Bruno 05/01/2015Deu vontade de ler alguma não-ficção, então peguei esta obra do famoso medievalista Jacques Le Goff sobre um tema interessante sobre o qual existem muitos "mitos" aceitados correntemente por aí: sobre o intelectual na Idade Média: a produção intelectual, as carreiras, a relação entre a Igreja e a Academia em seu surgimento e, no geral, tudo relacionado a esta produção de conhecimento nos séculos XII a XIV.
Em uma época onde é senso comum de que a Idade Média e a Igreja Católica foram os algozes do desenvolvimento científico, este curto livro - pouco mais de 150 páginas de conteúdo textual - vem para estabelecer um bom panorama da área intelectual nestes três séculos, particularmente interessantes por terem visto o surgimento das universidades em âmbito europeu.
Se o conhecimento era reservado aos clérigos em seus monastérios e abadias, com o surgimento destas eles puderam construir suas novas ágoras de conhecimento em terreno próprio. "Ágora", inclusive, termo apropriado, tendo em vista que este estudo é amplamente inspirado e baseado nos intelectuais helênicos.
Em uma primeira parte temos os intelectuais do século XII, pré-universitários, focando principalmente nesta transição das primeiras grandes escolas. Isto é apenas possível com o desenvolvimento da cidade, no começo do declínio do feudalismo, quando a circulação de material científico, dos escritos árabes, do retorno por via árabe do material grego e quando o ofício da tradução permitiu que este conhecimento fosse difundido pelos clérigos. LeGoff foca na figura de Abelardo, goliardo, clérigo que representou o intelectual do século e cuja história própria já traz ares de romance.
Depois temos no século XIII o surgimento das universidades, viáveis apenas através do apoio papal. Somos apresentados a um inclusivo panorama sobre o surgimento e solidificação da instituição, com seus hábitos e rituais, contradições inerentes e linha filosófica, até o seu eventual primeiro declínio que acaba por tornar o acadêmico medieval um espécime em extinção e abre caminho para o humanista da Renascença, um gênero completamente diferente de intelectual.