Brasyl

Brasyl Ian McDonald
Ian McDonald




Resenhas - Brasyl


14 encontrados | exibindo 1 a 14


Gabriely.Bernardes 10/05/2021

Me surpreendi
De fato um livro complexo e carregado de significados. Quem lê Brasyl não pode esperar menos do que física quântica e rituais religiosos. Confesso que em algumas partes me questionei se aquilo realmente era ficção científica, tamanho detalhes dados sobre a história do Brasil. E isso é outro ponto muito interessante, o autor de filiação escocesa e irlandesa, nascido na Inglaterra, teve uma precisão ótima ao falar sobre o Brasil, como nenhum brasileiro poderia. É uma boa leitura para quem quer sair da mesmice e botar o cérebro para dar uma fritada... recomendo.
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AndradeFS.Ju 30/03/2021

Talvez esperar demais do livro tenha me decepcionado. Esperava mais ação e menos enrolação? Sim. O livro começa a ficar interessante do meio para o final, mas não se mantém e acaba deixando muito a desejar no seu encerramento.
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Lelouch_ph 23/11/2020

Para os fãs de Sci-fi e viagem no tempo esse livro vai ser uma ótima indicação. E a construção dos personagens é impecável, me senti lendo como se um Brasileiro tivesse escrito, simplesmente amei. Claro que tive de ler bastante pra entender pq estava na nona série e eu era um pouco mais retardado que hoje, mas o livro é ótimo. É uma distopia muito interessante que explora a viagem no tempo sem te fazer entender de física quântica e põe um dilema muito legal e um plot, gostaria que tivesse uma continuação pra ser sincero e eu tenho de admitir me apaixonei pela protagonista feminina que luta capoeira, mulher braba, e achei legal uma arma indestrutível que só uma outra da mesma arma é capaz de destruir, mas ficaram dúvidas até demais sobre esse universo, espero que tenham outras obras do autor. Uma observação: O livro é contado no ponto de vista de três protagonistas em três épocas diferentes e que em algum momento irão todos se conhecer, todos eles estão enfrentando coisas extremamente grandes que não conseguem entender de início, mas após a metade do livro fica tudo mais tranquilo e você fica ansioso pra ler o resto.
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anjinhonay 30/05/2020

{Brasyl}
Dialogo que realmente nos faz diferenciar o tempo no qual é apresentado. Um design bem feito das páginas cada tempo com seus estilos, bem organizados e letras legíveis.

Deixou a desejar no início visto que, a trama realmente começou a me chamar atenção entre as páginas 210. O que antes era uma narração cheia de detalhes sem muita coisa envolvente, se transforma uma mistura de aventuras dentre as investigações, casos e fugas.

Os personagens principais são Marcelina, Edson e Luiz Quinn. Cada qual com suas próprias peculiaridades, sendo elas respectivamente: uma jovem jornalista que trabalha numa emissora quase falindo que resolver ir atrás de uma notícia que pode retomar o foco em seu trabalho; O outro foi o mais difícil de lembrar por que ele possuiu diferentes nomes no lugar que vive, porém vemos que é um ótimo empresário; e por fim, o padre da época de 1700 que guarda certos segredos sobre si.

Todos de alguma forma têm seus próprios conhecimentos sobre a física quântica seja por outra pessoa ou por estarem habituados na vida, como Edson.

Li em uma das resenhas deste livro que este é um livro que deveria ser escrito por um brasileiro. E, depois de concluí e pensar um pouco, a certeza apareceu, deveríamos ter mais livros com essa visão diferente do Brasil. Para quem sabe, lembrarmos, refletimos e até mesmo entendermos que o Brasil é muito mais do que podemos imaginar.

*FRASES DO LIVRO*
-"Só quando você olha de perto é que as rachaduras começam a aparecer"
-"Não importe o lado que você olhe, o mundo é louco mesmo"
-"A verdade sempre existirá, porém disfarçada"
-"Assim como os números, a música é uma coisa interessante de si própria, que não se faz representação de nenhuma realidade"
-"O Brasil respeita o poder e pouca coisa além disso"
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Cássia Alencar 12/10/2017

Brasyl
Vidas paralelas, tempos paralelos, universos paralelos e um só país. Em Brasyl, o escritor Ian McDonald abre uma janela para três paisagens distintas: uma futurista, outra contemporânea e uma no passado, ligando esses três universos tão distantes e, ao mesmo tempo tão próximos, está a física quântica, suas possibilidades e suas conseqüências.
O interessante é que parece que estamos lendo 3 livros ao mesmo tempo, em um único volume e por mais maluco que pareça dá pra separar as estórias. Um livro que merece ser lido. Bem diferente!

site: https://thebookcraze.blogspot.com.br/
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Luciano Luíz 22/08/2017

Esse é um daqueles romances que pode ser analisado de muitas formas. A ficção é liberdade de viajar por caminhos históricos e com estes fazer o que quiser. É muito comum vermos livros escritos por brasileiros onde o cenário são os Estados Unidos, França, Inglaterra, China, Japão, Argentina, Cuba e outros mais. No entanto, ver o Brasil servindo de cenário para uma obra estrangeira é algo que raramente acontece. O inglês IAN MAcDONALD se enveredou pela História, cultura e diversas tradições brasileiras para assim ambientar seu romance de ficção científica.
BRASYL é dividido em três tempos: presente, passado e futuro onde personagens, ações e a trama se mesclam. Isso não é novidade, mas em se tratando de Terra Tupiniquim por um autor internacional é algo inédito...
Aqui o enredo começa no presente, no Rio de Janeiro com uma produtora de TV que faz qualquer coisa para conseguir audiência, ainda mais contra a toda-poderosa Rede Globo. Depois a história segue para o futuro em 2032 e temos um favelado doido para conseguir se dar bem com uma moça que faz embaixadinhas. Como ali a tecnologia está avançada, então temos muitas coisas como drones espalhados pela cidade (desta vez em São Paulo), próteses, impressão 3D e mais um monte de quinquilharias. Aí vamos para o passado, século 18 onde um padre vem para o Brasil e encaminha-se para o interior da Floresta Amazônica e lá deve confrontar um outro padre que desgarrou-se da doutrina e quer construir seu próprio império...
Ou seja, o enredo não tem absolutamente nada de interessante neste quesito. É só uma ficção científica de tempo e espaço e claro, dimensões com universos paralelos, alternativos, muitas versões do Planeta Terra e obviamente dos personagens e lugares onde estão. Há muita conversa sobre isso e teoria e prática quântica, de que tudo já ocorreu e continua acontecendo infinitamente. Que a Copa de 1950 em outro universo teve um destino diferente e o Brasil venceu e por aí vai com mais blá, blá, blá...
O início da aventura é chata, depois melhora ficando muito boa, até que em certo momento fica ótima... porém, as páginas vão seguindo e a qualidade vai caindo. Pouca coisa se salva. As conversas são repetitivas demais. Os personagens não se surpreendem com certas coisas que soariam como absurdas a outros. A narrativa acaba se perdendo e fica sem sentido em certos parágrafos para só depois ficar funcional... Os últimos capítulos trazem revelações que não espantam nem os próprios personagens, pois é sempre mais do mesmo...
O livro então é ruim?! Sim e não. O ponto positivo com toda certeza é a quantidade absurda de informações sobre o Brasil. É tanta coisa que em algumas páginas chega a ficar massante e então nada mais é mencionado para novamente voltar a ser bombardeado com tantas outras coisas que não parecem ter fim... Isso mostra que o autor realmente fez uma pesquisa profunda e que chega a assustar, pois nem em livros escritos por brasileiros você vai encontrar tamanha tonelada de informações. Porém, aqui nesse sentido acaba sendo um ponto também negativo. Pois com tudo que foi enfiado no livro, dava para ter escrito mais um ou dois como se fosse uma série, saga, etc...
O livro passa a impressão de que todos os brasileiros curtem futebol, feijoada, samba, funk, sertanejo, ou andam pelas ruas de São Paulo ou Rio de Janeiro com todas essas coisas na cabeça. Sem dúvida um dos parágrafos mais interessantes é sobre a História da derrota na Copa de 50 que foi muito bem escrito. Só que no final do livro o autor menciona uma obra onde leu e usou como referência as cenas. E que chegou a copiar até... bem que desconfiei que tava bom demais... Ou é só ironia... vai saber...
Mas a narrativa em si, da ambientação, detalhes de cenários, é de boa qualidade até a metade do romance. Depois fica bem cansativo, enjoa e não surpreende em nada.
Para quem está a fim de um romance de ficção científica com certeza este é uma leitura bacana e se quer conhecer mais sobre o próprio país então, é mais que recomendando. Só que no meu caso achei que este seria um livro que ia ficar na memória e ter orgulho de colocar na estante.
Semana passada tava passando em frente a livraria Fonte Nova e vi na vitrine. Entrei, dei uma olhada e pensei: um livro ambientado no Brasil e escrito por um autor estrangeiro?! Tenho de ler isso...
Pois é... A ideia sobre o multiverso é ótima, mas em minha humilde e sinceríssima opinião foi feito de um jeito que às vezes é bom, é ótimo e no restante é péssimo, mequetrefe, medíocre... O Brasil é realmente retratado com uma fidelidade espantosa, só que simplesmente ir enchendo de informações reais não significa que o enredo vá ser uma maravilha...
A capa é bonita com um Rio de Janeiro futurista (porém, vários edifícios são os mesmos, devido a preguiça de quem desenhou...) e na contracapa a foto original em preto e branco (que sequer é mencionada nos créditos, mas acredito que seja uma da coleção Princesa Isabel, pois é muto parecida).
Não é um livro pequeno. Tem três tipos de fonte que representa cada tempo. Outra coisa que achei chata foi que a história começa no presente, vai pro futuro e depois passado e assim volta pro presente e continua no futuro e outra vez passado e presente, futuro, passado até o fim...
Seria muito mais interessante se em algum ponto, os tempos alternassem, pois dessa forma os leitores e leitoras se surpreenderiam e a leitura ficaria muitíssima mais interessante. Pois não teria como saber se no capítulo seguinte seria passado, futuro ou mesmo o presente novamente. Mas como segue sempre a mesmíssima ordem, você já sabe em que tempo vai estar antes mesmo de concluir o capítulo... imbecilidade é um elogio nesse caso...
Adoro livros de ficção científica, mas é difícil de encontrar algum que seja realmente bom. Tanto em narrativa quanto em enredo. Geralmente quando algum deste livros é convertido em filme, todas as cagadas são consertadas. Uma pena que autores de ficção científica tenham a mania de escrever mal... Pois passam a impressão de que querem ter domínio sobre a escrita e fazer da forma mais complexa possível em certos momentos. Parece que sentem receio em usar uma linguagem mais simples e sem todo aquele rodeio que tenta passar a sensação de que o que será lido será considerado como uma obra de arte... O livro pode até conter uma narrativa mais sofisticada e difícil, isso não é problema algum, mas desde que tenha qualidade...
Brasyl é bom e ruim. É ótimo e péssimo. O enredo poderia trazer algo mais ali, só que até o cotidiano dos personagens é massante. E a narrativa perde muita qualidade de repente. Apesar da leitura ter sido lenta a maior parte do tempo e principalmente nos últimos capítulos, acho que valeu a pena se aventurar em três tempos e muitos universos... No entanto, o livro está distante de ser algo que vá fazer falta na estante...

Nota: 10 (ambientação/cenário)
Nota: 0 (enredo/trama)
Nota: 10 (pesquisa Histórica/cultural)
Nota: 4 (narrativa)

L. L. Santos

site: https://www.facebook.com/lucianoluizsantostextos/
@hialee 23/08/2017minha estante
Concordo muito com vc. A achei esse livro nas americanas e comprei pensando o mesmo motivo que vc pensou.
Dá pra ver que o autor fez uma bela pesquisa, mas pra mim a escrita não ajudou.
De início eu achei a escrita tão confusa que até pensei que talvez estivesse lendo na verdade uma tradução de português de Portugal. Tanto que até fui pesquisar pra ver se era isso
Ou frases são desconexas mesmo ou é a tradução que é ruim mesmo.
Resultado : desde fevereiro que marquei como lendo e ainda não consegui terminar. Um capítulo não me deixa anciosa pra ler o


Luciano Luíz 24/08/2017minha estante
Sobre essa questão do português de Portugal, acredito que tenha algo a ver, pois em alguns pontos há umas discordâncias. Passa a impressão de que o tradutor é português e fez o melhor possível para que o livro se adequasse ao Brasil. Mas sei lá... ^_^ Se o livro fosse no português de Portugal teria sido muito mais aproveitável neste caso, pois seria uma tradução direta. :v


Vislei Gonçalves 25/09/2017minha estante
Sorry, mas de preguiça de ler essas resenhas imensas pelo celular. Li o comentário da H. Alves. Também comprei na Americanas, gostei da capa da sinopse e mais ainda do preço, só que não li ainda.




Davenir - Diário de Anarres 10/01/2017

Uma infinidade de Brasis
"Brasyl" de Ian McDonald é, apensar de uma das linhas narrativas parecer um romance histórico, uma Ficção Científica sobre mundos paralelos e uma lamina capaz de cortar qualquer coisa.

O estória segue três personagem em tempos diferentes, começa com Marcelina Hoffman, uma produtora de TV em um canal sensacionalista num Brasil de 2006, que procura Barbosa, o goleiro da seleção brasileira da copa de 1950, para mais um de seus reality shows. Depois conhecemos Edson Jesus Oliveira de Freitas um paulistano malando que agencia modelos de dia e se traveste de noite em um Brasil cyberpunk em 2032 cercado por tecnologia de vigilância que se envolve com Fia, que faz parte de uma gangue que usa tecnologia de computadores quânticos; e por fim o padre jesuíta Luis Quinn que em 1732 veio ao Brasil em missão dissuadir um outro padre que está construindo um império rebelando-se da coroa portuguesa e da igreja na Amazônia.

O autor constrói cada mundo separadamente para depois tecer ligações sutis que vão crescendo exponencialmente até que não haja essencialmente nenhuma diferença entre eles. A física quântica é argumento para unir os mundos e as estórias, mas também mostrá-los como são tão paralelos como contraditórios. Cada personagem, assim como nós, carrega suas contradições, muitas vezes estranhas por causa da realidade em que vivem. O padre que é sacerdote e assassino. O malandro que se apaixona por uma menina e vive uma vida paralela como travesti rainha do funk e fantasias homoeróticas. A loura executiva de classe média, consumista fútil, que busca a malandragem dos capoeiristas. A quem se propõe julgá-los, resta olhar as nossas próprias contradições e ver que os personagens não são tão absurdos quanto podem parecer. Além dos personagens esses paralelismos estão na organização do livro, alternando as linhas narrativas, além do próprio mistério que descobrem durante suas aventuras.

A edição brasileira merece destaque pois a formatação diferente para cada tempo narrado facilita o leitor a não se perder no caminho. Destaque para as passagens narradas em 1732 onde as letras parecem impressas em aparelhos antigos e as páginas possuem manchas simulando envelhecimento, como se fosse um manuscrito. Geralmente evito falar da tradução pois não tive contato com o material em inglês, não sendo possível opinar até que ponto foram acertos do autor sobre o Brasil ou se teve uma mãozinha do traduzir (Fábio Fernandes) para não fazê-lo passar vergonha. Independente disso o livro entregue ao leitor brasileiro é preciso o suficiente para convencer que esse Brasil inventado poderia ser o nosso.

site: http://wilburdcontos.blogspot.com.br/2017/01/resenha-59-brasyl-ian-mcdonald.html
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ricardo_22 10/04/2016

Resenha para o blog Over Shock
Brasyl, Ian McDonald, tradução de Fábio Fernandes, 1ª edição, Rio de Janeiro-RJ: Saída de Emergência Brasil, 2015, 416 páginas.

Três personagens ligadas misteriosamente através do tempo, do espaço e da realidade. Três histórias repletas de mistérios e situações inesperadas.

2006. Marcelina é uma produtora de TV do Rio de Janeiro que busca fama através de suas criações, muitas vezes questionáveis. Seu possível próximo programa tem o objetivo de encontrar e julgar o goleiro do futebol brasileiro mais desprezado de todos os tempos. Mas insistir nessa ideia pode envolvê-la em uma antiga conspiração e colocar sua vida em risco.

2032. Edson é um empresário que quer deixar as favelas de São Paulo, mas um encontro acaba envolvendo-o no perigoso mundo da computação quântica. Com isso ele precisa encontrar uma forma de se salvar, mas vivendo em um Brasil em que tudo é facilmente rastreado, a sua missão não será nada fácil.

1732. Padre Luis Quinn é um missionário jesuíta que explora a Floresta Amazônica a procura de um padre renegado que tem a intenção de construir um império. Mas o que ele encontra ali vai contra tudo o que acreditava e pode colocar um ponto final na realidade.

Não havia mágica nos morros nem na cidade: a filosofia lúgubre de Heitor não permitia magia no mundo. Nem fantasma nem saci-pererê nem sósias nem universos paralelos. Apenas um antigo segredo de família que apareceu para cobrar sua dívida. Mas você não conhece Marcelina Hoffman. Ela é a capoeirista; ela derruba garotos espertos com jeito e malícia; ela é malandra (pág. 247).

Quando a extinta editora Saída de Emergência Brasil anunciou o lançamento de Brasyl, um dos mais reverenciados trabalhos do escritor escocês Ian McDonald, o que despertou o meu interesse foi o fato de essa ser uma ficção científica ambientada no nosso país. Não bastasse esse detalhe, o livro ter sido escrito por um gringo também me alegrou. Por essas e outras, na época ignorei o fato de ter lido pouquíssimas obras do gênero e me limitei a lembrar dos importantes prêmios internacionais que o livro concorreu nos anos posteriores ao seu lançamento original.

Passados tantos meses, iniciei a leitura sem saber o que esperar de um enredo tão bem elogiado pela crítica, e talvez aí esteja um dos motivos que me fizeram não apreciar por completo a obra. Como costuma acontecer com frequência, a imprensa superestimou uma história que tinha potencial, mas que acabou pecando em seu desenvolvimento. Ou pelo menos em parte de seu desenvolvimento.

Antes de me incomodar com certas situações, o que chamou a atenção foi como um gringo soube captar o espírito brasileiro de forma tão magistral. Como se falasse sobre o seu próprio povo, o autor deu vida aos mais típicos brasileiros, com as características marcantes e que muitas vezes nos diferem da população de outros países. E não foi só isso: em três épocas distintas, McDonald diversificou na construção das personagens enquanto destacava a essência histórica, política e social do Brasil.

Se por um lado ele ambientou o seu enredo com maestria, usando referências que nem mesmo autores locais costumam usar, por outro pecou ao necessitar de um longo tempo para demonstrar o valor de seu enredo. Ao meu ver isso ocorreu pelos tempos narrativos serem intercalados ao longo das quase quatrocentas páginas, impossibilitando assim uma sequência de situações que levassem a algum lugar.

A escolha dessa característica só faz sentido quando a série de informações jogadas ao vento também começa a fazer sentido, ou seja, quando se torna possível compreender como as histórias estão interligadas. Em contrapartida, outra característica que contribuiu para demora é a narrativa de McDonald. Ainda que escolha muito bem as palavras, o autor tem uma escrita densa e cheia de descrições desnecessárias, para não dizer exageradas, o que quebra o ritmo da leitura por não estar focado no que realmente interessava para o conjunto da obra.

Falar sobre tal conjunto é uma missão um tanto complicada, mas basta dizer que Brasyl é uma ficção cientifica muito bem pensada. Entre outras questões, a obra explora elementos da computação quântica e a existência de universos paralelos, sem deixar de lado questões fundamentais em uma sociedade do passado, do presente ou mesmo do futuro. Não por menos afirmei anteriormente que o autor soube explorar a essência brasileira, mostrando, por exemplo, a influência que o futebol exerce em nosso cotidiano.

site: http://www.overshockblog.com.br/2016/04/resenha-377-brasyl.html
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Blog Imaginação 25/01/2016

Brasyl
Brasil, 1732, o padre Luis Quinn chega ao país em missão oficial para encontrar um missionário que pode ter abandonado seus votos no coração da amazônia. Rio de Janeiro, 2006, a produtora de TV Marcelina Hoffman está a procura de uma nova ideia para um reality show. Viciada em cirurgia plástica e praticante de capoeira, ela está prestes a se envolver em um caso muito maior quando começa a perseguir o goleiro da seleção brasileira de futebol de 1950. São Paulo, 2032, Edson de Freitas é um caçador de talentos, um empresário que fez sua carreira sozinho. Quando seu irmão o envolve em um pequeno roubo eles precisam da ajuda de uma tribo de quantumeiros (hackers que usam tecnologia de computação quântica) para desativar o rastreador e Edson conhece Fia, que mudará sua vida definitivamente.

Estas três histórias completamente diferentes no espaço e no tempo convergem de maneira bastante inesperada. Por trás de toda a narrativa e da construção dos personagens foi preciso primeiro uma ideia muito clara do funcionamento da física quântica e da aplicação da entropia, por isso a narrativa vai se desdobrando em camadas, conforme primeiro se apresentam os personagens e suas características, evoluindo para suas interações com o cenário e por fim o grande elo que os une é desvendado. Essa descoberta gradual mantém a tensão do leitor.

Ian McDonald pesquisou a história e os costumes dos brasileiros para aplicar em sua ideia de ficção científica embasada principalmente na física quântica. A história é universal em sua raiz, poderia se passar em qualquer outro país para ter o tempero exótico que o autor buscava, para nós faz toda a diferença que o Brasil tenha sido escolhido. A cultura umbanda, da capoeira e da malandragem brasileira são exploradas e inseridas no contexto, evidenciando um trabalho de pesquisa impressionante.

A escrita é um pouco inconstante, varia de genial ao prosaico. Principalmente nos capítulos que se passam em 2032, alguns trechos parecem ter sido escritos por autores diferentes. Estes surtos de genialismo só ressaltam o talento do autor, mesmo que tenha que abrir mão de seu estilo mais refinado para desenvolver o enredo com mais facilidade.

A edição da Saída de Emergência vem com o mesmo padrão dos demais livros da editora, com pouquíssimos erros de digitação e a tradução do experiente Fábio Fernandes, toda a equipe está de parabéns. Destaque negativo para a montagem da capa, onde é perceptível que um número pequeno de prédios foi copiado e colado ao longo de toda a paisagem do Rio. Destaque positivo para a mesma capa por ter uma foto no mesmo ângulo na contracapa da época do Brasil colônia, completamente de acordo com a proposta do enredo.

Outro ponto a favor é a sutil diferença de cada capítulo: os três pontos diferentes da narrativa tem sua própria fonte e pequenas diferenças na diagramação. Em 1732 foram inseridas imagens de dobras e manchas, para simular um manuscrito, a fonte usada também é um pouco diferente das demais e a numeração das páginas é na lateral da páginas, facilitando o reconhecimento imediato em qual período se passa cada capítulo.

De brinde, no fim do livro consta o primeiro capítulo de "A filha do Império", primeiro volume da série "A saga do Império", de Raymond E. Feist!

site: http://blogimaginacaoliteraria.blogspot.com.br/2015/12/resenha-brasyl-sdebrail.html
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@APassional 10/12/2015

* Resenha por: Rosem Ferr * Arquivo Passional
Resenha disponível no blog Arquivo Passional, no link abaixo.

site: http://www.arquivopassional.com/2015/10/resenha-brasyl.html
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Patricia 17/10/2015

Brasyl conta a estória de 3 personagens. Cada um em uma cidade brasileira.

Rio de Janeiro, 2006. Marcelina é uma produtora de TV, para ser mais específica, ela produz reality shows e outros programas de qualidade duvidosa. Mas isso não é problema para ela, pois ela ama o seu trabalho e os seus programas. Ela trabalha no quase infame Canal Quatro, que no livro não é a Globo. Ela é uma garota da zona sul, que ama uma festa, não está nem aí para a família, tem encontros casuais, curte algumas drogas (e não estou falando dos programas que ela cria) e cujo hobby é a capoeira. Ela não é uma pessoa que se pode considerar profunda e tão pouco muito inteligente. Mas ninguém pode duvidar que ela é esperta. E no meio da loucura de criar um novo programa para competir com a Globo, eis que ela resolver fazer um programa envolvendo o goleiro mais odiado da história do Brasil. Sim, estou falando do Barbosa. O que ela não poderia imaginar é que essa ideia poderia custar muito mais do que ela estava disposta à apostar. Ela acaba se envolvendo em uma conspiração muito além do mundo futebolístico, muito além de qualquer mundo que ela poderia imaginar.

São Paulo, 2032. Edson é um jovem empresário em busca do sucesso. Seu sonho é deixar para trás a favela onde nasceu e conquistar o seu lugar ao sol. Isso é ainda mais complicado no Brasyl do futuro, onde todos os seus movimentos, toda a sua vida, é monitorada 24 horas por dia pelos Anjos da Perpétua Vigilância, no Brasy de Edson a tecnologia está muito mais avançada A vida de Edson é bem agitada e nem sempre os seus negócios são exatamente lícitos. Edson possui mais de uma persona, e sempre cria uma nova quando vê necessidade. Apesar de todos possuírem I-Shades que monitoram todos os seus passos, sempre é possível arranjar um jeitinho de enganar a monitoração. E o mesmo pode ser dito sobre os crimes que você comete. E é justamente isso que transforma a vida de Edson. Após o seu irmão roubar uma bolsa de marca com um sistema de rastreamento baseado em física quântica, ele acaba tendo de entrar em contato com os Quantumeiros, um novo nível de hackers, nível quântico para ser mais exata. E eis que ele se interessa por Fia, uma descendente de japoneses, com rosto de anime e cérebro de gênio. Ele não sabe em que essa física está metida, mas ele vai acabar sendo arrastado para o meio da confusão de qualquer forma. E a partir de então ele vai precisar quebrar todos os seus conceitos do que é real e possível.

Salvador / Amazônia, 1732. O padre Luis Quinn é um missionário jesuíta que sempre requisitou a missão mais difícil possível para si próprio. E eis que um dia ele consegue essa missão. Ele é enviado para o Brasil, como admonitor, para investigar as atividades suspeitas de outro padre da ordem. E antes mesmo de botar os pés por aqui, Luis já começa a perceber que o Brasil é diferente de qualquer outro lugar no mundo. Quando ele finalmente chega, Salvador está enfrentando uma praga que está acabando com os animais, uma doença que se assemelha muito à raiva. Mas isso nem é o mais importante. Pois ele foi enviado lá para investigar e punir, mas logo fica claro que nem todo mundo parece satisfeito com sua presença por ali. Ele então parte em direção ao coração da selva amazônica, junto a um francês que todos suspeitam que seja um espião. Sua missão é bem clara, porém com o seu passado é nebuloso. Quinn é um ótimo espadachim e ninguém sabe o porquê dele ter se entrado no sacerdócio, apenas que ele segue a ordem marcial dos jesuítas. E é no meio da selva que a fé de Quinn será posta à prova. Ele precisará de toda a sua força, coragem e fé para enfrentar um inimigo como ele nunca viu. Sem dúvidas ele conseguiu a missão mais difícil que alguém poderia ter.

Apesar de serem 3 estórias paralelas, todas as três são uma mesma estória. E essas estórias estão interligadas através do tempo e dos universos. Brasyl é um livro de ficção científica riquíssimo, que nos mostra como cada pequeno detalhe, cada escolha, cada opção, etc, pode gerar um novo universo, igual e completamente diferente do anterior. Existem milhões, bilhões, infinitas versões do Brasyl. Cada personagem se encontra em uma dela, em um tempo diferente da história. Só que eles não estão isolados, é possível um universo afetar o outro, uma pessoa passar de um para o outro. E nem todos estão na completa ignorância em relação a essa verdade. E é aí que reside o perigo.

O autor de Brasyl não é brasileiro, e sim britânico. E uma das coisas que mais me surpreenderam nesse livro foram as informações corretas a cerca do país, em relação a política, canais de televisão, programas de TV, cultura, até mesmo a simples localização das ruas. Já li diversos livros que se passavam no Brasil, escrito por autores estrangeiros, e até o momento esse é o único que não tem nada extremamente absurdo (e olha que é ficção científica). Geralmente eu fico com vontade de mandar um email para autor e perguntar se ele ao menos pesquisou no Google, mas nesse livro isso não acontece. O país é tão corretamente detalhado, o bom e o ruim, que realmente parece que o autor é brasileiro.

Isso somado ao fato que o livro é uma grande obra de ficção científica, fez com que eu amasse o livro. É extremamente interessante enxergar o Brasyl do futuro, e diversas outras versões do nosso país. Tudo que poderia ser ou ter sido. Sem dúvidas, sendo brasileira, esse livro teve um gostinho muito mais especial.

Embora a narrativa seja rica em detalhes e envolvente, por vezes ela se tornou lenta. Algumas vezes eu queria que o livro fosse mais objetivo, que chegasse logo no ponto. E somente por isso eu dei 4 estrelas para ele. Mas sem dúvida eu recomendo esse livro, pois dificilmente você encontrará um livro igual ou um livro que você se sinta tão envolvido com a história. Isso sem falar que de alguma forma mágica o autor conseguiu misturar física quântica, mundo de celebridades, história da escravidão no Brasil, política, e tantas outras coisas, que o livro não deveria fazer o menor sentido, mas faz.

Recomendo esse livro para todos os fãs de ficção científica e para todos os brasileiros que queiram ver o Brasil no centro de uma conspiração que cruza o tempo e diversos mundos.

site: http://ciadoleitor.blogspot.com.br
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Raniere 15/10/2015

DIFERENTES VERSÕES BRASILEIRAS
Um padre jesuíta no século XVIII, um empresário de celebridades de 2030 e uma produtora de TV de índole duvidosa de 2006. Os três personagens, de alguma forma, são interligados numa trama que envolve física quântica e multiverso. Além disso, temos um retrato QUASE verossímil do Brasil. Estes são alguns dos motivos que fizeram Brasyl, de Ian McDonald, me fisgar tão rapidamente.

Começamos falando de Marcelina Hoffman, uma carioca produtora de TV de 2006 que, para ter o programa que quer, é capaz de mentir, manipular e humilhar outras pessoas. Marcelina, que também é capoeirista e viciada em cocaína e bottox, vê a oportunidade de um novo programa: caçar (esta é a melhor palavra que posso usar) o ex-goleiro Moacir Barbosa, que participou da Copa de 1950, quando o Brasil perdeu a final para o Uruguai no Maracanã, e humilhá-lo em rede nacional, em um falso julgamento para “absolvê-lo”.

Já em 2030, em um futuro que as pessoas são monitoradas o tempo todo por uma identidade eletrônica em um óculos, chamado I-Shades, e que existem poderosas armas quânticas, como as lâminas Q, que cortam qualquer matéria em nível quântico, temos o paulista Edson, um empresário de celebridades (ofício que, no livro, é pouco explorado) e que gosta de se travestir, assumindo a identidade de Efrim que, graças ao irmão problemático que rouba uma bolsa com sistema de rastreamento embutido (nessa era, roubos são punidos severamente), conhece a engenheira quântica Fia e se vê envolvido numa trama que envolve outros mundos e sua própria identidade.

Também temos o Padre jesuíta Luiz Quinn, no século XVIII, que tem a missão de resgatar na Amazônia um padre renegado que, sem que Luis saiba, está envolvido no assassinato de aldeias inteiras, para que este possa dominar mundos diversos.

Além trama de Brasyl. que é bastante complexa e bem construída, o que já me atraiu de primeira, o formato do livro (as páginas falando da Marcelina têm fonte normal, as que falam do Edson possuem uma fonte mais futurista e as que falam de Luis Quinn possuem a fonte e a impressão de um pergaminho velho e mofado) e o conhecimento que o autor demonstra sobre o Brasil me agradaram bastante. Claro que Ian McDonald deu algumas “escorregadas”, como, por exemplo: Vodka não é a bebida predominante em feijoadas de família (e não bebemos drinques com guarda-chuvinhas em casa); em geral, os brasileiros não são familiarizados com a umbanda e candomblé (já que a religião predominante no Brasil é a católica); capoeira não é o estilo de luta predominante entre os brasileiros (mas eu gostei MUITO da luta entre dois assassinos capoeiristas); nunca vi nenhum brasileiro se apresentar o tempo todo falando o nome completo, nem se dirigir ao outro assim (normalmente, nos dirigimos às pessoas através do primeiro nome). São erros bobos, e acabaram fazendo com que a leitura ficasse ainda melhor.

Algo que me incomodou, e essa certamente foi a intenção do autor, foi o final. Ele pareceu incompleto, como se fosse uma série. Porém, para minha tristeza, Brasyl não tem continuação. A história não tem um desfecho e, no fim do livro, eu fiquei agoniado para saber o que aconteceu com os três personagens.

Em geral, Ian McDonald acertou em cheio com Brasyl: uma trama envolvente, complexa e realista, e os conceitos sobre física quântica e Multiverso são muito bem definidos neste livro. O leitor é incapaz de prever o que acontece nas páginas desta obra.

site: http://www.encontrosliterarios.com.br
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Babi 14/09/2015

Um gringo que entendeu o Brasil melhor que qualquer brasileiro
Todo mundo, em algum momento, já parou para imaginar como teria sido sua vida se tivesse seguido por este ou aquele caminho diferente. E talvez muitos (ou talvez eu seja a única?) chegou a imaginar se em algum universo, ou até mesmo universos diferentes, existiria um outro "eu" (no meu caso, uma outra ou outras Barbara's) que teria tomado a decisão não tomada e teria se transformado em uma pessoa totalmente diferente. Pois bem, esta ideia é o nó central da história de Ian McDonald.

Eu poderia, também, dizer que o nó central são teorias da física quântica, mas aí acho que muita gente teria saído correndo para longe desta resenha após ter lido a palavra "física". Eu provavelmente teria sido uma delas - em um universo onde eu não seria blogueira e não teria lido Brasyl. Mas calma, não entre em pânico! McDonald (não o palhaço que canta mão com mão, pé com pé!) sabe explicar muito bem as teorias e você não vai ficar boiando. Pelo menos eu não fiquei - e olha que reinou zeros em exatas nos meus boletins do ensino médio (MÃE, É BRINCADEIRA, TÁ?! HAHA... ).

"Assim como os números, a música é uma coisa inteiramente própria, que não faz representação de nenhuma realidade." (p. 49)

A física quântica vai fazer o nó entre três histórias apresentadas no livro. A primeira história, a que dá início ao livro, é a de Marcelina. Descendente de alemães, Macerlina é uma jornalista que vive no Rio de Janeiro, no ano de 2006, e trabalha para um canal de televisão sensacionalista que produz entretenimento do pior tipo. O livro começa com a Marcelina gravando o piloto de um programa,O Fuga Implacável. A produção do Canal Quatro deixa carros para serem roubados e quando os ladrões levam um carro começa o reality show, tudo que os ladrões têm que fazer é não serem pegos pela polícia. E é claro que o feitiço acaba virando contra o feiticeiro.

Confesso que nesse início eu fiquei um pouco perdida. São muitos personagens apresentados em uma cena de ação, então me vi toda hora voltando algumas linhas ou páginas para entender quem tinha dito o que e quem era o cameraman, o cara do som, etc. Sem falar que demorei a me acostumar com a escrita do autor, que usa muitos períodos longos o que, a princípio, pode ser um pouco confuso. Mas uma vez que você se acostuma, você até pára de notar o tamanho dos períodos.

Logo depois de conhecer Marcelina, o leitor é apresentado a Edson, um cara que cria mil e uma personalidades e funções (podendo ser desde Edim, o travesti, até o grande empresário da De Freitas Global Talent) na tentativa de conseguir sair da pobreza e se mudar da favela, na cidade futurística de São Paulo, onde a tecnologia é capaz de rastrear a tudo e a todos. Aqui, eu notei um grande alerta geral do autor de onde podemos parar se continuarmos a viver tanto em função do digital e favorecendo a sociedade do espetáculo. No Brasil de Edson, qualquer um ou qualquer coisa pode ser rastreado, sua vida fica toda e completamente exposta no digital - que todos podem acessar através de seus I-shades (imaginem óculos com acesso à internet). Alguém aí lembrou dos I-glasses da Apple?

"E assim é que a inteligência humana é escrava da doutrina, agrilhoada e vendida tão completamente quanto qualquer um dos pobres diabos que passam por nós naquelas jangadas de escravos quase a afundar. O divino é invocado e não se pode mais argumentar (...) A arrogância de sua suposição de possuir toda a verdade, de que não é necessário mais nenhum debate pois eu só poderia estar correto desde que concordasse com a sua doutrina" (p. 135)

Mas talvez a história mais importante e que merece total atenção seja a do passado, quando Brasil ainda era uma colônia portuguesa. Esta história nos apresenta o Padre Quinn, jesuíta irlandês enviado ao Brasil para investigar um padre renegado, Diego Gonçalves, na Floresta Amazônica. Quinn acaba sendo obrigado a viajar com o geógrafo, Dr. Falcon, que quer medir o tamanho do mundo com um pêndulo. A convivência destes dois vai render ótimas reflexões sobre ciência x religião, passagens que se tornaram as minhas favoritas do livro.

Infelizmente, eu não consegui me indentificar profundamente com nenhuma personagem. Dr. Falcon foi a que eu mais simpatizei, mas acredito que foi muito mais pelo meu lado cético do que pela complexidade da personagem. A minha maior motivação para continuar a leitura foi em descobrir como os três mundos iriam se ligar. Porém, o que mais me impressionou em Brasyl foi como um gringo, Ian McDonald, soube retratar o Brasil tão bem (talvez até melhor) quanto um brasileiro. Mcdonald não só mostrou conhecimento da cidade do Rio de Janeiro e São Paulo e da Amazônia, como também dos nossos problemas sociais e culturais (como o famoso malandro carioca que burla regras e visa somente o benefício próprio). Só por esse detalhe - exposto logo nas primeiras linhas - já vale a pena todo o livro! Aplaudo de pé a dedicação e ao talendo do autor.

"Ganância, vaidade, voracidade, brutalidade e desprezo pela vida são vícios de todas as grandes nações do mundo. No Brasil elas são virtudes corretas e praticadas com zelo." (p. 145)

Mas alerto aos desavisados que Brasyl não é um livro para se ler poucos minutos antes de deitar a cabeça no travesseiro. É uma leitura que vai exigir do leitor muita atenção, já que a narrativa vai e volta no tempo incontáveis vezes e para quem estiver desatento vai acabar parecendo uma história muito louca e sem sentido. Apesar de que louca é mesmo, já que se trata de uma ficção científica.

site: www.ummetroemeiodelivros.com
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Albarus Andreos 12/09/2015

Um livro que um brasileiro deveria ter escrito.
Vamos supor que eu, Albarus Andreos, resolvesse escrever um livro sobre, bem... a Irlanda do Norte. Um livro passado entre irlandeses, clima frio, leprechauns, mitologia celta, praias ruins, arranca-rabos religiosos e, claro, U2. Muito bem, teria que pesquisar muito para fazê-lo, saber como é o povo irlandês além do simples clichê de caras gordinhos, de suíças enormes, fumando cachimbos, com um trevo de quatro folhas na lapela. Agora suponha que eu faça isso tão bem que um irlandês nato fique de boca aberta com minha perspicácia, meu conhecimento de mundo e minha habilidade em fazer um texto sobre a Irlanda como nem mesmo a grande maioria dos gordinhos de suíças e cachimbo é capaz. Nesse caso, eu seria uma versão alternativa de Ian McDonald. Uma das infinitas possibilidades presentes nos multiversos paralelos e ganharia prêmios como o Philip K. Dick, o Locus e o British Science Fiction Award, além de diversas indicações ao Arthur C. Clarke e Hugo.

Brasyl (Editora SDE Brasil, 2015) é um livro de ficção científica, absurdamente bom, absurdamente bem escrito e absurdamente complexo. Não espere lê-lo à noite, meio desatento, antes de dormir. Precisa de atenção, de intuição e mente muito afiada. Receio dizer até mesmo que não é para qualquer um. Longe de um entretenimento descompromissado para esperar o sono chegar, Brasyl fala sobre a gente brasileira, sua terra, seu sofrimento, sua história, sobre política, sobre sobrevivência, amor e... ciência quântica. Tudo isso em três épocas distintas, no passado, presente (imagine que ainda estamos em 2006) e futuro.

Além da ótima história, que escorre como melado das páginas de Brasyl, ressalto a maneira como o autor tece a trama toda, com altas quebras de continuidade, indo e vindo no tempo entre três personagens principais: Marcelina, uma produtora de TV medíocre, no nosso presente, Edson, um malandro, micro empresário de celebridades, num futuro próximo, e o padre jesuíta Luis Quinn, um missionário do século XVIII, imbuído de uma missão de quilate tolkeniano. Se já não bastasse a divisão do texto em capítulos entre essas três realidades, o autor nos brinda com uma dose extra de confusão, onde fatos acontecem não exatamente na ordem cronológica. Às vezes nos vemos numa discussão, onde os personagens falam sobre alguma coisa que só depois vamos saber que aconteceu. Para que facilitar se o clima é o de realidades que se misturam no tempo e no espaço?

Veja bem, imagine que há uma Brasil aqui e agora, com sua população, o trânsito, quibes no botequim da esquina, capoeira, o Lula metido em denúncias de corrupção (sim, o livro foi escrito em 2006!), e você, sentado numa cadeira, usando uma camiseta amarela, tomando sopa. As realidades paralelas vêm do fato de que há um mundo onde outro Brasil tem sua mesma população, o mesmo trânsito, quibes no botequim da esquina, capoeira, o Lula metido em denúncias de corrupção, e você sentado numa cadeira usando uma camiseta amarela comendo... ostras, e há mais outro Brasil, sua gente, trânsito, quibes no botequim, capoeira, o Lula metido em corrupção, e você está de pé numa cadeira, usando uma camiseta amarela ajustando uma corda ao redor do pescoço presa ao caibro do teto, por alguma razão que não vem ao caso.

Há infinitos outros Brasis, com suas gentes, com ou sem trânsito, com quibes, empadinhas ou ovos cozidos no botequim da esquina, no restaurante ou na cantina de um hospital; capoeira, aikidô; funk, salsa, reggae; você sentado no lombo de um dinossauro, numa cadeira de rodas, num fórmula 1; usando uma camiseta amarela, pelado ou roupa de astronauta etc. Em alguns universos, Frank Sinatra nunca veio ao Brasil, noutros, o Brasil sequer existe, noutros a vida sequer vingou, bilhões de anos atrás, noutros, por uma questão de um milésimo de segundo em que você pisca, uma mosca deixou de entrar no seu olho e o resto é tudo absolutamente idêntico.

A teoria apresentada no livro foge ao meu interesse, na verdade, mas a história em si é arrebatadora. Aconselho simplesmente deixar-se levar. Se não entendeu faça um favor a si mesmo e deixe-se tomar pela mão do autor. O objetivo não transformá-lo num Einstein. A técnica narrativa é a verdadeira estrela do texto, a habilidade em lidar com frases e parágrafos para criar o clima de deslumbramento literário que me arrebatou. Não sou daqueles que buscam furos nas teorias, embora seja exigente com o que leio (quem lê regularmente minhas resenhas, sabe o quanto). Não tenho sequer gabarito para entender a fundo sobre o assunto, pois aí a sugestão mágica feita pelo autor perde o sentido. Se eu não der a ele a licença para criar sua fantasia, a coisa não anda, eu não me divirto e a leitura passa a ser simplesmente um catar de pelo em ovo para ver onde o cara errou.

O trabalho gráfico da editora SDE Brasil é surpreendente. Em cada um dos capítulos as fontes dos caracteres mudam e a preparação gráfica, principalmente quando estamos nas páginas dedicadas a Luis Quinn, simula até a impressão arcaica de um livro antigo, como páginas impressas em antigas prensas mecânicas, com as manchas de tinta nas bordas das páginas e desbotados pela água e pelo tempo.

O entrelaçar das histórias dos três personagens é o motor da narrativa. É quando se integram as realidades diferentes e passamos a ver um contexto comum: o aqui e agora de Marcelina, uma carioca da gema, que de uma hora para outra deixa suas ideias mirabolantes de ser um mega-produtora de TV – e isso implica em passar por cima de quem vir pela frente, e começa a ter a impressão que há mais alguém nesse mundo “sendo ela” (oi?); Edson, num futuro próximo, um cara pobre de São Paulo, louco por tecnologia, metido em mil tretas, fica dividido entre seu relacionamento homoafetivo com um professor de física e uma estranha garota de traços orientais, que cruza seu caminho, com um conhecimento de computação quântica que pira o seu cabeção; o padre Luis Quinn, um missionário jesuíta e exímio espadachim que vem ao Brasil colonial com a missão peculiar de procurar e levar a julgamento um outro padre, metido nos confins do Amazonas, que se apartou da Igreja e está levando a destruição aos povos indígenas, com estranhas e inquietantes ideias.

Acontecimentos que ocorrem em um plot são explicados em outro, impressões de um personagem são compartilhadas por todos, não importa os anos e os milhares de quilômetros entre eles; o que um faz num momento repercute além. Essa comunicação nos dá a impressão de que mesmo o tempo realmente não existe, que tudo acontece concomitantemente, em realidades paralelas, uma interagindo com a outra com tentáculos de cor, som e luz que se estendem de um momento narrativo para outro, como a mistura dos rios, Negro e Solimões, que caminham juntos, imiscíveis, por quilômetros, até originar o Amazonas, mais adiante. Um mesmo rio, com origens difusas, mas um destino.

A inserção de umbanda, santo daime, futebol, gírias e o “clima brasileiro”, otimamente entendido pelo autor, absorvido por ele e despejado com verossimilhança nas páginas do livro, é surpreendente. Como é que esse gringo nunca morou aqui, gente? E morar, só, não resolveria. Ele teria que conhecer a fundo nossos costumes, gostos e ideias. Teria que ser um sociólogo e brasilianista nato. E ele nos conhece, intimamente! É uma obra para poucos escritores no mundo, incluindo aí os nossos.

No livro, após deslindar as explicações científicas padrão dos livros de FC, tudo vai bem até que alguns começam a atravessar as realidades, indo e vindo de uma para outra. Como ver essas realidades paralelas? O segredo parece advir dos antigos povos indígenas amazônicos com suas teriagas alucinógenas. Mas há os que querem evitar essa transmigração dimensional. Há razões para isso. A Ordem, uma organização aparentemente dedicada a cuidar do assunto, envia seus admonitores atrás dos transgressores e a morte é o método mais eficaz de se evitar encontros de uma Marcelina com ela mesma, por exemplo. Em meio a esse emaranhado de realidades, uma arma inusitada aparece, uma faca cujo corte pode atravessar tudo. Uma lâmina quântica que se cair no chão pode atravessá-lo e continuar sua queda através de rocha e magma em direção ao centro da terra.

Nesse livro, em que o que parece pode ser apenas uma nuance de uma realidade espelhada em outra, temos situações que se repetem, como um déjà vu entre épocas. Os drones de vigilância nos céus da São Paulo do futuro, são reflexos dos anjos vistos pelos céus de São José Tarumãs, no Amazonas colonial, em que os índios são catequisados ou exterminados pela loucura de um homem submetido ao seu fanatismo. No Rio, o goleiro que furou um gol na copa de 1950 é muito mais que um ex-atleta, mesmo porque, em outras realidades, aquela bola nunca foi parar nas redes pelos pés do uruguaio Ghiggia.

site: www.meninadabahia.com.br
Altieris 12/09/2015minha estante
Agora fiquei ainda mais interessado em lê-lo. Parabéns pela resenha.




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