Luiz 03/09/2023
Técnicas de distorção da verdade
Livro: Como Mentir com Estatística
Autor: Darrell Huff
Darrell Huff é um escrito e jornalista que produziu diversos livros de "como fazer...", este livro foi feito em 1950 e ganhou grande popularidade vendendo mais de 1,5 milhões de livros. Basicamente o tema explora e explica as diferentes formas que os leitores podem ser ludibriados pela forma como as pesquisas, estatísticas, gráficos e imagens são apresentadas ao grande público, que ao ter a impressão errada ou tendo limitado acesso a informação passa a perceber o mundo de forma equivocada, obviamente tendenciando para uma versão que beneficia a determinado interesse ou grupo.
"A linguagem secreta da estatística, tão atraente em uma cultura voltada para os fatos, é empregada para apelar, inflar, confundir e levar a simplificações exageradas. Métodos e termos estatísticos são necessários para relatar dados de tendências sociais e econômicas, condições de negócios, pesquisas de opinião e censos. No entanto, sem redatores que usem as palavras com honestidade e conhecimento, e sem leitores que saibam o que elas significam, o resultado só pode ser um absurdo semântico."
(Darrell Huff, p.12 [introdução])
O livro contém uns 10 capítulos, vários desses capítulos são praticamente extensões do capítulo anterior, outros capítulos já funcionam de forma mais independente. Os primeiros capítulos são
bem introdutórios e até basilares pra entender alguns pontos subsequentes, enquanto que os do meio do livro, considero os melhores, já da metade pro final arrisco dizer que ja não agrega tanto, ele expõe mais algumas informações interessantes, mas claramente o livro perde a pegada desenvolvida na metade dele.
O autor por meio de diversos exemplos nos apresenta o como somos facilmente convencidos por informações tendenciosas, a título de exemplo pesquisas que utilizam o QI ou Testes de Inteligência pra validar determinadas informações ou ações, mas o autor nos lembra o como os famosos testes de Inteligência não considerem informações importantíssimas como: capacidade de liderança, resiliência, inteligência emocional, personalidade ou criatividade, ou seja, ainda que o QI diga muito sobre determinada pessoa ou amostra de pesquisa, ou até mesmo de quem "chancela" determinada informação, mas exclui aspectos importantes do ser humano. Outro exemplo seria a forma como alguns estatísticos ou jornais apresentam determinadas informações manipulando a amostra da pesquisa, um exemplo foi a pesquisa realizada por Alfred Kinsey, sobre sexualidade, mas desconsidera que a amostra foi completamente tendenciosa.
"É igualmente verdade que o resultado de um estudo de amostragem não se refere a nada além da amostra na qual se baseia.
Quando os dados são filtrados ao longo de camadas de manipulação estatística e reduzidos a uma média decimal, o resultado começa a ganhar uma aura de convicção que poderia ser desfeita se houvesse um olhar mais aproximado na amostragem."
(Darrell Huff, p.21)
"Meu truque foi usar um tipo de média diferente em cada uma das vezes, já que a palavra ?média? tem um sentido bastante flexível. É um truque bastante usado ? às vezes de maneira inocente, mas com frequência de propósito ? por indivíduos que têm como objetivo influenciar a opinião pública ou vender espaços de propaganda. Quando lhe dizem que algo é uma média, você ainda não sabe muito bem do que se trata, a não ser que possa descobrir de qual tipo de média estamos falando ? se é média aritmética, mediana ou modal."
(Darrell Huff, p.31-32)
É um livro que te chama atenção pra diversas técnicas de manipulação de estatística, sem dúvida, porém confesso que apesar de ser uma leitura agradável, fácil e fluída, o livro é bem mediano, não surpreende tanto quanto poderia, talvez quem muito pouco teve contato com estatística, porcentagem ou pesquisa, esse livro possa surpreender mais, no meu caso não muito, algumas dessas técnicas eu já tive contato minimamente, participar de construção de uma pesquisa e ter contato com a leitura estatística me possibilitou minimamente ter mais base pra intuir algumas informações exploradas no livro.
Por vezes o livro teve abordagens, em alguns capítulos, de ficar persistindo no mesmo raciocínio mesmo o assunto ja tendo sido explorado o suficiente, consequentemente a impressão que tive que foi uma escrita, em alguns pontos do livro, de preenchimento de espaço, outra forma de fazer isso também foi o uso bastante frequente de desenhos e imagens que não necessariamente tinham referência ao assunto, mas muito mais pra preencher uma página a mais no livro com alguma ilustração.
Outro ponto negativo, foi que alguns casos são citados pra exemplificar o que está sendo dito pelo autor, e alguns deles são inclusive criticados pela postura que o escritor ou o jornal teve em relação aquela informação passada, mas outros no entanto, parece que o autor não teve o mesmo trabalho de pesquisar mais sobre alguns fatos, o maior exemplo disso foi o próprio caso do Alfred Kinsey, que citei anteriormente, imaginei que o autor iria explorar mais o caso no intuito de exemplificar o como uma pesquisa mal feita pode ser tida como verdadeira, mas o autor se reservou a uma simples menção, dando praticamente nenhuma importância relevante pro caso, o que tornaria a referência dele muito mais exemplificada e aprofundada, na verdade parando pra pensar, acredito que o autor decidiu deliberadamente não se aprofundar em diversos temas "espinhosos" justamente preferindo ficar na superficialidade pra se focar somente nas possibilidades que a estatística dá ao invés de mostrar também o como uma percepção equivocada pode modificar o comportamento e o aprendizado do público, um exemplo disso a menção a casos de pesquisas envolvendo vacinas, sem o devido estudo de eficácia, ou questões como aborto e etc.
"SE VOCÊ não consegue provar o que deseja, demonstre alguma outra coisa e finja que são equivalentes. Em meio à confusão resultante do choque entre as estatísticas e a mente humana, dificilmente alguém notará a diferença. O número semiligado é um artifício garantido para deixá-lo em posição de vantagem. Sempre foi."
(Darrell Huff, p.78)
"DAR INFORMAÇÕES erradas às pessoas usando material estatístico é algo que pode ser chamado de manipulação estatística; em uma palavra (mesmo que não muito boa), é a estatisticulação."
(Darrell Huff, p.99)
Não é um livro surpreende, mas bem interessante, recomendo sim em grande medida, apesar do problemas que mencionei.