A vida e as extraordinárias aventuras do soldado Ivan Tchônkin

A vida e as extraordinárias aventuras do soldado Ivan Tchônkin Vladímir Voinóvitch



Resenhas - A vida e as extraordinárias aventuras do soldado Ivan Tchônkin


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Márcia Regina 04/09/2009

“A vida e as extraordinárias aventuras do soldado Ivan Tchônkin”

O livro é gostoso. A linguagem é fácil, lembra as leituras efetuadas em voz alta. É linear, direto, conta uma história divertida sobre as confusões e peripécias nas quais o personagem principal se vê envolvido. Inclusive, pensei muito no texto como perfeito para um livro falado.

O retrato que Voinóvitch pinta da extinta União Soviética em um período específico da Segunda Guerra Mundial (o rompimento com os alemães) é extremamente mordaz, irônico, ridicularizando uma sociedade embasada na burocracia e na “lavagem cerebral”.

Não é difícil imaginar as dificuldades enfrentadas pelo autor na época. E penso que essas dificuldades, nas devidas proporções, também estariam presentes hoje, caso ele retratasse com tanto sarcasmo a igreja ou mesmo a estrutura da sociedade capitalista. Basta lembrar os filmes mais atuais, “Je vous salue Marie” e “Paixão de Cristo”. Ou, da mesma época da história, o macartismo.
A repressão do pensamento e a tentativa de limitar a capacidade individual e coletiva de raciocínio (por meio de ações de coerção – diretas, opressivas – ou de cooptação – indiretas, de cunho cultural) criam fatos e personagens singulares e caricatos. Mas caricaturas extremamente reais, pois, se pensarmos um pouco e adaptarmos algumas situações, em vários momentos somos capazes de nos reconhecer.
O riso soa fácil e, ao mesmo tempo, contém em sua essência a dor das limitações. Lembro dos bobos da corte. Quem ria de quem?

Sensações "tolas" que me invadiram na leitura:
a) como nos vendemos, todos, de uma ou de outra forma, durante a vida;
b) como nunca nos vendemos plenamente. Se vender já é fazer opções. Além da superfície, temos nossa reserva liberdade, aquela área do pensamento que ninguém controla, que muitas vezes só conhecemos em momentos de situação limite, nos quais, não raro, ficamos assombrados com nossa própria força;
c) como, em algum momento, escolhemos uma “verdade” e a seguimos, independentemente do ambiente externo. Ivan escolheu defender o avião, manter o seu posto, sendo herói ou traidor, o ambiente mudou, ele não;
c) como somos ridículos;
d) como somos heróis.

Resumindo: o ser humano é uma bagunça engraçada, complexa e fascinante.

Recado final:
Na minha cidade tem um viaduto enorme, puro concreto, com uma pequena rachadura em um dos lados. Ali, de alguma forma, se acumulou terra. E para essa rachadura mínima, com uma terra mínima, o vento carregou uma semente. Temos uma samambaia linda lá agora, insistindo em permanecer, num lugar onde ninguém alcança, seja para dar água, seja para arrancar a muda.

O pensamento deve ser algo assim. Parece todo concretado, moldado pela sociedade onde vivemos. Firme. Perfeitamente encadeado. Mas um fato novo, uma ato falho, uma brechinha, uma mínima brecha e...
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