Gustota 31/07/2014A doce crueza de um psicopataDalton Trevisan me parece um casamento inusitado entre Clarice Lispector e Nelson Rodrigues. Seu estilo lembra o da escritora e sua temática assemelha com a do Anjo Pornográfico, com a sutil diferença que Nelson Rodrigues trabalha tipos bem urbanos, enquanto Dalton Trevisan explora a passagem do campo pra cidade, com todas as taras e crimes do Brasil tradicionalista migrando para a metrópole.
O Vampiro de Curitiba trata de um psicopata, predador sexual, molestador e estuprador, mas só às escondidas e em uma época em que as mulheres preferiam calar frente aos abusos. Fora de seu habitat de caça predatória, Nelsinho, o vampiro, é querido, respeitado e amado por todos. O livro são pequenas passagens de conquistas sexuais do vampiro ao longo de sua vida, em ordem temporal desconexa. Suas conquistas raramente primam pela beleza; sua preferência é pelas mais velhas, viúvas e jovens. Enfim, pessoas emocionalmente frágeis e carentes.
Se a temática não pode ser tão fácil de digerir, a linguagem é excepcional; um livro incrivelmente bem escrito e com uma finíssima ironia de tratar o psicopata como "herói" e suas conquistas cruéis como "missões" ou "jornadas". E Dalton Trevisan é um autor difícil, mas que deveria ser melhor conhecido