akame7 04/11/2022
Uma certidão de nascimento e um atestado de óbito
Pero Vaz de Caminha possuía uma excelente habilidade descritiva, a ponto de fazernos visualizar o que foi visto por seus olhos.
É curioso e triste ao mesmo tempo ler sobre os indígenas na visão deles. Saber que a partir daí o que começa é a dizimação e escravização dos povos nativos me dói, principalmente quando ao ler, percebe-se a inocência e a relação de confiança que os indígenas estabeleceram com os portugueses.
A descrição do desconhecido, da terra, do povo que ali vivia, dos seus costumes e impressões que tiveram quanto à sua boa índole é vital para entendermos o processo primário colonizador.
Porém, nossa história é feia, manchada com o sangue de inocentes, não há beleza para os que tiveram sua liberdade e cultura silenciadas à força. Romantizar esse escrito é desconsiderar a dor que surge a partir dele. A dor da animalização, da escravidão, do estupro. A dor da exploração, da espoliação. A dor das marcas e das consequências de tudo isso presentes no Brasil de hoje. Essa carta representa, para mim, ao mesmo tempo, um importantíssimo documento/relato do nascimento do Brasil e o atestado de óbito dos nativos.