Ayla Cedraz 22/12/2016
em palavras simples, uma longa história
Sempre quis ler J.D. Salinger; mais precisamente, O Apanhador no Campo de Centeio, pelos motivos esperados; John Lennon, coisa e tal. Li. Com uns doze ou treze anos. Li ansiosa, fascinada, esperando por trechos em que eu diria: "ooooh, john lennon, coisa e tal". Não foi bem assim. Eu adorei o livro, devo dizer. Adorei toda a história, adorei como o Salinger escreveu, e nunca esqueci da imagem do Holden levando a irmã caçula no carrossel. Quero reler, inclusive, assim que puder. Porque adoro reler; principalmente livros que me deixaram imagens, como essa, marcadas na memória. Assim eu posso recapitular o contexto da imagem, reconhecê-la, entendê-la de outro modo, com os novos olhos que o tempo me deu. A coisa toda do Lennon, no fim, ficou esquecida.
Li Carpinteiros, levantem bem alto a cumeeira e Seymour: uma apresentação quase que às cegas, apenas com essa memória desbotada de O Apanhador... A primeira parte, que é um conto de umas 80 páginas, é sobre o dia do que deveria ser o casamento de Seymour, narrado por seu irmão mais novo, personagem este que parece ser uma espécie de alter ego de Salinger. A história inteira resume-se a Buddy, o narrador-personagem, atravessando a cidade num carro cheio de convidados (figuras únicas) do não ocorrido casamento. É um conto engraçado, cheio de personagens interessantes; o jeito de escrever do autor, que me prendeu em O Apanhador..., se manteve constante na narrativa.
A segunda parte, um pouco mais longa, é uma extensa conversa entre um escritor (Buddy) e um leitor (eu ou você, quem quer que esteja lendo) acerca de alguns fatos sobre Seymour. A profunda análise de Buddy sobre seu irmão chega a ser emocionante, às vezes, o que deve ser natural, já que Seymour, aos trinta e um anos, suicidou-se com um tiro na têmpora direita. Esse nome, um tanto incomum, pronuncia-se mais ou menos como "see more", em inglês, e isso ajudará tudo a fazer sentido. Ele, inclusive, me lembrou alguns traços do que eu guardara de Holden, relação que em algum momento chega a ser mencionada.
Creio que quem leu esse livro, não deixou de procurar loucamente pelo conto de Salinger Um dia ideal para os peixes-banana, em que o suicídio de Seymour é narrado. Foi a primeira coisa que fiz. O conto é um tanto misterioso, acho. Um tanto interessante, certeza. Devo reler amanhã ou depois, na esperança de algo novo.