Barroco Tropical

Barroco Tropical José Eduardo Agualusa




Resenhas - Barroco Tropical


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Claire Scorzi 31/05/2010

Surrealismo com excesso de páginas
Um universo pontuado de personagens e situações surrealistas. Uma narrativa que vai pra frente e para trás, continuamente, enquanto os protagonistas alternam suas vozes para nos falar de dor, de medo, de esperança, de amor, de desequilíbrio; de traições e ditadura. De perdas. E de arte, música, literatura, sociedade - tudo isso em relação a Angola.
O romance tem passagens deliciosas que me vi lendo em voz alta; certos diálogos servem para discutir ideologias e contrapor tradição/ inovação, verdade/ mentira...
Há momentos em que acabei rindo - apesar do assunto, com freqüência trágico. E trágicos são quase todos os personagens: um verdadeiro desfile de figuras sofridas.
E contudo, Agualusa continua me parecendo um otimista, uma 'persona' luminosa por trás de seus personagens; sua visão, o gosto que deixa após a leitura, não se modifica: não se olha a História com desespero ou rancor, não que eu perceba; o sofrimento nunca é capaz de obliterar a simples vida, com todas as suas contradições.
Mas reconheço que este "Barroco Tropical" - que a certa altura me fez lembrar até de filmes de Woody Allen, e isto é elogio! - tem páginas em excesso; se Agualusa tivesse narrado sua trama em 244 páginas ao invés de 344, poderia ser melhor. Há humor, e absurdo, e crítica idelógica que felizmente (e isso é mérito constante do autor) não soa clichê e nem irritante.
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Felipe 31/08/2016

O Realismo Fantástico e Líquido
Angualusa compôs esta história com o efeito de uma sinfonia. A alternância de cenários destoantes e vívidos manipulam a intensidade de um efeito-de-se-estar-sonhando. O resultado é um realismo fantástico que oscila como uma onda musical, enquanto o chão se liquefaz ou se endurece. O enredo, denso e complexo, está presente em cada cena, embora às vezes seja ofuscado pelo efeito da cena em si. Mas isso não é um demérito para a obra, mas sim uma de suas maiores forças.
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Paula 10/08/2010

O caos da humanidade, traduzido em fantasia
Barroco Tropical, último romance do escritor angolano José Eduardo Agualusa, é uma fantasia que sustenta inquestionável credibilidade, ao se propor revelar as mazelas da sociedade de Luanda (Angola), no ano de 2020, quando se passa a narrativa. Não fala de fome, de déficit na rede pública de saúde, da má qualidade da educação oferecida pelo Estado – um caos já muito esclarecido nos tempos de hoje. Seu objeto de reflexão são as fraquezas humanas, no centro das quais está o Medo, que permite consolidarem-se a violência, a corrupção, a traição, os assassinatos e o interesse instintivo do homem por acontecimentos místicos que lhe traem o raciocínio lógico.
A narrativa – que se divide entre África, Europa e América – tem seu ponto de partida na queda inusitada de uma mulher. Caindo do céu, estatela-se no chão, e os únicos a presenciarem a cena são o escritor Bartolomeu Falcato e sua amante, a famosa cantora Kianda. Como testemunhas desse acontecimento, que norteia uma linha narrativa de inúmeras histórias paralelas, essas duas personagens principais revezam o posto de narrador, imprimindo à história dois pontos de vista que ora se completam, ora se desmentem.
Bartolomeu já sofreu muito. Culpava-se cruelmente pela morte de sua filha de três anos, vivia sem rumo nem objetivo, era incapaz de consolar a esposa, até que resgata o sentido da sua vida ao se apaixonar por Kianda. Sua vida, atribulada, é peça-chave de todos os outros acontecimentos do livro.
Kianda, a cantora, é completa. Muito além de amante, coleciona imoralidades como o vício em consumismo, cocaína, álcool e calmantes. Abriga, no entanto, uma alma bondosa, de cuja luz ela tem plena consciência (Na minha morte arrastarei comigo, para dentro do meu próprio abismo, tudo o que me rodeia, inclusive a luz). Foi capaz de esclarecer, com a mais brilhante exposição, a diferença entre a alegria (resultado de um entorpecimento do espírito) e a felicidade (uma iluminação momentânea), uma das tantas partes poéticas de que o livro é composto.
Completando a complexa rede de personagens, cujas apresentações acontecem didaticamente em dois capítulos a elas dedicados (um para as personagens principais e outra para as secundárias), há o Rato Mickey, ex-sapador que usa uma máscara para ocultar seu rosto desfigurado pela explosão de uma mina; Tata Ambroise, curandeiro metido a psiquiatra que toma conta de um labiríntico manicômio que abriga loucos e presos políticos; Mãe Mocinha, ialorixá baiana que sabe de tudo que se passa na vida das personagens sem que se explique quem lhe informa; e a ex-Miss Angola, Núbia de Matos, que – embora morra logo no primeiro capítulo – permeia toda a narrativa, com a instigante história de quem convivera com grandes políticos e empresários e que, perto do fim de sua vida, afirma ter recebido a revelação de que é Virgem Maria e, para dar à luz o Salvador, precisa relacionar-se com José – Bartolomeu, segundo a revelação.
Participam da trama também poetas, empresários, estilistas, jornalistas e políticos, cada um detentor de uma história que, por si só, já justificaria um enredo próprio.
Todos esses caracteres fundem-se, fantasticamente, em uma trama que, ao mesmo tempo em que investiga a morte da ex-Miss, tenta decifrar a existência e o paradeiro de um místico anjo negro.
Com parágrafos longos e capítulos curtos, falta fôlego à leitura, na medida em que o leitor, envolvido em tantas micro-histórias, vê-se obrigado a retomar capítulos passados para relembrar a descrição de um ou outro personagem. Esta é uma das vantagens da literatura em relação à vida: podemos sempre voltar ao princípio, como afirma o autor.
Comentários de Agualusa, aliás, não faltam. Dando voz ao autor, o escritor ficcional Bartolomeu Falcato abusa de comentários quase didáticos, que aproximam o leitor à construção da trama, evidenciando a escolha de certos termos pouco usuais, explicação de outros e diálogos íntimos com o leitor, como se Agualusa – ou melhor, Bartolomeu – interrompesse a narrativa para avaliar a aprovação do leitor.
Por tudo isso, Barroco Tropical, definido pelo próprio Agualusa como uma distopia e o mais exuberante dos sete romances já escritos por ele, é um alerta à sociedade: não só de Angola, posto que o aviso é útil a qualquer homem que algum dia já tenha se visto tentado – quer por amor, por medo ou por ambos – a degenerar-se na corrupção, na traição ou na dor.
É esse reconhecimento catártico do leitor em relação à trama dos sentimentos que dota essa fantasia de tamanha credibilidade. Afinal, só ouve o alerta de Agualusa o leitor que estiver suficientemente aberto a refletir sobre suas fraquezas, aprendendo que, ao se deixar corromper-se pelo medo, sofre o inevitável castigo da solidão.
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Aguinaldo 08/02/2011

barroco tropical
Não gostei deste livro. Todavia gostei de uma coincidência, que só os livros sabem trazer: terminei de lê-lo exatamente um ano após Agualusa terminar de escrevê-lo, eu em um 19/02 na quente Santa Maria, ele em um 19/02 na fria Amsterdam, onde passou uma temporada como escritor-bolsista residente. Talvez por conta disto (do fato do livro ter sido em parte escrito na Holanda) eu sinta algo nele que faz-me lembrar coisas do Cees Nooteboom, um holandês que eu gosto de ler (lembrei particularmente do artifício das asas, dos anjos, da queda, utilizado por Nooteboom no "Paraíso perdido"). Bueno. Agualusa conta em "Barroco tropical" os sucessos de um triângulo amoroso. Vários personagens tem voz e contam como um sujeito (Bartolomeu, o narrador principal) se envolve aos poucos, mas intensamente, com uma cantora angolana muito famosa. Há encontros e desencontros nos passados dele, da cantora, de sua mulher, seu sogro, dos amigos em comum e principalmente desencontros com uma outra moça (ex-Miss Angola e relacionada com os poderosos do país) que num surto psicótico acreditava ser "Maria, mãe de Jesus" e pretendia seduzir Bartolomeu. Agualusa utiliza as tramas amorosas para descrever um tanto da história recente de Angola, sua independência, sua guerra civil, a ascensão de uma elite governante contraditória, patética e venal (como costuma acontecer em todos os lugares desgraçados deste mundo). Gostei da descrição das línguas de Angola e dos paralelos entre o sincretismo angolano e brasileiro, e também do trecho onde ele fala da influência das novelas brasileiras na linguagem utilizada pela população angolana. Todavia o livro tem muitas bobagens que me irritam: umas obviedades bestas de almanaque antigo (ou típicos de revistas femininas modernas) espalhadas pelo texto; um epílogo que acho desnecessário, que explica demais, que se justifica demais; uma seção de esclarecimentos onde Agualusa parece se prevenir de um eventual processo judicial, ainda mais patético que o epílogo. Preciso ler algo mais dele (pois gostei bastante do romance "As mulheres de meu pai" e do livro de contos "Manual prático de levitação"). Veremos. [início 12/02/2010 - fim 19/02/2010]
"Barroco tropical", José Eduardo Agualusa, editora Companhia das Letras, 1a. edição (2009), brochura 14x21 cm, 344 págs. ISBN: 978-85-359-1569-3
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fev 13/01/2021

Eu, sinceramente, não sei o que pensar desse livro. A real é que estou bastante surpreso com a forma da sua construção, a forma de narrar. É um livro ousado nessa estrutura. É também uma obra extremamente política.

Agualusa tenta mostrar a história de Angola por meio da vida de um escritor e de uma cantora. O livro me pegou em um primeiro momento, mas várias vezes durante a leitura me senti perdido. Talvez o vai e volta na história e o elementos abstratos presentes no enredo tenha dificultado ou desviado a minha atenção.

Não é um livro ruim. Longe disso, mas queria ter me conectado mais. Recomendo para ir além das histórias do eixo EUA-Europa.
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