Digão Livros 11/06/2017Guerras são eventos confusos.
Mesmo nos dias de hoje, com satélites e outros artefatos tecnológicos, é comum ouvir falar sobre baixas civis, ou bombardeio de escolares e outros pontos neutros, onde supostamente deveria haver alvos militares.
É claro que há também o marketing militar, onde cada lado propaga notícias de seu interesse. Contudo, é possível pensar que, se as guerras atuais, com todos os recursos disponíveis, ainda possuem esses efeitos colaterais, imagina uma guerra do século 19?
Muitas dúvidas pairam sobre o conflito, que determinou o fim do Império de Napoleão.
Quando iniciei a leitura desse livro de Bernard Cornwell, esperava um romance com fundo histórico, pautado pelos principais acontecimentos que fossem consenso entre os historiadores.
Acostumado a outras sagas do autor, esse livro mostrou-se totalmente diferente, pois procurava ser didático, relatando os principais momentos históricos, as possibilidades do conflito, e o que provavelmente cada líder de batalha planejou, para tomar as decisões.
Infelizmente, creio eu, em alguns momentos a veia patriótica inglesa do autor revelou-se latente ao descrever os acontecimentos. Ao meu houver, sobraram criticas aos franceses, em detrimento aos ingleses.
Outro ponto a destacar são os mapas disponibilizados, que remetem ao período do conflito e, para mim, pelo menos, são confusos, sendo mais acessível a pessoas familiarizadas com o tema. Seria mais prático ilustrações contemporâneas em paralelo aos mapas da época.
Quando aos relatos de Guerra, Napoleão era amado pelos seus pares, e temido pelos inimigos. Além de bem treinado, seu exército apaixonado por ti.
Em uma época onde atos de bravura eram exaltados pelos pares, mesmo que infrutíferos, possuir um exército que amasse seu comandante era um grande diferencial.
Napoleão possui um exército experiente e apaixonado, disposto a lutar e manter a liderança de seu Imperador. Um exército a ser temido.
Desde o início do conflito, a quantidade de soldados napoleônicos era inferior a dos aliados. Contudo, seu equipamento bélico equiparava-se ao dos rivais, e sua tropa já havia sido testada em eventos anteriores.
A principal estratégia de Napoleão era dividir a força inimiga em 2 exércitos que não se comunicassem, vencer uma, e após a outra. A vitória sobre a segunda força seria facilitada pelo efeito moral desestimulador causado nos inimigos, após seu primeiro triunfo.
E os franceses tiveram oportunidade para implementar com sucesso esse plano, não fosse o excesso de conservadorismo do segundo em comando do Imperador, a história poderia ter tido outro vencedor.
Perdida a oportunidade, a verdade é que o oponente de Napoleão era o respeitado Duque de Wellington, que havia vencido o segundo em comando do Imperador em oportunidades passadas, causando sua postura conservadora e a oportunidade perdida.
Adiante, o acaso também impediu maior sucesso francês. A chuva torrencial impediu que Napoleão ocupasse com seus canhões o campo de batalha, contra um oponente que ainda não estava devidamente agrupado e organizado.
A tempestade impediu o avanço napoleônico e, enquanto o mesmo aguardava o campo de batalha secar, o exército dos aliados se fortalecia.
Em sequencia, erros grassos foram cometidos de ambos os lados, mas os aliados lutavam sempre com a expectativa de dobrar seus recursos, com a chegada dos prussianos, enquanto Napoleão lutava sob a pressão de vencer rapidamente o primeiro inimigo, para poder dispor de recursos contra o segundo, que certamente chegaria por sua retaguarda.
Napoleão não venceu a primeira batalha a tempo, o que levou a medidas desesperadas e infundadas, que destruíram rapidamente seu poder bélico e seu exército.
Por fim, a derrota de Napoleão ocasionou o seu ostracismo.
O Duque teve a grandeza de não apoiar a execução de seu oponente, contudo, o tempo mostrou que isso foi mais em função de não macular a sua vitória, do que um gesto nobre em relação ao rival. Isso porque, com o passar do tempo, os esforços do Duque foram para que somente seu nome prevalecesse como líder supremo de uma batalha épica, sem dividir os louros com os prussianos por exemplo.
Adiante, a derrota fez com que os próprios franceses apoiassem o ostracismo de Napoleão, de modo que o seu ciclo finalizou-se de modo solitário e desprovido de grandeza.
Os relatos do autor apresentam muitas possibilidades e perspectivas, sendo rico em alternativas a respeito do conflito, mas se mostrando-se parcial e patriótico, o que, para mim, colocou um pena nuvem sobre até que ponto os seus relatos não foram contagiados por seu amor a sua Pátria.
De qualquer maneira, um livro de Bernard Cornwell é sempre um bom livro!
Boa leitura!