AleixoItalo 02/01/2011Contém Spoilers:
Todos já devem conhecer o Hellboy, personagem das HQ’s criado por Mike Mignola, e interpretado no cinema por Ron Perlman, em dois longas dirigidos por Guillermo Del Toro. Apesar de terem sido uma adaptação divertida, os filmes fogem bastante do clima e da “alma” existente na HQ. Basicamente Del Toro fez Hellboy, aos moldes urbanos e hightechs de Blade, enquanto o personagem se encaixaria mais no estilo sombrio e medieval de O Labirinto do Fauno.
Portanto pouca gente pode conhecer, a verdadeira essência de Hellboy, nesse caso esqueça tudo o que você assistiu nos filmes, com exceção logicamente da personalidade explosiva e caricata de Hellboy – e de seus companheiros - que são os mesmos personagens nas duas mídias. O roteiro porém é completamente diferente, e se aprofunda sem medo em lendas e mitos europeus, além de rumores satânicos sobre o nazismo; o cenário também muda completamente, aqui cidades movimentadas e cheias de gente, típicas do país do Tio Sam, não aparecem na trama, que se passa quase toda em regiões ermas, utilizando muito mais o continente europeu.
Hellboy: Edição Histórica Volume 01, é um encadernado luxuoso – com capa dura - lançado pela Mythos, contendo a minissérie: Sementes da Destruição, a história de origem de Hellboy.
A história começa em 1944, e mostra um grupo de nazistas, atuando em um ritual diabólico – projeto Ragnarok – que visava a destruição do mundo, alguma coisa da “errado” e eles acabam invocando um jovem demônio, um Hellboy. O demônio porém, vai parar no meio de um grupo de parapsicólogos contratados para estudar os estranhos acontecimentos relacionados ao nazismo. A história da um salto e mostra que Hellboy foi criado pelo professor Trevor Bruttenholm, e agora já é um demônio adulto, porém não maligno. Agora um detetive paranormal, Hellboy presencia a morte do seu mentor, pelas mãos de um estranho monstro, que acaba sendo morto por Hellboy, antes porém Trevor Bruttenholm, conta a Hellboy sobre uma expedição que havia feito com os irmãos Cavendish até o norte do mundo, onde em meio a uma imensa cordilheira acharam uma escultura diabólica. Hellboy; Liz, uma pirogênica que acabou matando sua própria família num acidente; e Abe, um homem réptil encontrado num laboratório abandonado, são enviados para a mansão Cavendish para descobrirem algo mais sobre o estranho monstro. Abe fica encarregado de vasculhar o lago que rodeia a mansão, e lá descobre coisas aterradoras. Hellboy por sua vez, se depara com o desaparecimento de Liz, e ao tentar encontrá-la se vê frente a frente com o homem que o invocou, um mago nazista, que diz ter todas as respostas para o significado da existência de Hellboy. O mago numa tentativa desesperada para invocar o deus Ogdru Jahad (uma besta dragão, separada em sete corpos, que se libertada pode destruir todos os planos da existência) tenta usar o poder de Liz, que ele afirma ser mais do que simples piromancia, e cabe a Hellboy, Abe, e a quem mais interessar, impedir que o ritual se consuma.
A primeira história de Hellboy, acaba com gostinho de quero mais, deixando no ar, a identidade do mago nazista que invocou Hellboy, e terminando com uma câmera criogênica se descongelando, dentro da onde se encontravam um peculiar grupo nazista.
A narrativa de Mignola é excelente, e casa com primor, uma boa ação, suspense, terror e tensão. Ao longo de edição, ele consegue passar com muita facilidade para o leitor, todos os mistérios envolvidos na invocação de Hellboy, e a sua importância – mesmo que ainda envolta em muitos segredos – para a humanidade. Uma boa dose de sobrenatural, e profecias apocalípticas, e fica evidente a influência de Lovecraft na história de Mignola, com direito a monstros tentaculares, e antigos deuses fossilizados!
Além de roteirizar a HQ, Mike Mignola ainda dá um show na parte gráfica. As ilustrações de Mignola, são fantásticas, e com uma arte extremamente original e caricata, consegue passar com ninguém toda a profundidade do enredo, priorizando bastante, a paisagem. Apesar de caricato, o traço de Mignola é sutilmente sombrio, e sob suas mãos, detalhes como: arquitetura de mansões, lagos, montanhas, caveiras, armaduras, correntes, entre outras peculiaridades se tornam levemente “satânicas”.
Enfim isso é Hellboy, um dos melhores personagens já criados, que passa a ser um habitante perdido, em um mundo muito sombrio e inescrupuloso. Com influências do diabolismo de Hellblazer, da insanidade de Alan Moore, e de todos os mistérios obscuros que envolvem o Nazismo, Hellboy reinventa o terror, e se torna uma das HQ’s mais bem sucedidas dos últimos tempos. Lovecraft adoraria estar vivo para lê-la!