Ninguém Escreve ao Coronel

Ninguém Escreve ao Coronel Gabriel García Márquez




Resenhas - Ninguém escreve ao Coronel


260 encontrados | exibindo 1 a 16
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 |


Clio0 14/01/2024

Você tem brio?

Meio sátira dos regimes ditatoriais latinos do século XX, meio retrato das mesmas culturas, García Márquez reconta o estado precário em que guerrilheiros da liberdade - ou ex-apoiadores do regime - se encontravam após a revolução.

Não há nada de pena ou saudosismo na obra, as palavras do autor são uma crítica feroz aos ideais vendidos e aos suportes pecuniários que muitos prometeram àqueles que passaram a vida se dedicando a um ou outro governo.

Quem não se lembra dos ex-guerrilheiros reclamando das pensões ou suas ausências na tv?

Da mesma forma, o Coronel se rende às pequenas corrupções e indignidades do dia-a-dia na tentativa de sobreviver... pelo menos até que lhe ressurge o orgulho.

Mais latino impossível.
mirai0 14/01/2024minha estante
acho seu perfil muito legal porque você resenha tudo, muitos livros, eu adorei




mpettrus 12/12/2022

?Ninguém Escreve Para o Esquecimento?
?A primeira vez que li um romance do Gabo foi ?Ninguém Escreve ao Coronel?, ainda adolescente e ainda nem tinha ingressado no Ensino Médio, estava no último ano do Fundamental. De lá para cá, eu já o reli quantas vezes que perdi as contas. E, se bem me lembro, eu o li em duas ou três manhãs durante o intervalo, que no Ensino Fundamental, chamávamos de ?recreio?. Em vez de ir brincar com os coleguinhas de classe, eu me embrenhava pelos corredores da biblioteca da escola e ficava lendo romances.

Numa dessas manhãs de fuga para a biblioteca, encontrei meu professor de português naqueles corredores silenciosos de penumbra do meu esconderijo público. Ao tomar conhecimento do que eu fazia no recreio, interessou-se em me indicar um livro para ler. Eis então que ele coloca em minhas mãos o romance do Gabo e nasceu daí minha paixão pelo Gabriel, não só o autor, mas também o próprio professor.

?Esse romance, o segundo da carreira literária de Gabito, coloca em cena um ancião e sua esposa. Ele, coronel militar, ex-combatente dos violentos conflitos que tomaram o território colombiano décadas atrás, aguarda o cumprimento de uma promessa de aposentadoria do governo. Ela, dona de casa caribenha, enferma e sem renda, exige do marido uma atitude prática com relação à crítica situação econômica do casal. Ambos sofrem a morte recente de Agustín, seu único filho, crivado de balas por um soldado após distribuir panfletos subversivos em uma rinha de galo. Aliás, vale lembrar que o filho é o único do qual temos conhecimento do nome. As outras personagens só os conhecemos por ?Coronel? e a ?Esposa do Coronel?.


A linguagem é extremamente econômica. Frases breves, pouco ou nada descritivas, dão conta do ritmo rápido e ao mesmo tempo melancólico da história, traz o deleite de uma linguagem antiga, da linguagem falada, da linguagem detalhista e não alegórica. É a linguagem direta, sem metáforas. Uma linguagem leve, mas nem por isso fraca ou indigna. A narrativa segue uma linha reta, ainda que exista uma peculiaridade no que se refere ao ritmo das ações intermináveis de idas e vindas de seu protagonista.

? Existe aqui uma limpeza retórica, montada sobre um aparelho literário extremamente simples, com ausências de intermitências ou desvios, tudo se ajustando ao explícito relato da vida cotidiana do coronel e de sua esposa. Esse anônimo coronel e veterano da última guerra civil, segundo a narrativa, que vivencia um complexo abandono do Estado e leva vinte cinco anos de sua vida confiando que um dia receberá uma notificação oficial com a pensão que lhe seria concedida por causa de seu trabalho junto ao exército militar. Ele proclama sentenciosamente: ?Nunca é tarde para nada?.

? O romance não é extenso. O narrador é extremamente sucinto preenchendo a sequência dos fatos e espaços com uma linguagem sóbria e objetiva, abrindo-se muito pouco para comentários de qualquer ordem e limitando-se apenas a observar os passos do protagonista. Os rompantes emocionais se darão vez ou outra apenas nas discussões que as personagens engendram e que, por sua vez, serão construídas em diálogos fortes, igualmente breves.

Abocanhado pela miséria, torturado pelo desdém e o esquecimento, o coronel enfrenta cada dia uma penúria desvairada acompanhado de sua mulher, que sofre de asma. O protagonista invalida como pode sua dignidade, sobrevivendo com empréstimos e favores de conhecidos. Ele segue os dias vendendo tudo o que havia em sua casa, menos um galo velho de briga que pertenceu ao seu falecido filho.

É interessante notar que a Esposa é uma personagem extremamente elementar, singular dentro desse texto garciamarqueana. Ela se recusa a lutar pela pensão do marido junto dele, e consequentemente, a lutar também pela própria sobrevivência. O mundo da impessoalidade, o da espera é o principal elemento que marca essa incrível personagem. Ela vive uma longa espera, e espera de maneira infeliz, sem esperanças de que algo possa mudar como ela verbaliza ?nós estamos apodrecendo vivos?.

?O romance também se encaixa na característica do romance histórico. O herói do romance garciamarqueano é um homem ?mediano, mais ou menos medíocre? de certa inteligência prática, porém não excepcional certa firmeza moral e honestidade que beiram o sacrifício, mas jamais alcançam o nível de uma paixão humana arrebatadora.

A humanidade do Coronel se constrói a partir de todo o processo histórico que forjou sua ética de honra e dever: a experiência da guerra e a longa espera do cumprimento do Tratado de Neerlândia. Ele é um personagem de seu próprio tempo e espaço! A espera, a solidão e o vislumbramento de um futuro glorioso que nunca chega.

? A perspectiva fantástica que encontro nesse romance se dá pelo tom regionalista da história, e transfiguram pelo acatamento de elementos não realistas, que beiram o absurdo, colocando a fantasia presente na solidão e no pagamento da aposentadoria do coronel reformado. Essa espera que nunca finda, traz o vazio, a vida desprovida de significado, o que a meu ver, é uma forma alegórica de violência sobre a vida do homem. Todos os personagens do livro são atores de uma violência institucionalizada pela ausência ou indiferença do Estado, algo que se prolonga já há tanto tempo que entrou para a rotina do povoado e se transformou em um hábito.

? Devo-lhes dizer que esse romance traz concepções de representação da vida real e do significado concreto, histórico, dos fatos, por isso também o considero um romance de realismo histórico, por despertar uma sensibilidade para a História da Colômbia. O autor nos entrega uma obra realista figurada na experiência particular do Coronel, da esposa, do povoado, como um todo, mas expressa, concomitantemente, uma universalização justamente pela humanização de suas personagens inseridas em uma época de crise envolta de um sentimento de desintegração social.

?Costumo falar que a solidão é o tema mais importante das obras do autor, aqui também apresenta perfeitamente o abandono transcendental do homem, o sentimento de orfandade, e ganha às dimensões de um romance histórico grave e austero ao envolver, em poucas páginas, momentos que repercutem na vida social, política e individual de toda a humanidade.
comentários(0)comente



Rosangela Max 21/09/2023

Uma triste espera pelo reconhecimento.
?É a mesma história de sempre. Nós entramos com a fome para que os outros comam.?

Gostei muito do casal protagonista. Sofredores, provaram ser verdadeiros companheiros nos momentos de tristeza, amargura e miséria.
É incrível como o autor consegue criar bons personagens e histórias, mesmo elas sendo tão curtas. Adoraria que esta fosse maior, pois achei que o Coronel tinha mais a nos mostrar.
A escrita é poderosa! Simples, mas cheia de significado. Não é a toa que Gabriel Garcia Marquez seja um dos meus autores favoritos.
Recomendo a leitura.
comentários(0)comente



Fabio Shiva 10/03/2020

Literatura para curar as dores da vida
Este livro é um luminoso testemunho do poder da Literatura. Segunda (ou terceira, segundo a Wikipédia) obra de García Márquez, foi escrita em 1957, quando o autor, aos 29 anos, trabalhava como jornalista em Paris. Gabo enfrentava nessa época uma depressão causada pela nostalgia de sua Colômbia natal, agravada por sérias dificuldades financeiras.

Não é preciso saber desses detalhes biográficos do autor para considerar “Ninguém Escreve ao Coronel” uma pequena e concisa joia da literatura mundial. Ter em mente o contexto no qual a obra foi escrita, contudo, só faz aumentar nossa admiração pelo grande talento de García Márquez e, sobretudo, pela capacidade que a Literatura tem de ressignificar as dores da vida.

Pois o Coronel da narrativa, assim como o seu criador, enfrenta sérias penúrias financeiras e afetivas. Ele divide com a esposa asmática as angústias de um futuro cada vez mais incerto e sombrio, à espera da pensão prometida pelo governo há anos e que nunca chega. Na casa esvaziada dos bens, que foram vendidos um a um, só lhes resta um último tesouro: o galo de rinha, herança do filho morto por um soldado quando divulgava material subversivo.

Por aí já se vê como Gabo transpôs para a fictícia Macondo suas dores muito reais. E o mais belo é ver como ele trata essas dores, com ironia, graça e mesmo ternura! Outro ponto que chama a atenção é justamente a ambientação em Macondo, inclusive com referências a Aureliano Buendia e a episódios que farão parte do colossal romance “Cem Anos de Solidão”, que só seria escrito dez anos depois de “Ninguém Escreve ao Coronel”. Coisa de gênio!

https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2020/03/ninguem-escreve-ao-coronel-gabriel.html


site: https://www.facebook.com/sincronicidio
Marcia 31/12/2020minha estante
Uma das primeiras obras de Garcia Marquez e já incrivelmente bem escrita.


Fabio Shiva 01/01/2021minha estante
Realmente, muito bem escrita! Viva Gabo!




joaoggur 24/03/2024

O galo, o coronel & a resiliência.
Em ?Ninguém escreve ao coronel?, temos uma deliciosa degustação de como seria a literatura de Gabriel Garcia Marquez; escrita em 1957, foi precursora de obras como Cem Anos de Solidão ou Amor nos Tempos do Cólera, e isso não significa que as marcas registradas do autor não estariam presentes.

A relação entre o Coronel e sua esposa é constantemente abalada por causas financeiras; esperando cegamente por uma (possível) pensão do governo, intercala seu tempo entre alimentar seu galo de briga, lamentar a morte de seu filho revolucionário (morto um ano antes, lutando contra a ditadura imposta ao país da história) e checar se alguém o escreveu. Mas, bem, ninguém escreve ao coronel.

Ditaduras latino-americanas; forte teor político; Coronéis, guerrilheiros, patentes; citações, por alto, de uma tal de Macondo e de um tal Aureliano Buendia?, - simplesmente o mais puro suco do que Gabo se tornaria. É impressionante o domínio do autor perante as palavras, como se tivesse um filtro, um tutorial sobre como seria a melhor forma de contar histórias.

Dando humanidade a seus personagens, Garcia Marquez cria uma história sobre uma cega esperança de auxílio estatal, de ascensão financeira; o mais puro retrato do povo latino-americano, que além de ser explorado por mãos do Norte, deve se submeter a Estados totalitários e coniventes com os abismos sociais, - e, mesmo assim, jamais perde suas resiliências.

Sempre é um prazer lê-lo. Recomendo.
Cyntia44 24/03/2024minha estante
Como é prazeroso ler resenhas assim! Adorei!


joaoggur 24/03/2024minha estante
Obrigado, @Cyntia44.




Sar@mago 15/04/2009

Coronéis
Somos todos este coronel de Marquez, esperando as cartas que nunca nos escreveram, as respostas para perguntas que ninguém escutou, o olhar de quem nos pensa invisível, o abraço de quem nos vê como estranhos, o grito de quem não tem tempo de odiar-nos, o passe de quem não nos queria no time, o retrato de quem apenas espera que saiamos do foco, o comentário de quem lê esta resenha com indiferença.
lorerios 21/05/2009minha estante
Resenha estupenda.


larissa dowdney 11/03/2010minha estante
sem dúvida, uma ótima resenha !


Dayanna 18/02/2017minha estante
Uau! Ótima reflexão!


Desativado5 22/08/2022minha estante
À espera de reconhecimento




Isadora1232 26/10/2023

Angustiante desde o título, Ninguém Escreve ao Coronel foi o segundo livro de Gabriel Garcia Marquez. Apesar de não tão forte sua veia fantástica/mágica, já dá para antecipar sua genialidade ao condensar em menos de cem páginas uma bela alegoria sobre a história da América Latina.

Todas as sextas-feiras , no dia reservado para a entrega de correspondências em um pequeno povoado de uma cidade sem nome, um coronel reformado se dirige ao serviço postal na esperança de finamente receber uma carta de aposentadoria pela qual aguarda há mais de 15 anos.

Depois de ter arriscado a vida pelo país, e anos após ter alcançado a alta patente, a espera é basicamente tudo o que lhe restou, ao lado de sua esposa asmática e de um galo de rinha - única herança deixada por seu filho morto pela polícia, acusado de portar papéis subversivos.

Rápido de ler e cortante do início ao fim, a novela é uma excelente escolha pra conhecer a maravilhosa escrita de Gabo, repleta de simbolismo - desde a decadência , o labirinto da burocracia que condena os personagens à miséria, até a insistente esperança de um povo que resiste em ver a beleza da vida.
comentários(0)comente



Cinara... 01/12/2020

"- Diga, o que vamos comer?
O Coronel precisou de setenta e cinco anos - os setenta e cinco anos de sua vida, minuto a minuto - para chegar aquele instante. Sentiu-se puro, explícito, invencível, no momento de responder:
- Merda."

A escrita do Gabo é fenomenal! Consigo sentir todas as coisas que ele descreve!
comentários(0)comente



Nat 03/04/2021

^^ Pilha de Leitura ^^
A carta que o coronel espera é do governo, contendo sua aposentadoria. Mas ninguém lhe escreve, e nisso já se vão 15 anos. Enquanto espera, vive com sua esposa asmática e o galo de rinha (única lembrança do filho falecido). Mas viver talvez seja um exagero, ele sobrevive, com praticamente nenhum recurso. Esse é um livro curto, mas que faz um excelente retrato do descaso com que os governos da América Latina em geral tratam seus idosos.

"– Diga, o que vamos comer? / O Coronel precisou de setenta e cinco anos – os setenta e cinco anos de sua vida, minuto a minuto – para chegar aquele instante. Sentiu-se puro, explícito, invencível, no momento de responder: /– Merda."

Gabo em excelente forma!

site: https://www.youtube.com/c/PilhadeLeituradaNat
comentários(0)comente



Jef 03/05/2022

UMA HISTÓRIA PARA ADENTRAR NA FICÇÃO DE GABO
Texto curtinho e levinho de ler, mas que traz questionamentos pertinentes e atuais nas suas entrelinhas. Repletos de alegorias, trata sobre injustiça, impunidade, ditadura e esperança.
comentários(0)comente



Amanda.Andrade 11/05/2021

Livro rápido e fluido. Tive problemas no início por não me conectar a história, mas depois me coloquei na pele do coronel e que situação triste. Escrito há anos, mas muito atual.
leiturasdabiaprado 11/05/2021minha estante
Retrata o abandono, um governo que não reconhece, a fome, a dor da incerteza e a eterna esperança de reconhecimento! Triste!




Fábio Nogueira 19/10/2020

Gabo forever
Sabendo da situação em que se encontrava Gabo quando escreveu este livro, podemos entendê-lo melhor. Será que a carta vai chegar?
comentários(0)comente



spoiler visualizar
comentários(0)comente



Gabrielle 01/11/2022

Ninguém escreve ao coronel
Não é um livro triste, nem feliz, mas um livro que proporciona reflexões acerca dos paradoxos e paradigmas de sociedades que buscam por ideais políticos.

Um coronel vive na miséria com sua esposa e um galo de briga, a quem prioriza dar de comer, pelo potencial retorno financeiro que ele pode dar. É um casal que perdeu o filho, que deixou apenas o galo a eles. Além disso, o coronel vai ao correio todo os dias para ver se recebeu uma carta que espera há mais de 15 anos, que lhe dará sua aposentadoria de direito, por ter servido na guerra. Entretanto, a carta nunca chega.

Foi meu primeiro contato com o autor, visando conhecer a escrita dele para que eu possa me preparar para ler Cem Anos de Solidão.

Recomendo.
Rebeka 01/11/2022minha estante
Esse eu ainda não li, mas está na minha lista. Ainda procurando um livro de Gabriel Garcia Marquez que eu não vou gostar ?




Michele 16/12/2021

"Ilusão não mata fome, mas alimenta."
Mesmo em poucas páginas, Gabo consegue ambientar muito bem suas histórias e transmitir com facilidade toda a melancolia vivida pelas personagens. Terminei a leitura sentindo grande indignação e pesar pela eterna (e inocente) espera por dias melhores.
comentários(0)comente



260 encontrados | exibindo 1 a 16
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 |


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR