Kris Monneska - Conversas de Alcova 31/10/2016Palahniuk sendo Palahniuk, apenas.Clímax foi a minha primeira aventura pela escrita do aclamado autor Chuck Palahniuk e confesso que nem ter assistido ao Clube da Luta, filme baseado em outro livro do autor, e nem ter ouvido os comentários de diversos amigos sobre as obras dele me prepararam para a surpresa que essa leitura me proporcionou. Esse é sem dúvida um livro escrito com não um, mas os dois pés no reino da loucura, mas que com certeza traz à tona críticas sólidas e muito conscientes.
A história começa em uma cena já próxima ao fim e depois somos conduzidos para onde realmente tudo começou. E é ai que nós conhecemos Penny Harrigan uma jovem advogada de aparência e personalidades comuns e também levemente desengonçada, que acaba de uma hora pra outra sendo cortejada pelo homem mais cobiçado da América, C Linus Maxwell, mais conhecido como ClíMax.
Tenho quase certeza que esse início te lembrou uma outra obra, né? Pois acredito que essa foi exatamente a intenção do Chuck, pois o autor desenvolveu em sua obra um núcleo de personagens bem semelhantes aos que são comumente usados para desenvolver alguns romances eróticos que fazem sucesso atualmente. Mas, a semelhança só fica por ai mesmo, pois a única intenção do Chuck com isso é a de salientar a Sátira, já facilmente detectável desde o inicio da leitura. Porque uma vez que os protagonistas começam a se relacionar, o enredo engata a marcha rápida para o reino da loucura.
Penny descobre que nada mais é do que uma mera cobaia de ClíMax no desenvolvimento de sua linha de apetrechos sexuais femininos e é assim que ele pretende dominar o mundo. E é ai que a história começa a se transformar de uma sátira soft-porn à uma distopia pré-apocalíptica do sexo.
Sério minha gente, vocês já viram isso em algum livro?
Então, não tenho mais nem como descrever outras coisas que acontecem na história, porque simplesmente não iria adiantar, vocês continuariam sem entender e eu ia dar um monte de spoiler. Entendam, nada que eu disser vai preparar você para o que você vai encontrar nesse leitura.
A escrita do Chuck é bem dinâmica e clara, algo que acaba facilitando a leitura, já que o enredo acaba sendo bem tortuoso, mas não posso deixar de dizer que a achei levemente impessoal também. A História é narrada em terceira pessoa, mas o narrador só acompanha a Penny de modo que eu fiquei com a impressão de que a história era contada pelo ponto de vista dela. Uma vez que existem vários personagens secundários que poderiam ser mais ultilizados, assim como o próprio ClíMax poderia ter recebido mais alguma visibilidade, mas eis ai mais uma forma do autor criticar o machismo nos soft-porns, ele dá em sua obra o protagonismo todo a mulher. Porém essa narração (perseguidora) fez com que no momento que eu comecei a questionar a sanidade da personagem, Penny, eu acabei desconfiando um pouco do narrador também, pois era como se ambos estivessem ligados, na minha concepção.
Enfim, o livro traz em suas páginas várias críticas sociais, fica claro o posicionamento do autor quanto a cultura de massa e ao consumismo que ela promove, mas a história vai além e crítica a sociedade misógina, porém, não se iluda que no meio disso tudo o feminismo foi poupado de receber uma crítica, não foi. E recebeu uma muito válida, diga-se de passagem.
Chuck se mostrou um autor hiperativo, terminei a leitura embriagada e chocada como ele conseguiu colocar tanta coisa, tanta loucura, dentro de tão poucas páginas. Mas, é assim que caminha esse livro, dividido entre a comédia pastelão, que te leva a crer que está lendo mais um besteirol americano, e ai na sequência o autor te lança uma crítica ácida, que se assemelha a uma paulada na cabeça da sociedade, pra então chocar mais ainda com a descrição de cenas de sexo explicitas, obscenas e bizarras, que foram capazes de chocar até a mim (e olha isso é difícil).
Parece que cada linha que eu escrevo tentando explicar, eu consigo confundir mais, por isso me abstenho por aqui.
Eu curti muito a leitura e a recomendo, para maiores de idade, porque o livro tem algumas cenas bem pesadas. Para leitores críticos. Para pessoas de mente aberta que não tem problema de encarar o novo, o bizarro, o não trivial. Se você busca uma leitura pra relaxar, recomendo que procure outro livro, porque Clímax é uma obra questionadora, que te fará ficar de boca aberta, te fará rir e também refletir.
O Trabalho gráfico da editora Leya está excepcional, a capa do livro é a mesma da edição original e tem muita relação com o enredo, não notei erros na revisão durante a leitura, só achei que a letra usada poderia ter sido um pouquinho maior.
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http://www.conversasdealcova.com/2016/10/resenha-climax-chuck-palahniuk.html