Aione 05/08/2015Sendo fã das músicas de Legião Urbana, fiquei extremamente interessada na leitura de Só por hoje e para sempre, o diário feito por Renato Russo em seu período de reabilitação entre abril e maio de 1993. Antes de falar sobre a leitura em si, acredito que seria interessante trazer algumas informações biográficas do cantor.
Renato Manfredini Júnior nasceu em 27 de março de 1960 no Rio de Janeiro. Morou nos EUA entre os seis e treze anos, e, após essa idade, retornou ao Brasil, morando então em Brasília. Trabalhou como professor de Inglês e Jornalista, e fundou a banda de rock Aborto Elétrico, em 1978, juntamente de Fê Lemos – bateirista – e André Pretorius – guitarrista. A banda se desfez em 1981, dando início a uma fase solo de produção musical de Renato, conhecido na época como O Trovador Solitário. Em 1982, surgiu a Legião Urbana, que passou por modificações em sua formação original até chegar aos integrantes finais – Renato Russo, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá. O primeiro disco da banda foi lançado no início de 1985 e, ao todo, 16 discos foram lançados (alguns após a morte de Renato), entre álbuns de estúdio e ao vivo. Renato Russo faleceu em 11 de outubro de 1996 com 36 anos, devido a complicações causadas pelo HIV.
Giuliano Manfredini, filho do cantor, escreveu o prefácio de Só por hoje e para sempre falando sobre a personalidade de Renato e seu constante hábito de escrita. Escrevia, em suas palavras, para deixar seus pensamentos e emoções registrados para o futuro. Durante seu período de reabilitação em Vila Serena, a escrita fez parte de seu tratamento. Através dela, contava seu dia na clínica e rememorava os motivos e os fatos para que ele tenha chegado até aquele ponto de sua vida.
A editora Companhia das Letras reuniu esses escritos, organizados de acordo com o plano de tratamento do cantor – documento esse presente logo nas primeiras páginas do livro. Muitas das perguntas as quais Renato responde não puderam ser localizadas, de forma que suas respostas nem sempre podem ser compreendidas com exatidão, uma vez que não estão contextualizadas. De qualquer forma, isso não é um empecilho à leitura ou à imersão no sincero relato do cantor. A diagramação da obra, também, contribuiu completamente para isso: a escrita de Renato foi preservada, com suas abreviações e estrangeirismos. Além disso, muitos dos seus escritos eram ilustrados por ele e, novamente, a editora procurou incluí-los nas páginas. Por fim, a própria cor das letras utilizada remete aos manuscritos originais: azul, como a tinta de uma caneta.
Só por hoje e para sempre, ainda que seja uma leitura rápida por não ser extensa, passa longe de ser uma leitura leve ou sem profundidade. Foi incrível poder conhecer bastidores da vida do cantor, por meio de relatos de episódios de sua vida, e enxergá-lo como um ser humano, com suas falhas e qualidades, não simplesmente um rock star. Renato é extremamente sincero e humilde em suas palavras por ser capaz de analisar seus erros e defeitos, por ser capaz de admitir seus piores sentimentos, da mesma forma em que fala de suas qualidades sem se vangloriar delas, sendo apenas alguém consciente de si mesmo. Acima de tudo, fiquei tocada por seu claro e profundo desejo de mudar sua vida e suas atitudes, de eliminar seus vícios, de recuperar não apenas sua saúde física, mental e emocional, mas, principalmente, sua própria identidade. Renato traz, sim, muito do que perdeu em sua vida até atingir o que ele chamou de “fundo do poço”, estopim para buscar ajuda através da reabilitação. Contudo, traz, principalmente, sua vontade de viver sem ter que vivenciar qualquer outra perda do tipo, aceitando a si mesmo e às situações que fugiam ao seu alcance, e aprendendo a lidar com os pontos altos e baixos de sua personalidade.
Só por hoje e para sempre não é apenas um relato auto-biográfico de um curto período da vida de um homem. Indo muito além disso, é a busca desse homem por si mesmo, por sua fé um dia perdida. Envolvente e interessante por seu conteúdo, a obra é, acima de tudo, inspiradora e capaz de ajudar qualquer um que também precise de ajuda. Afinal, ainda que de maneiras diferentes, é muito comum nos sentirmos perdidos em alguma fase de nossas vidas. O importante é nos lembrarmos de ser feliz, nem que seja só por hoje.
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