Natasmi Cortez
16/10/2015Uma Breve Opinião: Os Dois Mundos de Astrid JonesA narrativa é feita de maneira sutil e gradativa.
Acho que a autora quis que conhecêssemos melhor os famosos dois mundos da protagonista Astrid antes que eles colidissem de fato. Em um ela é o que todos esperam e no outro ela só quer ser livre para amar quem quiser.
De cara gostei da Astrid, ela não é aquela adolescentes mimadas e chatinhas. Ela aguenta no osso todo tipo de indiferença e hostilidade que recebe do mundo, e retribui com muito amor.
Eu queria ser ao menos um pouquinho como a Astrid. Dar sem esperar receber nada em troca.
No começo do livro somos apresentados a uma mania um tanto peculiar da nossa protagonista. Ela manda seu amor aos aviões. Isso mesmo! Aos aviões, daí o nome original do livro em Inglês : Ask To Passengers
"Para todo avião, não importa quão longe esteja voando lá em cima, eu mando meu amor. Visualizo as pessoas em seus assentos com seus copos plásticos de refrigerante, suco de laranja, uísque, e eu as amo. Realmente amo. Envio um fluxo constante, visível, disso - amor - de mim para elas. Do meu peito para o peito delas. Do meu cérebro para o cérebro delas. É um jogo que eu faço. E eu não me importo se essas pessoas não me amam de volta. Isso não é para ser recíproco. É uma entrega"
E bem, essa é uma parte super importante do livro. Em uma análise da vida da Astrid, isso é o que ela usa como válvula de escape. Nesses momentos ela pode ser ela mesma. Pode falar o que sente de verdade, pode explanar suas dúvidas e medos e pode amar sem precedentes.
E amor é algo que está em falta na vida dessa jovem, que certamente é um retrato de muitos por aí. O pai vive em outra dimensão, a mãe prefere sua irmã, e a irmã só se preocupa com a impressão que irá causar nos outros.
Os amigos e a namorada, que deveriam apoiar, colocam mais areia na carga pesada que Astrid tem que suportar. Não sei como ela consegue.
E nisso se encontra a beleza da história. Astrid cresce e amadurece e o leitor junto com ela.
Ela quer saber quem é de verdade sem a pressão de ninguém e quer se ver livre dos rótulos, quer amar e ser amada, quer aceitação e igualdade. Quer viver em um mundo onde esteja livre das aparências.
A narrativa é gostosa e a autora abordou temas fortes de maneira leve. Esse é um livro de adolescentes, para adolescentes mas que pode e deve ser lido por adultos.
Adoro as reflexões de Astrid sobre o mundo e acho que algumas delas deveriam estar em cartazes pelas ruas.
"Começo a me ressentir. Você quer dizer que estamos no século XXI e esse cara é pago para ter conversas corretivas com alunos da escola sobre como eles não devem odiar os outros? Isso não é elementar? Não devia ser automático? Que tipo de espécie somos nós se precisamos de gente que venha falar sobre essa merda? E como, se somos idiotas assim, nós chegamos à lua e ajudamos a construir uma estação espacial".
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