alguém escreveria algo tão perturbador assim, algo tão íntimo, para expor ao mundo? Todos os planos de, até mesmo, matar outrem. A apresentação do subjetivo do narrador é incômoda. Ficamos presos à leitura daquele relato, mas não torcemos por ele. O protagonista está longe de ser um mocinho com o qual venhamos a nos identificar.

Neste tópico, a influência de Dostoiévski se mostra bem clara na obra de Marcelo, assumidamente fã do escritor (assim como seu personagem). Se em "Crime e Castigo" o russo desnuda a mente de um sujeito inteligente para mostrar todos os seus tormentos, em "Minha querida Aline" Marcelo fará semelhante. Mas desta vez não haverá compaixão por seu personagem, e as atitudes por ele tomadas sofrerão consequências drásticas não reversíveis – o que caminha num sentido contrário ao final da obra citada de Dostoiévski. É sonhada a salvação pelo amor esperada pelo narrador leitor de "Crime e Castigo", apesar de nos perguntarmos: ela já não estaria ali, o tempo todo e somente ele não vê?

O amor, caro leitor, é o principal motivo em "Minha querida Aline". É a compreensão de que o outro também possui a liberdade, a capacidade, e a vontade de amar a quem quiser. Este tema universal deixa-nos bem clara uma das virtudes deste livro: a possibilidade de falar a qualquer pessoa, de qualquer lugar, de qualquer momento histórico. Uns poderão ficar mais escandalizados. Outros poderão partilhar a visão do narrador. Outros poderão ficar, ainda, indiferentes. Mas todos enxergarão ali o amor em suas mais diferentes formas (o difícil será aceitá-lo, mas aí já não é culpa do autor). Este conceito, tão difícil de desenvolver até mesmo por filósofos, escapa das páginas de "Minha querida Aline" da simples convecção das histórias de amor garoto-conhece-garota para se tornar uma provocação. Na obra, o amor está em todos os cantos, em todos os gestos. Cabe-nos enxergar o amor em suas diferentes formas ali, na história, para que possamos enxergar em suas mais diferentes formas aqui, no mundo real.

site: http://homoliteratus.com/todas-formas-de-amor-em-minha-querida-aline/
comentários(0)comente



Maiane.Neves 19/05/2015

Vale a pena ler!
"Minha Querida Aline" é um romance diferente dos quais estamos acostumados a ler, em que já prevemos o final da história, rs. O autor fala de temas como a homossexualidade de forma leve e simples, relatando no início, um amor puro e verdadeiro entre duas meninas. A história é narrada por um personagem, contraditório, triste e amargo, que tenta convencer o leitor através de justificativas fundamentadas sobre o amor puro que sente pela personagem Aline, que este amor está acima do bem e do mal, sendo que na verdade, quem vive esse amor puro é Aline. Além da homofobia, o livro também retrata outras críticas sociais, nas narrativas do personagem. Enfim, o autor consegue relatar tudo isso envolvendo o leitor do início ao fim, gostei muito. Infelizmente ainda é uma obra desconhecida, mas espero que logo conquiste mais leitores. Parabéns ao autor!
comentários(0)comente



2 encontrados | exibindo 1 a 2


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR