KDaisies 16/01/2024
A linguagem de Austen é uma lente de costumes
Como eu poderia fazer uma resenha à altura desse livro?
Razão e Sensibilidade foi o primeiro livro de Jane Austen publicado, quando ela estava por volta dos 40 anos, muitos anos depois de ter sido escrito (aos 21 anos). A personificação da Razão na personagem Elinor se contrapõe à Sensibilidade de Marianne, sua irma mais nova durante toda a trama.
Em uma história digna de Austen, vou contra o que alguns dizem de que os personagens bons em sua obra são sempre bons enquanto que os maus são sempre maus. Ao contrário, existe um certo tipo de organicidade em cada um que faz com que fiquemos intrigados com suas atitudes sem nunca realmente saber o que se passa em suas mentes. É como se a autora fosse capaz de colocar a lente dos costumes sociais em sua linguagem para permitir - ou evitar - que o leitor entenda as intenções verdadeiras dos personagens através das muitas camadas do esperado e não esperado na sociedade da época.
Por inúmeras vezes interpretei mal personagens, depois voltei atrás e novamente voltei a interpretá-los mal. Por inúmeras vezes senti o coração na boca pensando que nada iria se organizar e não haveria felicidade nem para Marianne e muito menos para Elinor.
Uma coisa é certa, Razão e Sensibilidade não é um livro para quem recebe tudo em um livro de bandeja com prazer. É o livro que na sua própria escrita pode ser "chato" exatamente porque compor os costumes, as paisagens e o pensamento da época se faz muito mais presente do que nos livros "fast read", "best sellers" e outros. É preciso ler com paciência e a atenção porque as entrelinhas dizem mais que as linhas em si.
Não minimizando os livros contemporâneos, mas avisando que pode ser um livro enfadonho para quem não se interessa por essas nuances e formas indiretas de ler o mundo.
A forma como a emoção se mostra vencida pela razão para Marianne e como a razão cede também à emoção mais cedo ou mais tarde, demonstra que o equilibro entre ambas é o esperada para alcançar a felicidade. Em outro plano, egoismo é personificado aqui, principalmente, nos personagens Srta. Lucy Steele e John Willoughby, assim como a avareza em maior ou menor grau personificada em Sr. John Dashwood, Sra. Fanny Dashwood e Sra. Ferrars. São egoísmo e avareza as principais causas do desequilíbrio entre a razão e a emoção.
O amor, visto aqui não como uma força avassaladora e inconsequente, pelo contrário se prova pertinente uma vez que resiste às dificuldades, ao tempo, à distancia e até mesmo à possibilidade latente de nunca concretizar a felicidade.
Indico sempre Jane Austen para quem realmente ama ler, ama passar horas com um livro, indo e voltando, impressionando-se com as possibilidades da linguagem por mais fora da zona de conforto que ela seja.
O que posso dizer mais? Leiam!