Steph.Mostav 04/05/2020Contra as injustiças estabelecidas por leiCom Antígona, se encerra a trilogia Tebana e, embora nenhuma das sequências supere Édipo Rei, a terceira parte também é excelente. Aliás, essa peça tem o melhor conflito, pois Antígona representa a obstinação pessoal de justiça contra a tirania de um governante que se acha acima dos próprios deuses. Todos os diálogos servem ao propósito de alimentar e aprofundar esse confronto contra Creonte, seu tio e atual rei de Tebas. Antígona deseja enterrar um dos irmãos seguindo as leis "naturais", de acordo com as quais todos os seres humanos tem direito a rituais fúnebres. Já Creonte não admite que um homem que lutou contra a própria cidade, um traidor, nas palavras dele, seja abençoado em território tebano. Creonte é mais um dos personagens de Sófocles que comete erros graves guiado por sua prepotência, apontada por todos, até por seu filho Hêmon, que simboliza muito bem a discordância da juventude diante do autoritarismo dos pais. O resultado desse orgulho cego não poderia ser outro que não o desespero e a tragédia. Além de todas essas qualidades do texto e do tema, a protagonista se tornou uma de minhas favoritas. Antígona é justa, perseverante, leal e corajosa, lutou por amor aos seus contra leis injustas e se opôs diretamente ao tio intransigente quando ninguém mais tentou (em outras palavras, jantou cedo). "Sófocles levantou [...] questões fundamentais para o espírito humano, principalmente a do limite da autoridade do Estado sobre a consciência individual, e a do conflito entre as leis da consciência — não escritas — e o direito positivo. A sua Antígona é o primeiro grito de protesto contra a onipotência dos governantes e a prepotência dos adultos. Nela Creonte encarna o dever de obediência às leis do Estado, e a heroína simboliza o dever de dar ouvidos à própria consciência."