Kenia 15/01/2022"A Gripe da Geórgia foi tão eficiente que não havia sobrado quase ninguém."
Uma distopia audaciosa e sombria, ambientada nos dias sinistros do colapso da civilização, Estação Onze conta a história encantadora de uma estrela de Hollywood, seu aspirante a salvador, e um grupo nômade de atores vagando pelos postos dispersos da região dos Grandes Lagos, nos Eua, arriscando tudo pela arte e pela humanidade.
Numa noite de nevasca, Arthur Leander, um famoso ator, tem um ataque cardíaco no palco durante uma produção de King Lear. Jeevan Chaudhary, um ex-paparazzi e paramédico, está na platéia e vai a seu auxílio. Uma atriz infantil chamada Kirsten Raymonde observa horrorizada enquanto Jeevan realiza RCP, bombeando o peito de Arthur enquanto a cortina cai, mas infelizmente Arthur está morto. Naquela mesma noite, quando Jeevan caminha do teatro para casa, uma terrível gripe começa a se espalhar. Os hospitais estão lotados e Jeevan e seu irmão se isolam dentro de um apartamento, observando pela janela enquanto carros bloqueiam as estradas, tiros são disparados diariamente e a vida se desintegra ao redor deles.
"Não havia mais internet. Não havia mais redes sociais, não havia mais buscas de significados de sonhos, esperanças nervosas, fotografias de almoços, gritos de socorro, expressão de satisfação, status de relacionamento atualizados com imagens de coração inteiro ou partido, planos para um encontro mais tarde, apelos, queixas, desejos, fotos de bebês com roupa de ursinho no Halloween. Não havia como ler e comentar sobre a vida dos outros, logo não havia mais como se sentir menos sozinho."
Vinte anos depois, Kirsten é uma atriz da Sinfonia Itinerante. Juntos, esta pequena trupe se desloca entre os assentamentos de um mundo alterado, apresentando Shakespeare e música para comunidades dispersas de sobreviventes. Kirsten carrega consigo dois exemplares de uma HQ intitulada Dr. Onze, dado a ela por Arthur há um tempo atrás, quando ela era uma atriz infantil. Os livros foram criados por Miranda, a primeira ex-mulher de Arthur, e a única que é retratada mais a fundo na trama. Ela também guarda recortes de revistas sobre Arthur que ela encontra em casas abandonadas. Sua motivação é impulsionada em parte por sua perda de memória - ela não consegue se lembrar do ano do colapso - mas também pelo fato de que a fama de Arthur o encapsulou no tempo. Os recortes confortam Kirstin tornando esse novo mundo mais simples, seguro e fácil de se viver, mesmo que ela não se lembre bem disso.
O lema do Sinfonia Itinerante que também é tatuado em seu braço é uma célebre frase da série Star Trek: "Porque a sobrevivência é insuficiente". Mas quando chegam a cidade de St. Deborah by the Water, encontram um profeta violento que elimina qualquer um que se atreva a deixar aquela comunidade.
Ao longo de décadas e retratando vividamente a vida antes e depois da pandemia, este romance repleto de suspense está repleto de beleza. Enquanto Arthur se apaixona e dezfaz três casamentos, enquanto Jeevan assiste aos noticiários dizerem suas despedidas finais, e enquanto Kirsten se vê presa na mira do profeta, vemos as estranhas reviravoltas do destino que os conectam. Um romance de arte, memória e ambição, Estação Onze conta uma história sobre as relações que nos sustentam, a natureza efêmera da fama, e a beleza do mundo como o conhecemos.
Recomendo esse livro para qualquer pessoa aterrorizada com o fim do mundo!