Deyse M. 09/11/2015
De onde vou tirar paciência para esperar o quarto livro?
Terminei a leitura há alguns dias e fiquei pensando no que escrever sobre o terceiro volume da série “Cormoran Strike”. Raramente aguardei tanto o lançamento de um livro. Ganhei “O Chamado do Cuco” de presente de aniversário, em abril, e a narrativa me encantou aos poucos, mais pelo modo como os personagens principais foram apresentados, seus perfis e o modo como cresceram durante a trama. Assim que terminei, fui correndo em busca do segundo volume, “O Bicho da Seda”, de que gostei ainda mais do que o primeiro livro e que me conquistou definitivamente.
Ao contrário de muitos, nunca li a série Harry Potter, muito embora tenha visto todos os filmes e goste do mundo que J.K. Rowling criou. Mas não estava familiarizada com sua escrita, que passei a considerar impecável e muito bem desenvolvida, e agora entendo porque ela encanta a tantos: sua capacidade de criar personagens carismáticos é indiscutível. Para mim, este é o elemento número 1 em uma narrativa. Não basta a história ser boa, original ou bem construída – estas características são importantes, mas deve haver personagens que façam o leitor se importar, torcer por eles e sofrer junto com eles. Cormoran Strike e Robin Ellacott são nada menos do que adoráveis em todos os seus aspectos, realmente apaixonantes. Confesso que há momentos, durante os três livros, em que passo a ligar menos para a trama e muito mais para o que acontece como os dois.
“Career of evil”, ainda sem tradução, é o livro mais sombrio da série até agora. Lida com temas pesados, como pedofilia e estupro, mostra um assassino que sente prazer em desmembrar suas vítimas – e há algumas cenas de assassinato que causam sim mal-estar. Li inclusive críticas que acusaram J.K. Rowling de expor muita violência gratuita. Não senti desta forma mas acredito que pode ser uma leitura bastante tensa para os que são mais sensíveis a estes temas, o que é totalmente compreensível.
Mas é também o livro que contém mais suspense e ação. O assassino dá calafrios! Os capítulos são introduzidos com um verso da banda The Blue Oyster Cult e narrados em terceira pessoa, como de costume, com exceção dos que o assassino aparece. É ele quem narra, em primeira pessoa, o que gostaria de fazer com Robin e com todas as suas vítimas, o que faz o leitor temer por todas e principalmente pela parceira de Strike.
Aliás, este livro é dela! Como gosto de Robin! Neste volume sabemos, por exemplo, por que ela deixou a universidade de psicologia e como desenvolveu seu talento para dirigir. Vamos mergulhar em seus sentimentos com relação às pessoas a sua volta, principalmente com relação à Strike e seu noivo, Matthew, e também com relação aos acontecimentos em sua vida, como seu casamento, o emprego que tanto ama e aquela investigação em si, que tem início com o recebimento de uma perna de mulher endereçada a ela. Robin é muito corajosa, mas também tem seus momentos de muita angústia e está literalmente “no limite” neste livro. Muitas vezes me emocionei e me comovi com ela.
Strike também está muito bem desenvolvido e também saberemos mais sobre seu passado, como se sente em relação aos que fizeram parte de sua vida, como seu ex-padrasto, sua mãe e suas memórias amargas do tempo em que eles viviam juntos. Vamos também conhecer três homens terríveis que ele ajudou a pôr na cadeia e dos quais ele suspeita possa ser o assassino em série que assombra esta história. E também (e isso foi o melhor para mim) saberemos muito mais em relação a seus sentimentos em relação à Robin.
Amei 90% do livro e lhe daria dez estrelas tranquilamente. Mas aí vieram os 10% finais e as dez estrelas viraram três. Não gostei do final. Aliás, detestei. E minha crítica é tanto com relação ao destino dos personagens centrais como a resolução da trama em si. Fiquei abismada como o culpado não foi descoberto antes. Não posso falar muito para não dar spoiler mas sinceramente, não acredito que Strike, um investigador tão experiente e que já viu e entrevistou tantos criminosos, não tenha percebido um detalhe que estava literalmente na sua frente. Achei muito forçada a solução do caso e de quem era o responsável por tudo – não pela pessoa em si, mas como se conclui que esta pessoa é a culpada.
Quanto aos meus personagens tão queridos, limito-me a dizer que odiei o destino que a Sra. J.K. Rowling lhes deu (me recuso a chama-la pelo pseudônimo – sim, estou com raiva!). Odeio Cliff-hangers mas pelo menos nas séries eles são resolvidos no próximo episódio. Saber que vamos ter de aguardar a boa vontade desta senhora a escrever um quarto livro e que (pior!) ela pretende escrever mais de sete volumes para esta série me desanima muito e me faz refletir se quero mesmo ficar esperando tanto tempo para depois me decepcionar mais uma vez. Ou se vou aguardar que ela termine toda a série para saber se ler o restante dos livros valerá meu tempo e dinheiro.
Ah, e eu odeio Matthew com todas as minhas forças.