A Geografia: Isso serve, em Primeiro Lugar, para Fazer a Guerra

A Geografia: Isso serve, em Primeiro Lugar, para Fazer a Guerra Yves Lacoste




Resenhas - A Geografia - Isso serve, em Primeiro Lugar, para Fazer a Guerra


6 encontrados | exibindo 1 a 6


jeankcio 24/04/2024

Para que serve a Geografia?
Nessa obra Lacoste chama atenção para uma ferida do geógrafo: para que serve a Geografia? O autor explora como as outras ciências definiram muito bem seu campo de estudos e a Geografia ficou com uma ciência de síntese, menos respeitada que as demais. A partir disso, os geógrafos vivem em uma crise, se se aproximam das ciências naturais, se das humanas ou das exatas (Nova Geografia – teorético quantitativa). Se num primeiro momento o geógrafo era um conselheiro de príncipes e dirigentes de estado por ser o único que domina as cartas, com o tempo ela passa ao domínio dos militares mas ganha desprestígio com a geopolítica hitleriana dos alemães. Quando escreve, a Geografia se reservou a formar professores que ensinam enciclopédias para alunos nas escolas. Lacoste faz um apelo para o resgate da política na Geografia, alegando que é importante não negligencia-la, e endossa que o poder de síntese do geógrafo é importante pois ninguém mais pode fazer uma leitura espacial, considerando camadas tão distintas das regiões como faz o geógrafo.
comentários(0)comente



Fael 14/03/2021

Necessário não só para profissionais da Geografia
A negligência que a Geografia sofre desde o começo do século XX na França è exposta por Yves Lacoste de maneira dura e coerente.
Segundo Lacoste, é a ?academização? da Geografia na França a principal causa do distanciamento de sua principal utilidade para a sociedade.
Lacoste aponta o uso da ?verdadeira ciência? geográfica para fins militares e políticos desde antes a institucionalização da Geografia como ciência. Esse uso da ?Geografia dos Professores? concebido nas Universidades Francesas (e acolhido aqui no Brasil na institucionalização da Geografia na USP no início do sec XX) ideologizaram a Geografia, negligenciando saberes geográficos fundamentais, como o uso político da estrutura/conformação espacial.

A partir dessa reflexão, Lacoste desenvolve seu livro apontando as medidas que devem ser tomadas por todos os amantes da Geografia, numa tentativa de reconstrução epistemológica perdida no tempo. Desse modo, Lacoste enaltece a geopolítica, altamente negligenciada, principalmente depois do uso extensivo por parte dos nazistas, e inclui a discussão política como fator preponderante da Geografia, que tem como principal missão saber pensar melhor o espaço e assim agir de maneira mais eficaz e consciente na construção do mesmo.

Ficaria horas debatendo as questões, super pertinentes, levantadas por Lacoste. Me despertou diversos questionamentos à própria Geografia que antes não havia refletido, além de outros pontos que não concordo com o autor.
Mas sem dúvida é uma obra super necessária para a comunidade geográfica e toda a sociedade de maneira geral, pois todos precisamos refinar nossos conhecimentos geográficos para melhor ocuparmos espacialmente nossas vidas.
comentários(0)comente



Carol 12/03/2021

Esse livro é meu xodozinho da graduação! Nunca duvidei da minha escolha em relação a Geografia... com esse livro, só tenho mais certezas! Leiam
comentários(0)comente



Hugo.Lousada 14/11/2020

Ótimo livro
Pra quem gosta de ciências humanas esse é um livro magnífico. Algumas críticas feitas pelo autor eu achei que não fazem muito sentido, mas entendo o posicionamento.
É uma introdução ao pensamento geográfico e geopolítico. Está para a geografia como O Ofício do Historiador de Marc Bloch está para a história ou como Aprender a Antropologia de Laplantine está para a antropologia/etnologia. Realmente bem bom, recomendo!
comentários(0)comente



Vitor 13/02/2018

Show
Livro essencial para quem estuda Geografia, mudou totalmente minha visão sobre o espaço e a sua importância. É um livro que mostra a grande função da Geografia, que serve primeiramente para fazer guerra.
comentários(0)comente



Larissa 25/10/2012

A abordagem da geografia para além da descrição e do enfadonho
Miopia e sonambulismo no seio de uma espacialidade tornada diferencial, é o tema do quarto capítulo deste livro de Yves Lacoste. A partir deste capítulo, ele vem nos mostrando que seríamos como sonâmbulos, que andamos pelo espaço como se estivéssemos dormindo. Sendo assim, não teríamos uma consciência clara do que está ao nosso redor. Porém, essa miopia e sonambulismo estão presentes por grande parte da população, exceto para uma pequena porção dominante que detém o poder. Para entender esse fenômeno nos dias atuais, é preciso observar como ele foi se transformando ao longo da história e fazer menção ao conjunto de práticas e as diversas representações de espaços que lhe são conectadas.
Na época em que os homens tinham uma vida basicamente para o auto-sustento, onde ela era desenvolvida apenas em uma aldeia, eles obtinham o conhecimento desta região por experiência própria, porém, desconheciam áreas ao seu redor que eram habitadas por aldeias vizinhas. Como esses espaços eram pequenos, era possível ter um conhecimento de tudo que havia por ali, diferentemente de áreas mais extensas onde o olhar pessoal não era mais suficiente para se observar o espaço como um todo. Foi a partir deste momento que o geógrafo-cartógrafo se torna essencial: ele representa, em diferentes escalas, territórios mais ou menos extensos [...] (P. 44). Portanto, por muito tempo a cartografia era uma representação do espaço usada somente como prática de uma elite poderosa (os militares).
Ao longo do tempo, com o crescimento das cidades por exemplo, as práticas espaciais tornam-se complexas e ampliadas, se configuram sendo multiescalares (para o autor, essa concepção é um conceito da sociedade capitalista). Isso se deu através do deslocamento feito pelo homem, uma vez que, os espaços percorridos por ele aumentou consideravelmente e junto disto vieram os meios de transporte e investimentos em estradas que ligam grandes distâncias. Deste modo, as práticas espaciais se estenderam e receberam diversidade social.
As conexões entre diferentes pontos globais vão ganhando visibilidade dentro do espaço, denominado assim as chamadas redes. Entretanto, essas redes apresentam-se de forma desigual sobre os territórios.
Práticas sociais tornaram-se, de forma confusa, em multiescalares. Nos dias de hoje temos uma descontextualização permanente do espaço e com isso vamos nos habituando em migalhas nesse espaço (da moradia, do trabalho, do estudo...). Assim, vivemos em uma espacialidade diferencial feita de uma multiplicidade de representações espaciais, de dimensões muito diversas, que correspondem a toda uma série de práticas e de idéias, mais ou menos dissociadas [...] (P. 49)
No sétimo capítulo, Lacoste aborda a questão das interseções de múltiplos conjuntos espaciais. O espaço é a interação desses conjuntos espaciais. Ele é composto de regiões e essas seriam definidas a partir de critérios geológicos, climáticos, econômicos, etc. Para Vidal de La Blache a regionalização deve ser feita de forma fixa a partir da descrição com base na estrutura N-H-E, sendo assim, ela é conflitante com a ideia de espacialidade diferenciada. Contrariamente, para Lacoste, é possível regionalizar de acordo com os conjuntos do interesse que o indivíduo possui.
As configurações espaciais dos fenômenos dão-se a partir de uma demarcação em um mapa sobre um conjunto de coisas (transporte, vegetação, migração, ...), construindo um desenho de localizações - cartografia do fenômeno - formando assim, diversas regionalidades. Porém, essas divisões do espaço seriam conflitantes com as configurações da realidade e não coincidem muitas vezes umas com as outras, tornando-se interseções complexas. Uma vez que, uma mesma região pode apresentar características que não se encaixam em todos os lugares que estão dentro da mesma.
Os conjuntos espaciais são representações abstratas da realidade, produzidos por diferentes disciplinas na esfera acadêmica. Sobretudo, a diversidade da realidade não pode ser baseada somente através da descrição e da divisão feita por um conhecimento especifico (configuração particular de um conjunto), mas sim, com a combinação entre todos esses conhecimentos. A representação mais operacional e mais científica do espaço não é a de uma divisão simples em regiões, em compartimentos justapostos uns aos outros, mas a de uma superposição de vários quebra-cabeças bem diferencialmente recortados. (P. 70)

Os contornos, principalmente, geológicos e provinciais foram privilegiados para a marcação das fronteiras entre as regiões (relação entre a política e a hierarquia), uma vez que representavam uma forma mais estável, mais importante e dotada de interesse.
Para o autor, os professores de Geografia vão seguindo a concepção de região de La Blache ao invés de articularem a complexidade do espaço com os contornos das diversas categorias de conjuntos, desta forma, eles abordam a representação desse espaço como se todos esses conjuntos coincidissem. Sendo assim, hoje essa representação tornou-se uma realidade geográfica graças ao ensino que é passado para os alunos.
Essa ideia de região traz consigo um sentimento de nacionalismo, de amor a pátria. Já que logo se pensa que o país que habitam é o agrupamento de certo número de regiões, onde essas são entidades vivas, eternas e que suas fronteiras jamais serão modificadas. É preciso saber que esta representação não é operacional e que as configurações desses conjuntos espaciais são mais complexas do que essa simples divisão em regiões que é reproduzida em sala de aula pelos professores.
Neste próximo capítulo uma etapa primordial no caminho da investigação geográfica: a escolha dos diferentes espaços de conceituação, Lacoste tem como objetivo, fazer algumas abordagens sobre a temática de conceituação do espaço partindo do pressuposto que quando se entende ou estuda alguns fatos consequentemente acaba-se por surgirem novos questionamentos ou acarretando novas incertezas ao passo que outras são esclarecidas, logo, não existindo um único conhecimento, pois alguma parte ficará obscura necessitando de mais compreensão e isto não se pode deixar de lado. De acordo com isso, não existiria apenas uma forma de análise de conhecimento para abranger todas as áreas que precisam ser esclarecidas, faz-se necessário o uso de diferentes escalas espaciais, onde estas precisam ser analisadas e a partir disso conectá-las, o que o autor irá chamar de conceituação diferenciada porque são usados diferentes tipos de análise.
Deve-se então, analisar os fatos de acordo com as suas características espaciais, ou seja, diferentes espacialidades, uma vez que, serão usados níveis de análise diferenciados. Também é importante lembrar que não se deve pensar que conhecimentos de ação como é o caso de urbanística são de segurança, pois eles correspondem a espaços operacionais. É por isso indispensável que nos coloquemos em outros níveis de analise, levando em consideração outros espaços. (P.81)
Desta forma, Lacoste deseja ressaltar e questionar a idéia de qual metodologia deve ser usada para se analisar as diferentes espacialidades e como fazer uma conexão entre elas. A partir dessa temática há um aprofundamento no conceito que é muito conhecido na geografia, a escala, pois por serem diferentes as espacialidades e suas análises devem ser realizadas de acordo com as suas particularidades, onde após isso, se faça uma ligação entre elas para poder entender como se são os acontecimentos em diferentes tempos no espaço. Sendo assim, de acordo com as escalas os eventos também tendem a mudar e vice-versa.
Os espaços devem ser entendidos como ligações encontrando algo que os faça ter sentido e esclarecimentos, porém analisados sobre diferentes visões espaciais. As representações devem ser sempre questionadas uma vez que se deve fazer distinção entre o espaço sendo considerado como objeto real e o espaço como objeto de conhecimento, uma vez que, o primeiro parte de pressupostos que podem ou não ser deformantes por meio de um instrumento conceitual que pode ser correto ou não, ao passo que o segundo, parte de inúmeras representações do espaço real mas que por passarem por descobertas a todo instante nunca se dão como acabadas.
O autor para falar de forma mais clara sobre o que se pode entender por espacialidade diferenciada partindo de que se devem considerar a escala, cita Vidal de La Blache que tinha por concepção o conceito de região como o mais adequado para entender as diferenças de espaço e tempo, porém as individualidades geográficas partem das escalas que causam às vezes a ilusão de similaridade com a realidade que parecem estar abrangendo ao todo o que evita na realidade embates epistêmico, isto é, ele partiu do conceito de região para explicar um espaço com múltiplas diferenças logo, seriam necessárias diferentes escalas. O quadro que Vidal dá às suas observações e às suas reflexões é a região, que ele apresenta como realidade geográfica por excelência. (P.83)
Então, por isso é importante considerarmos outros conhecimentos e levar em conta suas particularidades tentando fazer vínculo entre elas a partir do conceito de escala, que muda de acordo com objeto a ser estudado e não corresponde a uma totalidade. Por isso, a importância de se considerar as escalas diferentes, pois, determinado fato econômico, por exemplo, pode estar localizado em uma escala local e não em uma regional. Tais referenciais e essa retomada do conceito de escala como o primeiro passo para a escolha de espaços de diferenciação, acabam sendo um modo de conscientizar e alertar para os problemas geográficos.
Em as diferentes ordens de grandeza e os diferentes níveis de análise espacial, Lacoste dá ênfase a uma análise do espaço a partir de cartografia, onde essas escalas de grandeza são relativas em relação a sua conceituação e ao que se deseja analisar.
O autor prossegue sua obra dizendo que os mapas mesmo com diferenças de escalas fazem com que a espacialidade de conceituação continue a mesma, porém isso sendo apenas para um determinado espaço. Caso essa carta for ampliada a demais regiões, essa conceituação pode se modificar e mostrar um todo e até mesmo as relações conflituosas com demais áreas, uma escala mostra além do tamanho, a mudança dela também apresenta conceitualidades distintas.
É necessário segundo Lacoste, observar os tipos raciocínios geográficos a partir das distinções de tamanhos que existem na realidade entre as espacialidades e não apenas a partir das diferenças de escala que são de redução que influenciam algumas representatividades cartográficas da realidade assim fica mais fácil reconhecer semelhanças e dar ênfase as diferenças entre esses conjuntos espaciais, precisa ser algo além do cartografado. Pode-se pensar também que os conceitos variam de acordo com o tamanho da escala, pois devido a ordens de grandezas diferentes entre regiões os termos para descrevê-los acabam ultrapassando o que é na realidade e acaba sendo abstrato.
O autor faz algumas classificações para ordenar as grandezas em sete partes nos quais alguns conjuntos fazem o contorno da terra e outros menores que estão em uma carta em escala maior e tem alguns metros e é a partir dessa classificação que se pode escolher a escala, mas não apenas por esse fator. A partir das diferentes grandezas que se diferenciam os distintos graus de análise que podem ser classificados por planos, onde são cartografadas e analisadas como interseções e que possuem mesmo tamanho dimensional, isto é, partindo das ordens de grandeza que se determinam as escalas e os níveis de análise podendo isso ser realizado de diversos modos, agora a escolha da ordem parte da analise que se deseja fazer em detrimento do que se quer praticar. É de inicio, em função dessas diferentes ordens de grandeza que se faz a escolha das escalas [...] (P.90)
A maneira de se fazer a articulação dos diferentes graus de análise em função da prática não é uma tarefa fácil, as interseções de conjuntos espaciais são de muitas classificações/categorias científicas e como diz o próprio autor de raciocínio estratégico, o encaixe e seus erros são amenizados pela perda ou ganhos em relação do objetivo que se pretende atingir, ou seja, é uma ação com caráter militar e a outras dimensões que se desejam levar em consideração a ação humana, pois, envolve tática e estratégia. Pois a geografia não serve somente para fazer a guerra. (P.92). Dessa idéia de raciocínio estratégico aliado ao geográfico é que surge a geografia ativa.
Desta forma, Lacoste demonstra que a cartografia tem forte interferência nas ações práticas a partir de diferentes ordens de grandezas que agem de acordo com o interesse que desejam atingir para que a partir disso sejam analisadas e definidas como um saber estratégico e tático, onde se deve partir das ordens de grandeza e não mais das escalas que diferenciam os níveis de análise e representadas por interseções de conjuntos espaciais que podem vir de categorias diversas e até mesmo de cunho cientifico. Portanto, não se deve classificar esses conjuntos em função de disciplinas cientificas que observam e analisam frações da realidade, agora se faz necessário classificar em relação as diferenças de tamanho e não apenas em escalas representativas.

Autoras: Larissa Silva Gonçalves e Ludimila Mosca Nascente (Graduandas no curso de Geografia na Universidade do Estado do Rio de Janeiro)
comentários(0)comente



6 encontrados | exibindo 1 a 6


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR